03 novembro 2007

O FUTEBOL E A VIDA(ou a política)


Veja só como fica difícil querer escrever sobre futebol depois que se lê um texto de Eduardo Galeano como este que publico aqui em baixo. Os clássicos das palavras sobrevivem para sempre assim como os do futebol, e este de 1995 bem que poderia ter sido escrito hoje, ou talvez semana que vem, sem que se perdesse alguma capacidade de explicar a "rodada". Eduardo Galeano, disse em seu livro "Futebol ao sol e sombra", que o futebol é a metáfora da vida, capaz de explicar ou refletir a sociedade em que vivemos. Se o texto de Galeano não se chamasse "futebol", bem poderia se chamar "política", pois o autor revela em essência, o tipo de crise que vivemos em nossas instituições, onde o mundo se torna mercadoria e os meios de comunicação de massa não passam de vitrines.Atentar em boa hora para que possamos mudar a forma de ver o mundo e parar de reproduzir os valores que se perpetuam, é tarefa das mais urgentes para quem se preocupa em modificar as relações humanas, para que elas não se submetam ao "olhar" mercadológico dos donos do poder.Por isso resolvi compartilhar o texto com vocês, para que se regozijem com o valor estético deste extraordinário pensador das relações humanas , mas também ,para que possamos nos servir destes instrumentos para relativizar, e muito, o que se fala na imprensa oficial , que com o tom professoral e científico, quer nos tentar dizer que o mundo e a existência humana, não passam de mera porcaria.
O FUTEBOL

A história do futebol é uma triste viagem do prazer ao dever. Ao mesmo tempo em que o esporte se tornou indústria, foi desterrando a beleza que nasce da alegria de jogar só pelo prazer de jogar.Neste mundo de fim de século(XX), o futebol profissional condena o que é inútil , e é inútil o que não é rentável. Ninguém ganha nada com essa loucura que faz com que o homem seja menino por um momento, jogando como menino que brinca com o balão de gás e como o gato brinca com o novelo de lã:bailarino que dança com uma bola leve como o balão que sobe ao ar e o novelo que roda, jogando sem saber que joga, sem motivo, sem relógio e sem juíz.
O jogo se transformou em espetáculo, com poucos protagonistas e muitos espectadores, futebol para olhar, e o espetáculo se transformou num dos negócios mais lucrativos do mundo, que não é organizado para ser jogado, mas para impedir que se jogue.. A tecnocracia do esporte profissional foi impondo um futebol de pura velocidade e muita força, que renuncia à alegria, atrofia a fantasia e proíbe a ousadia.
Por sorte ainda aparece nos campos, embora muito de vez em quando, algum atrevido que sai do roteiro e comete o disparate de driblar o time adversário inteirinho, além do juiz e do público das arquibancadas, pelo puro prazer do corpo que se lança na proibida aventura da liberdade.

25 outubro 2007

Controle da natalidade não é o mesmo que Planejamento familiar, assim como,marginal não é sinônimo de bandido!

"O número de filhos por mãe na Lagoa Rodrigo de Freitas, Tijuca, Méier e Copacabana é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. (...) Isso é uma fábrica de produzir marginal."
Sérgio Cabral, governador do RJ (PMDB)

