03 novembro 2007

O FUTEBOL E A VIDA(ou a política)


Veja só como fica difícil querer escrever sobre futebol depois que se lê um texto de Eduardo Galeano como este que publico aqui em baixo. Os clássicos das palavras sobrevivem para sempre assim como os do futebol, e este de 1995 bem que poderia ter sido escrito hoje, ou talvez semana que vem, sem que se perdesse alguma capacidade de explicar a "rodada". Eduardo Galeano, disse em seu livro "Futebol ao sol e sombra", que o futebol é a metáfora da vida, capaz de explicar ou refletir a sociedade em que vivemos. Se o texto de Galeano não se chamasse "futebol", bem poderia se chamar "política", pois o autor revela em essência, o tipo de crise que vivemos em nossas instituições, onde o mundo se torna mercadoria e os meios de comunicação de massa não passam de vitrines.Atentar em boa hora para que possamos mudar a forma de ver o mundo e parar de reproduzir os valores que se perpetuam, é tarefa das mais urgentes para quem se preocupa em modificar as relações humanas, para que elas não se submetam ao "olhar" mercadológico dos donos do poder.Por isso resolvi compartilhar o texto com vocês, para que se regozijem com o valor estético deste extraordinário pensador das relações humanas , mas também ,para que possamos nos servir destes instrumentos para relativizar, e muito, o que se fala na imprensa oficial , que com o tom professoral e científico, quer nos tentar dizer que o mundo e a existência humana, não passam de mera porcaria.
O FUTEBOL

A história do futebol é uma triste viagem do prazer ao dever. Ao mesmo tempo em que o esporte se tornou indústria, foi desterrando a beleza que nasce da alegria de jogar só pelo prazer de jogar.Neste mundo de fim de século(XX), o futebol profissional condena o que é inútil , e é inútil o que não é rentável. Ninguém ganha nada com essa loucura que faz com que o homem seja menino por um momento, jogando como menino que brinca com o balão de gás e como o gato brinca com o novelo de lã:bailarino que dança com uma bola leve como o balão que sobe ao ar e o novelo que roda, jogando sem saber que joga, sem motivo, sem relógio e sem juíz.
O jogo se transformou em espetáculo, com poucos protagonistas e muitos espectadores, futebol para olhar, e o espetáculo se transformou num dos negócios mais lucrativos do mundo, que não é organizado para ser jogado, mas para impedir que se jogue.. A tecnocracia do esporte profissional foi impondo um futebol de pura velocidade e muita força, que renuncia à alegria, atrofia a fantasia e proíbe a ousadia.
Por sorte ainda aparece nos campos, embora muito de vez em quando, algum atrevido que sai do roteiro e comete o disparate de driblar o time adversário inteirinho, além do juiz e do público das arquibancadas, pelo puro prazer do corpo que se lança na proibida aventura da liberdade.