18 dezembro 2012

Para onde vamos?


                                                                  Antônio Gramsci



Não me convencerão de que um partido socialista pode abandonar seu programa para construir alianças a torto e à direita ,com qualquer  agremiação que represente interesses da classe dominante.

Não!A reinvenção do socialismo do século XXI não passa pelo abandono dos princípios que norteiam a ética socialista,a independência de classe e a geração da consciência  dos explorados e humildes.

O PSOL,ou uma parte dele, precisa repensar suas atuações.Um programa não pode ser violentado ao primeiro aventureiro com o espaço na mídia ou densidade eleitoral.A mudança que desejamos não pode esquecer que o projeto socialista depende de lisura nos atos,pois ainda falamos para poucos,mais somos ouvidos, e que não somos somente um espectro,somos a alternativa real ao descabido e absurdo capitalismo.

A nossa utopia não pode se tornar algo confuso aos que necessitam crer em um paraíso construído por todos,com a força da consciência de cada trabalhador e marginalizado.

Não!Se o PSOL realmente quiser ser essa ferramenta de transformação,não poderá ceder aos encantos da sereia institucional,à institucionalidade pura e simples que leva ao governo,mas não leva ao poder.Precisamos pensar nisso,a chegada ao governo não leva necessariamente a chegada ao poder.E se a hegemonia deve ser construída em todos os espaços, sem a doença infantil do esquerdismo,também não poderá se realizar sem que a História esteja nas mãos,balizando os erros do passado,comprometendo as massas,atualmente amorfas,para o destino inexorável da sociedade sem explorados e exploradores.

Um partido se constrói como alternativa de fato a partir de um programa claro,sem malabarismos e justificativas toscas de atuação meramente parlamentar.Kaustky foi enterrado.A frente de esquerda deve ser um dos horizontes a ser construído,pois não queremos a liberdade e diversidade no socialismo?Submeter o partido aos interesses de setores dominantes,por mais progressistas que sejam,só irá apontar o futuro para o que estamos vendo acontecer com o PT.Se virem apoios do lado de lá ,que venham com todo prazer,mas sem que o programa seja rebaixado,sem que nos deixem de cócoras,acreditando que seja possível mudanças substanciais  e verdadeiras sem que sejamos honestos com a pureza de nossa utopia.

Queremos um partido de massas que vá além dos guetos.Ou qual será a diferença entre um partido de quadros e um partido de quadros parlamentares?Nenhuma aliança com os setores burgueses,nem tática,nem estratégica.Eles estão superados  pelo menos por 300 anos e buscam sua sobrevivência anulando a força dos movimentos sociais ,suas reivindicações imediatas e suas utopias.

O caminho já foi posto pela vitoriosa campanha de Freixo.Sigamos sem abandonar o que queremos,sem deixar de percebermos os ritmos de entendimento das maiorias ,mas sem as ilusões de que a democracia liberal e parlamentar é o fim.Ela pode ser nossa,desde que saibamos conduzir  e pavimentar os caminhos,tendo sempre em mente o socialismo,sem gosmas autoritárias.Socialismo e liberdade,mas não a liberdade do fazer o que bem entender,sem que estejam norteadas nossas ações pelo programa partidário.A liberdade estará presente em todas as ações que desamarrem as correntes políticas,econômicas e culturais.Superado camaradas,é o capitalismo.

16 dezembro 2012

Dormir com Suassuna para acordar edificado.





Eu quero minha cultura no solo nordestino.Quero ser "Chicó" e "João Grilo" para ser universal e imortal.Quero minha língua roçando a língua de Suassuna.

Jorremos o Barroco e o Simbolismo de Ariano para sermos realmente modernos.Fica entre a caricatura aristocrata e a cultura popular,mas somos sugados pela indústria de massa gagá.

Bom,"ao redor do abismo tudo é beira" e estamos prestes a sucumbir ao poço."Precisamos nos enxergar" ou se não,"aceitem meus pêsames."

Armorial,do piso da crônica popular ao original erudito brasileiro,da raiz nobre aos frutos da unidade na diversidade.

Se não fossemos bonecos manipulados do circo do entretenimento,seriamos mamulengos,autênticos artistas da expressão mais leal da cara popular,do circo da originalidade.

Nas câmeras do jogo do Sport de Recife eu vi o artista popular puindo suas vestes "nobres" na arquibancada das torcidas,e aí pensei,quem são estes que circulam suas lindas faces se apresentando como artistas em seus limites caricaturais?

