20 outubro 2005

A Bancada da bala agradece

Gostaria de entender como pode um partido político como o PSTU que possui um programa socialista e revolucionário fazer a defesa abertamente do voto NÃO no referendo sobre comercialização de armas. Como pode um partido que pretende um dia dirigir a classe trabalhadora ser contra ela? pois os que mais sofrem com a disseminação das armas são certamente os mais humildes. Será que não chegou a hora de sairem do conforto das universidades e irem saber como vive o povo humilde das favelas deste país? A campanha pelo "direito de matar" é patrocinada por uma das indústrias mais poderosas deste país, considerada uma das mais importantes do ramo, patrocinadora da campanha de G. Bush, e tem suas ações batendo recordes históricos na Bovespa,a Taurus do Brasil. O PSTU virou um partido burguês? ou está brincando de revolucionário e vai ganhar algumas arminhas? será que perdeu definitivamente o bonde da História? Devemos então treinar os trabalhadores em cada esquina para matar os algozes? Alguém me diga por favor que classe social este partido defende. A aliança entre burgueses e operários era até então coisa de partido reformista. Como pode a aliança entre revolucionários e Bolsonaros? A bancada da bala agradece a contribuição dos diversos setores da sociedade e anuncia em alto e bom som que os próximos passos serão a aprovação do controle da natalidade, pena de morte, prisão perpétua e diminuição da minoridade penal. Este são pontos que compõem o programa histórico das oligarquias brasileiras em aliança com setores conservadores da classe média .É verdade que este referendo não determina a diminuição da violência, porém determina a quantidade de vítimas fatais em cada ato de violência.Fora que a defesa da arma é a falência do argumento político.Esta campanha(do Não) possui uma representação simbólica da morte da razão e aponta para as novas gerações o caminho a ser trilhado. Como explicar PSTU, aos grupos de defesa da mulher contra a violência doméstica a postura conservadora que pode legitimar os casos de morte de mulheres vítimas de maridos ciumentos, o que pode ser comprovado pelas estatísticas das delegacias de defesa da mulher.Eu que ajudei a construir este partido me envergonho de mais um dos seus erros.Bola fora, a bancada da bala agradece.

16 outubro 2005

Los Hermanos

Há qualquer coisa de velho nos Hermanos. Nostálgico no som que lembra pelos sentidos , pois não há razão neles. Sentimental dizem eles, é o Amarante, porém o Camelo passa neste disco ruminando uma dor. Dor de progressivos, de mineiros, de décadas de 60 e 70, de Vandré, de sintetizadores existencialistas, de múltiplas influências. Ferreira Gullar, o poeta, diz que apesar da morte das vanguardas a Arte continua a se reproduzir, ou melhor , a se produzir. Nestes tempos pós-modernos, onde tradição e modernidade se enlaçam, neste mundo de ilusões midiáticas, da supervalorização da estética-espetáculo, do fragmentado e especializado, os Hermanos se reinventam, se reconstroem dos cacos do sucesso de "Ventura" e da valorização momentânea da indústria cultural de massa, e produzem Arte, pois são Artesões preocupados com os detalhes que vão inebriar os sentidos de quem os ouve. "Eu preciso andar um caminho só, vou buscar alguém que nem sei quem sou".Que a procura seja sempre neles o sepultamento da mesmice enquadradora. Se lessem isto, diriam, como disseram, que "as pessoas estão pesadas, falta leveza". Este disco 4 é denso mas não um peso, é "Vento" que acaricia em um "Horizonte distante" pertencente à memória sensível.

