17 junho 2012

Conto da Andorinha


Por Lara Berruezo.

No dia depois de ontem o céu está cinza. Não me canso de olhá-lo.
Sai do meu mundo cautelosamente, para ninguém ouvir. Pé ante pé segui a estreita bancada, até ficar de frente para o céu.

Abri minhas asas, adormecidas, alongando-as. Não me atrevi a olhar para baixo. De olhos fechados senti o vento mover minhas penas. Dia perigoso para voar, o dia depois de ontem. Abri os olhos lentamente e deixei-los seguir a linha do horizonte.

Depois dos morros estava o mar, tinha certeza. Ninguém me dissera, mas eu tinha certeza. Encurvei meu corpo e com minhas patas dei o impulso para conseguir saltar. No ar alonguei o bico, em uma postura aerodinâmica. Bati algumas vezes as asas para estabilizar e planei sobre as mangueiras. 
De cima tudo é diferente, as cores são diferentes, as formas também. Impossível de explicar, só sentindo. Eu contra o vento cada vez mais, ele tentava me desestabilizar e eu o cortava. Uma briga silenciosa e cansativa.

O vento batia gélido em meu rosto como se quisesse me acordar de um sonho. Mas o céu cinza me confortava, e eu continuava. Só ia parar no mar.

 Os outros pássaros iam no sentido oposto, me olhavam com ar de duvida, mas como todos os outros pássaros são pássaros, seguiram com o seu voo. E eu continuei.

A autora é estudante do último ano do ensino médio,tem 17 anos e mora no Rio de Janeiro.