Osculemos a riqueza do povo pelas mãos do Ariano,na mais pura alegoria do universo popular.

Viva o autêntico rebento das raízes, viva a juventude e eternidade de Ariano Suassuna!



08 dezembro 2012

Tire suas mãos de mim,eu não pertenço a você!MANIFESTO DE REPÚDIO À DIMINUIÇÃO DAS CARGAS HORÁRIAS DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NO RJ.




Campanha dos meios de comunicação contra as disciplinas de Filosofia e Sociologia no ensino médio vem encontrando eco em vários governos conservadores deste país.
No RJ o governo Cabral com seu já costumeiro asco à democracia anuncia redução ,pelo segundo ano seguido,da carga horária destas disciplinas na rede estadual do RJ.

Segue este governo corrupto e subserviente às vontades dos grandes proprietários com atos que dão  orgulho as forças conservadoras que seguem em ofensiva na política e educação de seus planos de manutenção da ordem política e social para que possam se manter o maior tempo possível no poder.

Todas as forças políticas que se apropriam do poder institucional buscam sempre como medidas principais tornar a educação a imagem e semelhança do seu projeto político-ideológico.

A educação do RJ agoniza há tempos sob o comando de um secretário de educação que tem como objetivos principais, forjar números para fugir da situação humilhante que o estado do RJ que se encontra, em penúltimo lugar no Brasil no ranking de qualidade e economizar recursos no que ele chama de gastos em educação.Comparativamente ao PIB do estado,os professores do RJ tem uma das piores remunerações do mundo.

Em seu segundo mandato como governador,envolto em inúmeras acusações de corrupção , má utilização do dinheiro público e priorização de grandes obras em detrimento da saúde e da educação,Cabral tenta mais uma vez desferir seu ódio a todas as organizações que condenam seus atos em favor dos poderosos e da manutenção do “Status Quo” reinante.

O governo de Cabral fechou cinquenta escolas noturnas no RJ,leva a frente seu ato inescrupuloso de derrubar museu e escola para a construção de um estacionamento(emblema maior de seu governo),não cumpriu as promessas aos professores em sua primeira campanha de valorização dos profissionais da educação,segue em seu projeto de destruição da escola pública para permitir sua privatização que agora atende por novos nomes como,”parceria público-privada”.

Nada de bom a esperar de um governo que entra para História deste estado como o maior algoz da educação e da saúde,que pratica implacável perseguição e criminalização dos movimentos sociais e do funcionalismo público,que é o que atende diretamente aqueles que mais precisam,dos que mais necessitam de que o poder público cumpra seu dever de atendimento dos direitos básicos e fundamentais nas áreas essenciais da saúde e educação.

Nós educadores do estado do rio de janeiro repudiamos o ato do governador Cabral de diminuição frequente da carga horária das disciplinas de Filosofia e Sociologia,que buscam dentro da escola a projeção da consciência e cidadania plena de estudantes e o necessário projeto de “desnaturalização” e “estranhamento” de um mundo em profunda imersão  do pensamento,para que nos tornemos  livres das correntes autoritárias,que favoreça o florescimento de uma sociedade justa,sem discriminações e sem violência.

                                                       

22 novembro 2012

Bicho homem.


                                       
                                       
                                       
O bicho homem come,
Come
E come.
Engole,
Engasga
Cospe
Chupa.
O outro bicho homem.



 "Canto XXVII: Um diabo lógico"Salvador Dali.


A partir desta publicação teremos como colaboradora a autora deste poema acima, Nina Niró,artista plástica radicada no Rio de Janeiro e aqui neste espaço.

05 novembro 2012

Sociologia,Filosofia,ENEM e a arte de ignorar o futuro.




“A função da escola no século XXI é a de ensinar a ler o mundo.” Paulo Freire

Há algum tempo "Veja" publicou uma tentativa de desmerecer as disciplinas de sociologia e filosofia no ensino médio.Seus argumentos ocultavam interesses conservadores da sociedade brasileira e também atendia às necessidades da bancada das mantenedoras particulares no congresso nacional.

Depois da obrigatoriedade do ensino de Filosofia e Sociologia no ensino médio,boa parte da rede particular ainda resiste a ideia de promover em suas grades as disciplinas escolares.