Encomenda

Todos que viajam para os EUA tem uma bagagem gigantesca na volta por causa das listas de compras de parentes e amigos.Pois é, minha cunhada vai para lá e eu lhe dei uma lista de antigas perguntas para ela me trazer as respostas dos especialistas da maior potência do mundo. A seguir as perguntas que foram formuladas por Eduardo Galeano: aos Geógrafos, por que se chama América este que é um dos continentes americanos?
Aos sociólogos,por que uma sociedade tão livre tem o maior número de presidiários do mundo?
Aos psicólogos, por que uma sociedade tão sã engole a metade dos psicofarmácos do mundo?
Aos médicos de dietas, por que o maior número de obesos no país que dita o cardápio dos demais países?
Aos estrategistas de política externa, se os senhores têm, aí pertinho, uma ilha onde estão à vista os horrores do inferno comunista, por que não organizam excursões ao invés de proibir viagens?
Aos signatários do tratado de livre comércio ,se agora está aberta a fronteira com o México, por que morre mais de um mexicano por dia querendo cruzá-la?
E aos especialistas em direitos trabalhistas, por que Mc Donald`s e Wal-Mart proíbem os sindicatos em todos os países onde operam?
Aos economistas, se a economia duplicou nos últimos vinte anos, por que a maioria dos trabalhadores ganha menos do que antes e trabalha mais horas?
Aos responsáveis pela saúde pública, por que proíbem que as pessoas fumem, enquanto fumam livremente os automóveis e as fábricas?
Ao general que dirige a guerra contra as drogas, por que as prisões estão cheias de drogados e vazias de banqueiros lavadores de narcodólares?
Aos diretores do FMI e do Banco Mundial, se este país tem a maior dívida externa do planeta, e deve mais que todos os países juntos, por que os senhores não o obrigam a cortar gastos públicos e eliminar subsídios, [como fazem com os latino-americanos em suas receitas] ?
Aos ambientalistas, por que os que aqui governam falam sempre no futuro do planeta, enquanto este país gera a maior parte da contaminação [poluentes] que está acabando com o futuro do mundo?
Aos cientistas políticos, por que os que aqui governam falam sempre em paz, enquanto este país vende a metade das armas de todas as guerras?
Veja lá cunhada, se você vai esquecer da minha encomenda.

02 outubro 2005

LULA E RITA

A crise política é provocda pela ausência de um programa político de intervenção nos profundos problemas sociais, os quais constitui a verdadeira dívida. Os "rasgos de indignação moral" da oposição, da situação e da imprensa, criam o falso debate de que o problema é "ético" ou moral.A crise é consequência de um projeto petista democrático-liberal. Os democratas acreditam que estão acima dos antagonismos de classe, das lutas que se dão no chão da realidade social pela apropriação da riqueza, no jogo de cartas marcadas, a vitória é daqueles que comandam a banca. Marx disse que a História se repete, a primeira vez como farsa e a segunda como tragédia. É aqui que se pode relacionar Collor e Lula, embora o segundo seja, ou tenha sido, o maior líder da história do século XX no Brasil. A farsa da oratória da modernidade, da defasa dos "descamizados" que deu início a integração do Brasil à nova ordem mundial, de subordinação à ideologia neoliberal. Ali se enfraqueceu o Estado, fortalecido pela ditadura militar para o financiamento da burguesia nacional, de cócoras à transnacionalização e financeirização, projeto este, consolidado eficazmente por FHC. A História se repete como tragédia no governo Lula, pois o projeto neoliberal de integração subordinada à globalização tem continuidade no governo atual. Os sonhos(as promessas) de inclusão das massas, de maior interferência dos movimentos sociais organizados nas tomadas de decisão se esbarram na burocratização das direções sindicais, populares e estudantis para que a pseudo-hegemonia petista no parlamento controlasse à conta-gotas algumas reformas sociais sem o desagrado dos banqueiros internacionais, das antigas oligarquias agrárias e da FIESP. Quebrados os vernizes de esquerda das reivindicações dos trabalhadores, o PT modelou-as com feições liberais-democráticas e atirou no pé, quando abandonou as bandeiras históricas. A experiência partidária mais rica da História da América -Latina, abandonou à uma década, pelo menos, a força dialética dos núcleos de base e jogou todas as fichas na roleta viciada da democracia representativa e no caquético e esgotado liberalismo econômico. O furacão Rita instalado no governo Lula, lembra a Rita de Chico Buarque: " A Rita levou meu sorriso... levou junto com ela o que me é de direito, arrancou-me do peito e tem mais... Que papel... a Rita matou nosso amor de vingança, nem herança deixou...mas causou perdas e danos...levou os meus planos, meus pobres enganos, os meus vinte anos, o meu coração e além de tudo me deixou mudo o violão." Emudeceram o violão e choram as cuícas, mas a bateria da escola se reorganiza diante da nota baixa dada pelos julgadores do desfile de erros cometidos pelo governo burguês do PT.