No mesmo dia em que dava entrevista falando da escalada da violência no Rio e sua política de repressão(que chama enganosamente de política de segurança) o governador do estado soltou esta lamentável pérola. A ladainha antiga e fascista do Controle de natalidade para diminuir o número de miseráveis não encontra justificativa nos estudos sobre a realidade. Pois então vejamos:
. Segundo dados da ONU e de organismos internacionais, é possível hoje alimentar com o que se produz de riquezas no mundo, mais de 12 bilhões de seres humanos.Temos um pouco mais de 6 bilhões de pessoas, onde a metade passa fome ou sofre os efeitos da subnutrição. O mundo capitalista faz circular por dia, trilhões de dólares, e está provado, que o problema da humanidade,tanto quanto do Brasil, não é de escassez de recursos, mas de concentração destas riquezas nas mãos de poucos.exemplo disto é que o brasil, só no ano passado pagou mais de 180 bilhões somente de juros da dívida externa.
. As teoria Malthusiana(malthus) dizia que a pobreza e a miséria imperariam nos nossos tempos , graças ao crescimento da população mundial( em progressão geométrica) com a produção de alimentos em (progressão aritimética). O que Malthus desconsiderou, por isso sua teoria é facilmente refutável, é que com o advento tecnológico e a mecanização do campo(hoje capitalista, chamada de agronegócio) a produção de alimentos é farta. A política exportadora brasileira de alimentos é que encarece os produtos que aqui continuam, e mais, a prevalência do latifúndio e da política do governo Lula de passear pelo mundo alardeando o quanto a produção do campo brasileiro pode suprir a parte abastada do planeta , estão na raiz do problema. Lula orienta seu governo à vender a velha e desgastada imagem do Brasil como "celeiro do mundo", valorizando o latifundiário brasileiro em detrimento de 20 milhões de sem-terra, que correm ainda(mesmo que em menor número) para as cidades em busca de sobrevivência.
.O governo do senhor Cabral, não tem compromisso em salvar das mãos do tráfico de drogas, as milhares de crianças que servem ao crime. Com famílias desempregadas , com o canto da sereia consumista, estas crianças e adolescentes se tornam alvos fáceis dos comandos organizados do crime, que funcionam como a grande empresa capitalista que explora a mão-de-obra barata e disponível e obtém lucros fabulosos, que certamente não são controlados pelo "morro", mas por corporações capitalistas que estão no "asfalto", nas grandes rodas da Zona sul ou Barra da Tijuca, nas assembléias legislativas e no congresso nacional.
.A criminalização da pobreza é uma tradição das forças conservadoras da sociedade brasileira e de seus representantes políticos. Associar o favelado ao crime, virou esporte predileto da classe média desinformada e da burguesia em busca de soluções que não demandem muitos gastos e aumentos de impostos.
.Os governos não possuem políticas de Planejamento Familiar, que demandam investimentos sérios na educação formal , o que pode ser percebido, na política educacional do governador, que desvaloriza os educadores com salários baixos, com escolas sem o mínimo de estrutura, com um modelo curricular defazado frente as demandas não só do mercado de trabalho, como também, que garanta a formação da cidadania plena(ou a consciência social)e a construção de valores que permitam aos indivíduos à superação das condições materiais de existência.
. A saúde pública do Estado do Rio de janeiro é caótica, e o senhor nada tem feito para no mínimo amenizar estas condições terríveis no atendimento hospitalar.Repito,nada está sendo feito!
.No presente,tanto quanto no passado, vemos que o CONTROLE DA NATALIDADE , é praticado com ligaduras de trompas sem o consentimento das mães, ou quando organizações internacionais pregavam a esterelização em massa como solução mais fácil para impedir revoltas sociais.
. A palavra de ordem do neoliberalismo é o Estado mínimo. Menor investimento social significa menos impostos cobrados à burguesia industrial e financeira(que já é desonerada).
.A violência crescente, Senhor governador, tem origem em décadas de falta de políticas públicas em nosso Estado aliado ao sistema capitalista excludente por princípio e definição. O Senhor faz coro com aqueles que acreditam que a melhor forma de eliminar a miséria é acabando com a vida dos miseráveis .Marginal, palavra usada pelo senhor, é sinônimo de excluído, aquele que está fora do Sistema, está à margem, não sinônimo de bandido.
Em tempo. Veja só o que disse o secretário de segurança do RJ, justificando que a violência policial nas favelas . Contra moradores pode, mas na Zona sul não!
“um tiro em Copacabana é uma coisa, um tiro na Coréia, no Alemão, é outra”.José Beltrame

20 setembro 2007

O LIVRO DIDÁTICO QUE A GLOBO QUER PROIBIR.

Reproduzo aqui, na íntegra ,a resposta da editora do autor Mario Shmidt. Torno a repetir que o meu propósito é de tão somente abrir espaço para a defesa do autor diante do massacre injusto sofrido por sua obra.
Caro Wallace,
Nós, da Editora Nova Geração, somos extremamente gratos a sua valiosa colaboração. É um belo texto, bem escrito e argumentado.
A partir do infame texto de Ali Kamel no Globo, diversas matérias começaram a pipocar nos mais diferentes meios de comunicação.
A grande maioria delas sequer procurou ler o livro do professor Mario Schmidt e começou a utilizar apenas os trechos sacanamente selecionados pelo editor global.
Abaixo reproduzimos algumas respostas que foram enviadas a alguns órgãos de imprensa.
Gostaríamos de aproveitar para pedir permissão para reproduzir sua carta enviada ao Globo como demonstração do apoio dos professores ao livro do professor Mario Schmidt.