Não é sem tempo lembrar,que “Veja” desfere ataques recorrentes ao ENEM,que possui problemas na sua concepção e organização,é certo,mas que passou a existir como processo de transição para o fim dos vestibulares,funil social que atende a exclusão necessária paras as classes dominantes brasileiras da autonomia do pensar que pode ser desenvolvida pelo acesso a universidade.Muitos falam sobre como algumas nações tiveram um incrível aumento da produção de riquezas quando investiram de forma maciça em educação.Não vou falar sobre isso,já que no Brasil,crescimento econômico não significa distribuição de renda.

Não vou falar sobre a necessidade de dessacralização das ciências,do atrelamento do conhecimento à técnica e as necessidades do mercado,questões que são de suma importância e que estão escondidas em algum lugar.

Estou falando da necessidade da educação provocar nos dias de hoje na juventude ,o ESTRANHAMENTO e a DESNATURALIZAÇÃO de uma realidade que está oculta e que os currículos escolares contribuem para isso,na medida em que não passam de mera reprodução ideológica daqueles que comandam o poder institucional e econômico.

O capitalismo transformou a educação em mero aparato do mercado,transformou o conhecimento em instrumental técnico para operacionalidade da indústria,vendando consciências a acreditarem que a função da escola é tão somente a de valorizar a mão de obra,para o alcance da mobilidade social.

Em todo o tempo de existência deste sistema,a humanidade pode comemorar o avanço técnico,as tecnologias nos permitem ações fabulosas,e não podemos negar sua importância ,embora este controle total do homem sobre a natureza tenha condenado o futuro do planeta e o acesso à tecnologia na área de saúde não signifique muito para os marginalizados do sistema,que mal conseguem ter uma consulta marcada ou faltam elementos básicos como esparadrapo e gesso.

Mas enquanto as tecnologias florescem e se desenvolvem, se perdeu o sentido da humanidade no conhecimento,onde a escola se transformou em aparelho reprodutor de ciência acumulada historicamente,dispensando o caráter reflexivo e de alargamento das consciências que poderia permitir amplas transformações sociais através do estímulo à cidadania plena,no mínimo.

Vemos que o não funcionamento de uma escola voltada para a superação dos problemas éticos e filosóficos da humanidade,tem nos feito presenciar problemas persistentes,como a fome,doenças tropicais ,a utilização das drogas como meio de superação das frustrações criadas pela indústria cultural e a publicidade do Capital que promete felicidade na quantidade de coisas que se possam comprar e tantos outros problemas objetivos e subjetivos intrínsecos a existência da hegemonia do Capital.

Ao analisarmos uma avaliação pré-universitária como o ENEM,percebemos uma grande quantidade de questões(de 20 a 24 questões de 45 no total)  que pertencem ao universo de discussões das ciências sociais(sociologia) e filosofia e que no entanto não merecem o reconhecimento de grande parte da rede particular e pública do país,que em alguns casos,como na rede pública do estado do RJ,teve sua carga horária diminuída.Na rede particular,muitas escolas ignoram em suas grades a existência das disciplinas sociologia e filosofia.

A minha pergunta agora é, para onde vamos?Na medida em que a principal avaliação do país integra em sua prova boa parte de questões ligadas a estas disciplinas.Será que “Veja” publicará mais ataques para atender interesses dos proprietários de escolas e governos que não veem com bons olhos o despertar das consciências?Será que vão propor uma reforma curricular regressiva e reacionária? Ou será que entenderão que o século XXI exige a reelaboração de todas as instituições,inclusive a escola?Com a palavra ,a sociedade brasileira que,ou avançará ou estará contribuindo para a Barbárie.


31 outubro 2012

Higienistas do século XXI

As remoções de usuários de crack adotadas pela prefeitura do RJ se assemelham às políticas adotadas no século XIX pelos chamados "Higienistas",quando das remoções das "Cabeças de porco" e Cortiços.Também podemos chamar de limpeza étnica,na medida que a preocupação não é com o tratamento do usuário,mas em acalmar os corações da classe média preocupada com ações violentas dos usuários.

A adoção de políticas públicas de saúde é urgente,mas o prefeito só conhece política de repressão.Higienistas e fascistas do século XXI possuem discurso que se passam por bom senso e responsabilidade,mas em essência não passam de acordes repetidos da sinfonia neoliberal na sua sanha por controle social e ordem.Lembro-me de Habermas que dizia que o "fascismo é o liberalismo que perdeu seus escrúpulos."

