02 maio 2020

Médico ou o Estado deve ter o direito de escolher quem viverá?

Entre tantas discussões que se dão neste momento de pandemia, me chama a atenção a da tentativa de racionalizar a escolha do médico entre os que viverão ,por ter acesso à ferramentas de ventilação pulmonar e os que não viverão, por escolha do médico(covarde atribuição a este profissional) ou do Estado, representado pela determinação da secretaria de saúde do município do RJ.
Ao tratarmos o médico como um técnico, retiramos dele a possibilidade de decisão, mas o mais escandaloso, é não entender o que está oculto neste debate, se é o médico ou o município de RJ quem determina quem continuará vivo ou não.
O primeiro argumento a ser pensado é a questão ética que faz com que haja uma suposta objetividade científica ou neutralidade sobre um discussão que é essencialmente filosófica e política.
A primeira questão é entendermos que a violação ética está apoiada no Estado que não cumpre, e não cumpria anteriormente ao advento do Covid19, sua tarefa que é de fazer do SUS universal, com atendimento de qualidade independente de idade ,raça, cor ,comorbidades e etc. Levemos em consideração que o SUS atende primordialmente aos mais pobres, e que o Estado e sua necropolítica, deseja escolher quem deve viver ou morrer, graças a falta de investimentos, ou corte de milhões de reais no ano passado praticado pelo governo federal, ou as desvinculações de receitas do SUS, nas últimas duas décadas.
A ética é violada quando o que se discute em quem tem autonomia ou não de escolher quem irá continuar a viver, penso que a raiz do problema está na destruição do Estado praticado por este governo, onde o paciente, cidadão,mais pobre, terá seu direito de viver julgado por um sistema capitalista mesquinho e cruel.
Há recursos disponíveis, quando pensamos em uma dívida pública que sangra milhões de dinheiro público,e que nunca foi auditada, ou a própria emissão de dinheiro, que não faz dívida do Estado, nem produz inflação em momento em que não há consumo,  usando da própria lógica dos economistas , seguranças de plantão do mercado.
O grande problema ético que se discute é o papel do Estado, se ele continuará a ter como prioridade o mercado ou se ele recuperará, como em outros tempos de crise capitalista, sua capacidade de investimentos sociais.
Que médicos tenham o direito de tratar a todos e não seja dado a ele ou ao Estado a fazer a escolha de quem não continuará vivendo.