Novamente agradecemos seu valoroso apoio,

Equipe Nova Geração


O LIVRO DIDÁTICO QUE A GLOBO QUER PROIBIR

A respeito do artigo do jornalista Ali Kamel no jornal O Globo de 18 de setembro de 2007 sobre o volume de 8ª série da obra Nova História Crítica, de Mario Schmidt, o autor e a Editora Nova Geração comentam:
Nova História Crítica da Editora Nova Geração não é o único nem o primeiro livro didático brasileiro que questiona a permanência de estruturas injustas e que enfoca os conflitos sociais em nossa história. Entretanto, é com orgulho que constatamos que nenhuma outra obra havia provocado reação tão direta e tão agressiva de uma das maiores empresas privadas de comunicação do país.
Compreendemos que o Senhor Ali Kamel, que ocupa cargo executivo de destaque nas Organizações Globo, possa ter restrições às posturas críticas de nossa obra. Compreendemos até que ele possa querer os livros didáticos que façam crer “que socialismo é mau e a solução para tudo é o capitalismo”. Certamente, nossas visões políticas diferem das visões do Sr. Ali Kamel e dos proprietários da empresa que o contratou. O que não aceitamos é que, em nome da defesa da liberdade individual, ele aparentemente sugira a abolição dessas liberdades.
Não publicamos livros para fazer crer nisso ou naquilo, mas para despertar nos estudantes a capacidade crítica de ver além das aparências e de levar em conta múltiplos aspectos da realidade. Nosso grande ideal não é o de Stálin ou de Mao-Tsé Tung, mas o de Kant: que os indivíduos possam pensar por conta própria, sem serem guiados por outros.
Assim, em primeiro lugar exigimos respeito. Nós jamais acusaríamos o Sr. Kamel de ser racista apenas porque tentou argumentar racionalmente contra o sistema de cotas nas universidades brasileiras. E por isso mesmo estranhamos que ele, no seu inegável direito de questionar obras didáticas que não façam elogios irrestritos à isenção do Jornal Nacional, tenha precisado editar passagens de modo a apresentar Nova História Crítica como ridículo manual de catecismo marxista. Selecionar trechos e isolá-los do contexto talvez fosse técnica de manipulação ultrapassada, restrita aos tempos das edições dos debates presidenciais na tevê. Mas o artigo do Sr. Ali Kamel parece reavivar esse procedimento. Ele escolheu os trechos que revelariam as supostas inclinações stalinistas ou maoístas do autor de Nova História Crítica. Por exemplo, omitiu partes como estas: “A URSS era uma ditadura. O Partido Comunista tomava todas as decisões importantes. As eleições eram apenas uma encenação (...). Quem criticasse o governo ia para a prisão. (...) Em vez da eficácia econômica havia mesmo era uma administração confusa e lenta. (...) Milhares e milhares de indivíduos foram enviados a campos de trabalho forçado na Sibéria, os terríveis Gulags. Muita gente foi torturada até a morte pelos guardas stalinistas...” (pp. 63-65)
Ali Kamel perguntou por onde seria possível as crianças saberem das insanidades da Revolução chinesa. Ora, bastaria ter encontrado trechos como estes: “O Grande Salto para a Frente tinha fracassado. O resultado foi uma terrível epidemia de fome que dizimou milhares de pessoas. (...) Mao (...) agiu de forma parecida com Stálin, perseguindo os opositores e utilizando recursos de propaganda para criar a imagem oficial de que era infalível.” (p. 191) “Ouvir uma fita com rock ocidental podia levar alguém a freqüentar um campo de reeducação política. (...) Nas universidades, as vagas eram reservadas para os que demonstravam maior desempenho nas lutas políticas. (...) Antigos dirigentes eram arrancados do poder e humilhados por multidões de adolescentes que consideravam o fato de a pessoa ter 60 ou 70 anos ser suficiente para ela não ter nada a acrescentar ao país...” (p. 247)
Os livros didáticos adquiridos pelo MEC são escolhidos apenas pelos professores das escolas públicas. Não há interferência alguma de funcionários do Ministério.
O sr. Ali Kamel tem o direito de não gostar de certos livros didáticos. Mas por que ele julga que sua capacidade de escolha deveria prevalecer sobre a de dezenas de milhares de professores? Seria ele mais capacitado para reconhecer obras didáticas de valor? E, se os milhares de professores que fazem a escolha, escolhem errado (conforme os critérios do sr. Ali Kamel), o que o MEC deveria fazer com esses professores? Demiti-los? Obrigá-los a adotar os livros preferidos pelas Organizações Globo? Internar os professores da rede pública em Gulags, campos de reeducação ideológica forçada para professores com simpatia pela esquerda política? Ou agir como em 1964?