15 outubro 2012

A SALA DE AULA VAZIA





Alguma coisa me atraiu à sala na visita feita à instituição de ensino.

A percepção primeira foi a de paz, mas acolhido pelo silêncio sepulcral, este me fez senti-lo em forma de agonia.

Não havia o sorriso farto e abundante. Não  havia o “tapa amigo” no amigo adormecido.
Não havia a carícia dos neo-namorados, nem a manipulação “escondida” de bugigangas eletrônicas.

Não havia o debate acalorado sobre o tema premente.

Não percebia alegremente o despertar do interesse, pré-requisito  para o amanhecer da consciência.Questionamento e rebeldia  não se sentira.

Não estavam presentes os olhos jovens transbordando brilho,esguichando hormônios e tempestades em copos de água,nocauteados pela velha “notícia” da fome no mundo.

Não havia a sensibilidade quanto a um dia não tão bom do professor.

Não,a sala era esqueleto morto,sem sentido,sem projetos,sem sonhos ou alegrias.Alegrias em excesso que muitas vezes se assemelham a anomia completa,hoje faz falta.

De olhos bem fechados senti que a sala de aula parecia fazer uma prece, pedindo aos céus o retorno do que lhe fazia existir como tal. Ela, a sala de aula,pereceria sem os tais que lhe habitam o ano inteiro.Não importaria se aqueles que ali frequentassem estivessem com a mente na praia,futebol,namorados ou férias.

Percebi que os desejava de volta o mais rápido quanto pudessem. Cada grupo que ali passava deixava uma marca única,caráter coletivo único,personalidade original.Nenhuma turma se assemelha a outra,por mais semelhanças que houver.E cada marca deixada é como carimbo permanente marcado em toda nossa vida.

Senti-me solidário com a tristeza daquelas paredes e carteiras,me senti  vazio como elas.Ainda que saiba que não é preciso estar em uma sala de aula para se tornar um educador,e que estamos ali aprendendo muito mais do que ensinando,entre aquelas paredes em espaços os mais diferentes possíveis,podemos dizer que não há vida onde a educação não esteja presente.

Entre aquelas paredes,eu e aquelas salas  nos sentimos mais vivos do que em qualquer outro espaço e carregamos juntos todos os dias, o significado do mundo.  

29 setembro 2012

EPIFANIA.




Por Laís Fernandes

Amanhecendo
Ouço a sirene tocar.
Hora da escola!Hora da escola!
Reviro-me na cama.
Não querendo sair de meus sonhos...Minha eterna fuga da realidade.
O despertador toca, toca e toca de novo.
Levante e viva!Levante e viva!
Quebro o despertador.
Ignorância!Ignorância!
Alienação!Alienação!
Então, minha consciência grita, alertando incessantemente.
Viva!Viva!
Levanto-me.

A consciência me convence de que o conhecimento irá preencher o vazio de minha alma e me dar uma meta a atingir.

Ando pela rua, vejo os carros e as pessoas passando com suas mentes vazias de reflexões e repletas de todo tipo de futilidade e ignorância proporcionada pela sociedade e pela mídia.E claro, o desejo de consumir!
E nós, infelizmente, somos todos transeuntes neste mundo.
Porém, essa não é uma condição eterna.Podemos, a qualquer momento, ter uma epifania e eles, os que detém o poder, sabem disso.
Por isso, nos bombardeiam de informações que não conseguimos absorver totalmente e muito menos, refletir sobre elas.

Querem sempre nos manipular e nos moldar.Homogeneizar nossas vidas em prol do capitalismo desenfreado e selvagem, que devora nossas almas e esvazia nossas mentes.
Devemos ouvir o alerta.
Devemos levantar do sono profundo de nossa reflexão, que é sempre asfixiada pela nossa alienação.
Devemos buscar o conhecimento de forma humana e não mecânica.
Devemos todos pensar, refletir sobre tudo que ocorre em nossas vidas e na sociedade e não apenas ignorar frequentemente nossa liberdade de viver.

A autora é estudante do último ano do ensino médio no Rio de janeiro.

18 julho 2012

Dos "higienistas" à Cidade Partida de Paes e Cabral.



A especulação imobiliária é o que motiva o projeto das UPPs.Um projeto de cidade,que originalmente foi planejado para a valorização dos imóveis da zona sul do RJ,atendendo às expectativas dos poderosos especuladores,donos de imóveis e empreiteiros.

Este projeto de cidade patrocinado por Cabral e Paes resgata historicamente o processo de periferização e expulsão dos pobres ao redor das áreas mais nobres da cidade do RJ, que existe desde o século XIX,primeiro com os "Higienistas",que da mesma forma acabaram com as "cabeças de porco" e cortiços ,passando pelo "Bota abaixo" de Pereira Passos  e tantas outras intervenções que culminaram na década de 90 com propostas de cercamento das favelas com muros e intervenções de César Maia(criador do atual prefeito) e Conde.

São os "Donos do Poder" e seus intuitos de fazer do Estado um mero balcão de negócios para atender aos interesses privados,o Estado como antessala dos vampiros do dinheiro público, enquanto seres humanos morrem nos hospitais-abatedouros (Segundo o governo federal o RJ tem o pior atendimento público em saúde do Brasil) e as escolas servem somente como depósitos de crianças e adolescentes,apesar dos esforços de servidores públicos com atividades precarizadas e salários aviltados.

São as ”remoções brancas”,onde não chegaram,apesar das promessas, as UPPs sociais e investimentos em saneamento,urbanização,transportes,educação e saúde.A "Cidade partida" de Zuenir Ventura ou os Brasis(Brasil-Bélgica e Brasil-Índia) de Edmar Bacha não foram superados.

É preciso dar um basta a esta camarilha de ladrões,bonecos dos grandes proprietários.

04 julho 2012

Educação pública sucateada e o fim do vestibular.

O Governo do PT/PMDB ignora o maior movimento de greve nas universidades brasileiras.

O sucateamento da educação pública é patente e por outro lado,continua o processo de financiamento ,com dinheiro público das universidades privadas através do prouni.Não sou contra que alunos pobres ingressem à universidade por esse tipo de mecanismo,pelo contrário,no entanto,o que deveria ser política provisória de inclusão acaba se tornando orgia do dinheiro público à empresas privadas.Existem universidades particulares que sobrevivem basicamente com os recursos do Estado brasileiro.

Recursos grandiosos deveriam ser destinados à universidade pública,ampliando vagas até que se chegasse à universalização do acesso a partir do critério de notas durante o processo escolar,com efetivo controle do governo e da sociedade sobre a exigência de qualidade da escola pública e privada,com investimentos maciços na escola básica.A universalização do acesso ao ensino universitário já é feito com sucesso em Cuba,mesmo com o criminoso embargo econômico praticado pelos EUA,que gera escassez de dinheiro em um país com poucos recursos naturais.Imagina se não poderia ser feita em uma das maiores economias do planeta,entre os oito maiores produtores de riqueza. 

Vestibular não é um critério de qualidade para aferir conhecimento.Ele identifica o que se torna capaz de ser memorizado,ignorando todas as outras capacidades do ser humano,como a reflexão e a lógica contextualizada ,ignorando a relação que se possa fazer entre o conhecimento historicamente acumulado e a realidade concreta em que vivemos.A abstração prevalece sobre o conhecimento,como se este não tivesse ligação alguma com os sujeitos históricos e seus contextos.É o conhecimento sem mediação com o mundo,estancado das reais necessidades do Homem,atrelado às vontades do mercado.Não podemos esquecer que um currículo escolar não é neutro,ele é construído de acordo com as necessidades das classes sociais que dominam econômica,política e culturalmente uma nação.

Claro que PT/PMDB/PSDB/DEM... não farão isso,não acabariam com a grande fábrica que se tornou o vestibular.Continuará o mercado do vestibular a se locupletar de vultuosas somas em cima do sonho de milhões de jovens que sonham entrar para universidade,através do funil/vestibular,que só existe por não existir seriedade e compromisso de quem governa este país com a educação pública,que se tivesse investimentos, traria  a promoção e alargamento das consciências e o estancamento das correntes do controle social.

20 junho 2012

Belo Monte,Rio+ 20 e o processo civilizatório capitalista.



Belo Monte está inscrito sobre dois aspectos.O primeiro atende ao espectro histórico-cultural de submissão dos povos da floresta,imersos em tradições que não compactuam com o modelo econômico de desenvolvimento.O segundo ponto,se refere ao momento do capitalismo global que necessita de geração de energia para a consolidação da expansão global do Capital.

Não é difícil perceber que o projeto civilizatório do Capital vai de encontro às necessidades dos povos originários,ou da preservação ambiental.