ALI KAMEL, O ANTICAPITALISTA

Vamos inicialmente esclarecer alguns pontos importantíssimos em relação ao artigo de Ali Kamel.

1- Quem seleciona os livros didáticos não é o MEC. As coleções didáticas são selecionadas por diversas universidades conceituadas (notórios antros comunistas, é verdade).

2 - Quem escolhe os livros didáticos são os professores. Mais de 50 mil professores por todo Brasil analisaram as dezenas de coleções de história disponíveis e escolheram livremente a coleção Nova História Crítica como a melhor coleção.

3 - A coleção Nova História Crítica é um sucesso ainda maior no mercado particular, ou seja, nas escolas privadas, que sequer dependem do MEC para escolher seus livros.

Considerando estes três pontos, perguntamos: terão errado todos estes 50 mil professores? Saberá o senhor Ali Kamel escolher melhor que eles? O que devemos fazer com esses milhares de professores que preferem a obra do professor Mario Schmidt às demais? Demitimos? Reeducamos ideologicamente? Devem ir para o pau-de-arara, como nos bons tempos da ditadura e do CCC? E os livros que eles já escolheram? Queimamos os livros em praça pública? Enfim, como incita Ali Kamel, algo precisa ser feito. Organizemos já uma marcha com Deus pela Família, Tradição e Propriedade!

Pois não podemos mais aturar os 50 mil professores em todo o Brasil que consideram, entre dezenas de coleções disponíveis, a Nova História Crítica do professor Mario Schmidt a melhor de todas, tornando a coleção o maior fenômeno editorial didático de todos os tempos.

Porque este, sim, é o maior crime da coleção Nova História Crítica: ser um grande sucesso dentro do mercado capitalista! (Olhe aí as terríveis táticas gramscianas em ação!).

Para quem não conhece, é interessante saber que no mercado de livros didáticos existe uma concorrência absolutamente livre e legítima entre as editoras. Quem escolhe os livros para as crianças é a pessoa mais capacitada para isso: o professor. Nesse segmento, o livre mercado vem funcionando a pleno vapor; uma editora tentando fazer um livro melhor do que a outra. Quem tem o melhor livro leva a maior fatia do bolo.

Porém, o senhor Ali Kamel, como todo bom porta-voz do capitalismo real, odeia que o livre mercado funcione como um livre mercado. O senhor Ali Kamel acha que o Estado deve intervir fortemente nessa área. O governo deve censurar livros de determinado matiz ideológico e impedir que os professores escolham livremente seu material didático para nossas crianças. (Ah, as nossas crianças! Para Ali Kamel, molecada assistindo a cenas de sexo na novela, tudo bem. Mas livro de esquerda escolhido livremente pelo professor não pode.)

O professor Mario Schmidt é notoriamente um severo crítico do capitalismo. Para Ali Kamel, olavetes, reinaldetes e "nova direita", isso, atualmente, é um pecado mortal - onde já se viu? Um sistema tão bonitinho, tão limpinho e responsável, como é possível que não se admita que o capitalismo é o sistema econômico perfeito, para não dizer o sistema econômico terminal da humanidade. Quem ousaria levantar críticas ao capitalismo e - horror, horror! - encontrar qualidades no socialismo?

Mas é muito estranho que justamente onde o sistema capitalista deveria atuar de maneira exemplar, ou seja, na livre concorrência, na igualdade de oportunidades no mercado, onde o melhor produto vence, o senhor Ali Kamnel murche em seu fervor capitalista.