Desde o início das expansões marítimas,os povos originários americanos são um empecilho ao progresso,palavra utilizada a partir do século XIX que expressa os ideais positivistas e evolutivos,que se coloca dentro da perspectiva etnocêntrica.

Guardadas as devidas proporções do tempo histórico,povos ribeirinhos e das florestas não se inserem nas perspectivas atuais de crescimento econômico,ou seja,o padrão civilizatório do Capital deve procurar justificativas para “varrer” os entraves culturais que neguem o avanço do “consenso” hegemônico do pensamento liberal.E o que fazem para justificar este modelo, é afirmar que instalações de usinas gerarão empregos,impostos e um  suposto desenvolvimento social  .

Segundo o movimento “Cúpula dos povos”,que associa defesa da natureza à inclusão social,a “Rio +20” não está credenciada para a defesa do meio ambiente,na medida em que submete a defesa do planeta à lógica do mercado.Há um processo de submissão  do ambientalismo ao mercado financeiro,bem como as decisões políticas(como forma de articulação de vontades e necessidades) estariam submetidas aos desejos de acumulação do Capital sob os mesmos parâmetros estabelecidos nos últimos vinte anos.

Sob a capa da expressão “Economia verde” está o desejo de articular as causas da natureza à acumulação do Capital ,mercantilizando as ações ambientais.As propostas eunucas que permearão o encontro “Rio +20”,são as mesmas que submetem as nações européias em crise,que  estariam divididas entre “desenvolvimentismo e consumismo” contra “austeridade e recessão”,ambas estariam fora das necessidades reais de defesa do planeta atendendo às expectativas dos grandes conglomerados capitalistas.Seria uma falsa polêmica estabelecida como manto que cobre as reais necessidades da defesa da natureza.

Submetido a este debate, que não visa a superação dos problemas em suas raízes,está o governo brasileiro.

O pensamento crítico presente dentro desta mesma ordem levanta a bandeira do desenvolvimento sustentável,que se mostra como mera maquiagem da voraz exploração capitalistal.

“Bárbaros” e” incivilizados”,os povos das florestas e  ribeirinhos resistem ao discurso e as ações de técnicos do sistema que nos remonta ao século XIX,quando,a pretexto da ocupação territorial “para o bem do progresso”,era levado à cabo o processo de aculturação e de violência para garantir  a passagem do trator expansionista ,o trator do Capital.

O governo brasileiro empunha a bravata do crescimento,  tenta dissimular o velho desejo de impor à maioria,a ética capitalista.Produz a falsa consciência da realidade de que o crescimento econômico gerará bem estar,na medida em que proporcionará aos excluídos do sistema,o acesso ao consumo,como se realmente fosse possível fazer do mundo uma grande classe média.Como se um antigo integrante das culturas resistentes,pudesse olhar com orgulho para seu forno de micro-ondas  ,suas antenas e seu computador ,comprados em dezenas de prestações e dissesse:”finalmente cheguei lá,me tornei  um civilizado,participante e construtor da nova ordem mundial.”

Alertemo-nos de que a história se repete agora,como farsa e tragédia .Renomearam  o etnocentrismo,reescrevem a opressão aos povos originários,agora o nome que carrega esta destruição chama-se crescimento econômico,que antes atendia pelo nome de progresso e desenvolvimento.

A força opressora da “razão iluminista e tecnocrata sobre a natureza e sobre à humanidade deve ser estancada.Os ouvidos precisam ser apurados para ouvir o grito do planeta e o lamento dos oprimidos.O silêncio ensurdecedor cala a voz das maiorias diante do descalabro, e nos faz pensar que neste silêncio está sendo gestado o futuro da escassez,o futuro da barbárie.

17 junho 2012

Conto da Andorinha


Por Lara Berruezo.

No dia depois de ontem o céu está cinza. Não me canso de olhá-lo.
Sai do meu mundo cautelosamente, para ninguém ouvir. Pé ante pé segui a estreita bancada, até ficar de frente para o céu.

Abri minhas asas, adormecidas, alongando-as. Não me atrevi a olhar para baixo. De olhos fechados senti o vento mover minhas penas. Dia perigoso para voar, o dia depois de ontem. Abri os olhos lentamente e deixei-los seguir a linha do horizonte.

Depois dos morros estava o mar, tinha certeza. Ninguém me dissera, mas eu tinha certeza. Encurvei meu corpo e com minhas patas dei o impulso para conseguir saltar. No ar alonguei o bico, em uma postura aerodinâmica. Bati algumas vezes as asas para estabilizar e planei sobre as mangueiras. 
De cima tudo é diferente, as cores são diferentes, as formas também. Impossível de explicar, só sentindo. Eu contra o vento cada vez mais, ele tentava me desestabilizar e eu o cortava. Uma briga silenciosa e cansativa.

O vento batia gélido em meu rosto como se quisesse me acordar de um sonho. Mas o céu cinza me confortava, e eu continuava. Só ia parar no mar.

 Os outros pássaros iam no sentido oposto, me olhavam com ar de duvida, mas como todos os outros pássaros são pássaros, seguiram com o seu voo. E eu continuei.

A autora é estudante do último ano do ensino médio,tem 17 anos e mora no Rio de Janeiro.

18 maio 2012

Alteridade.


                                            Foto de Sumitt Kannogeaa  


Alteridade !Na medida que reconheço a importância do outro,eu me reconheço e me diferencio no outro, e passo a entender a importância de lutar para que ele possua a Autonomia.A emancipação "dele" é a minha emancipação.

Os invisíveis, deserdados da terra  pelo Capital precisam ser vistos,além dos véus que encobrem a realidade,além da neblina que encurta o olhar da minha existência ao ponto de me enxergar somente como mero consumidor.

A solidariedade é necessária,mas a alteridade emancipa a humanidade,pois desbanaliza o corriqueiro e descredencia a alienação.

Ao Afirmar a individualidade contra o individualismo,ao afirmar as lutas coletivas contra as injustiças,estarei afirmando também o meu direito de existir plenamente,integralmente.Alteridade meus amigos,para desautorizar os desmandos de quem nos desgoverna,para promover os que estão às margens,por um mundo plural,onde diferença não signifique desigualdade.

09 maio 2012

A ordem da barbárie.



O neoliberalismo inventou a Democracia sem Estado, onde as responsabilidades deste são unicamente a de promover programas de integração ao mercado ou financiar os poderosos em suas quedas de lucros, que eles alardeiam dizendo viver  em crise para que o Estado,o dinheiro público, salve o Capital. Será a morte da Cidadania? Ou a submissão deste valor ao monstro-mercado ? Hoje ser cidadão ,passa por tão somente se tornar consumidor,reclamante veemente de seus direitos,enquanto consumidor.

Os direitos que cada um de nós gozamos nos dias de hoje não foram conseguidos em processos eleitorais viciados, mas com a organização e luta de muitos que deram a vida para que as gerações de hoje pudessem, de posse de direitos políticos,conquistar mais direitos sociais. Mas estamos perdendo-os, direitos sociais, trabalhistas,estamos perdendo a luta pela preservação do meio ambiente,etc.Estamos perdendo.E  em troca nos "permitem" a conquista de direitos específicos,de gênero ou de raça,de ações afirmativas,todos muito importantes,mas fomentando um véu que encobre as verdadeiras raízes das mazelas sociais seculares que este sistema nos oferece em espetáculo.A fome é uma realidade para metade da população mundial(dados da própria ONU).

Os processos de reestruturação produtiva dizimam postos de trabalho e rebaixam salários. A globalização econômica não é para nós trabalhadores,nem para os filhos destes,nem para 3bilhões de pessoas que estão alheios à festa dos recordes de PIB sem distribuição de renda.

No Brasil a cidadania resiste,em movimentos sociais que existem,apesar do controle e cooptação do Estado,apesar do encobrimento das ações por parte da mídia,sócia majoritária do sistema.

Alguns,massacrados pela grande jornada de trabalho,e pela tonteira da ausência de instituições políticas que catalisem seus engasgos,suas reivindicações,ainda denunciam pela redes sociais o sistema que como dizia o mestre Paulo Freire,"produzem a fartura na miséria" e concentram em suas mãos as riquezas produzidas pela maioria.

As redes sociais se configuram como espaço privilegiado,odiado pelos poderosos que tentam regulá-la,mas lhes carecem um programa que substitua o que prevalece,lhes faltam lideranças que lhes conduzam à emancipação desta ordem,falta a instituição partido que no passado conduzia os desejos populares.

Esta ordem social não prevê futuro à humanidade,não promete futuro à existência do planeta.Não,não nesta ordem,não é este o caminho.

Como diziam os antigos lutadores,ou superamos o Capital,ou sucumbiremos à barbárie.