No mercado de livros didáticos, a opinião do mais abalizado consumidor - o professor - não deve ser respeitada e o Estado deve intervir diretamente para eliminar o campeão da livre concorrência, se a ideologia deste não se coaduna com a das Organizações Globo. É nisto que acredita o senhor Ali Kamel, o verdadeiro o anticapitalista.

PS - É curioso que o maior veículo de ideologia do Brasil, a Rede Globo, venha reclamar da edição ideológica do material histórico. Ali Kamel cita vários trechos do NHC no seu artigo. O exíguo espaço certamente o impediu de citar, entre outras, a página 319 do referido livro, que conta a história da edição do debate LULA X COLLOR feita pela Globo no Jornal Nacional. O que será que Ali Kamel achou deste trecho? O que ele acha que o Estado deveria fazer com uma emissora que "trabalha a cabeça das pessoas" desta forma? A mesma coisa que ele sugere que faça com livros didáticos?


19 setembro 2007

"Nova História Crítica"-Carta aberta ao "O Globo"


Sobre a veiculação pelo jornal “O Globo” de críticas ao livro “Nova História crítica”, gostaria de fazer algumas ponderações.

Em primeiro lugar, digo que o “Stalinismo” deve ser combatido em qualquer espaço como o “irmão” siamês do nazismo ou de qualquer doutrina que pregue ódio e seja responsável pela morte de um ou de milhões de seres humanos, como é o caso destes sistemas citados.

Pois então vejamos, que a crítica baseada em “erros conceituais” não existe. O que ocorre é que este autor desenvolve em uma linguagem adequada à idade dos jovens, a crítica a uma maneira de ver a História de forma neutra, perfil da grande maioria dos livros didáticos disponíveis no mercado.

Quando o autor abre espaço para a comparação de conceitos sobre o Socialismo e Capitalismo, fica clara a dificuldade em demonstrar as vantagens do sistema hegemônico nos dias de hoje. Aliás, é possível verificar a partir de dados oficiais, que o sistema capitalista não conseguiu em seus mais de quinhentos anos, solucionar os problemas mais básicos da humanidade, como a fome e todas as suas mazelas sociais, em qualquer parte do planeta.

Os argumentos utilizados pelo jornal são frágeis, e uma leitura atenta a reportagem do dia 19 de setembro, permite até mesmo aos não informados sobre a querela, encontrar contradições. Como na própria citação sobre Mao Tse Tung, que para o jornal o autor demonstra enaltecimento, fala que este, para os não membros do partido comunista, Mao Tse Tung não passa de um ditador.

Utilizo este livro didático há alguns anos, como milhares de outros professores e posso afirmar que não há erro conceitual ao demonstrar simpatia a um tipo de interpretação histórica.

É preciso apresentar o fato histórico sobre todos os pontos de vista, o que o livro faz, mas não é possível incorrer no gravíssimo erro de acreditar que exista neutralidade científica, nem mesmo no jornalismo isto é possível.

O ensino de História enquanto disciplina escolar no Brasil, sempre se baseou na mera descrição de fatos Históricos, apresentados enquanto verdade absoluta e tentando fazer crer que as personalidades históricas são grandes Heróis e os representantes político-institucionais são apresentados como os únicos agentes ou sujeitos da História.

Dentre alguns dos grandes méritos do “Nova História crítica” é o de demonstrar que os marginalizados do processo político brasileiro podem deixar a sua condição de “subordinados” ou “vencidos” , à condição de atores sociais protagonistas do processo histórico em construção, em busca da cidadania plena.

É preciso esclarecer que um livro didático é uma das muitas ferramentas da formação escolar, mas não é a mais importante, pois se fosse decisivo para detectar qualidade de ensino, certamente aquelas escolas que se utilizam do mesmo material, teriam a mesma proporção de qualidade de ensino, o que não é verdade que aconteça.

Chego a pensar que a polêmica possa estar sendo motivada por uma possível insatisfação de editoras multinacionais que dominam o mercado de livros didáticos brasileiros, com o espaço alcançado pela obra publicada por uma editora nacional de menor tamanho. Será que é correto para a formação da juventude brasileira, ter uma parte de nossa cultura nas mãos do Capital estrangeiro?

Alguns setores conservadores da sociedade brasileira como os “Monarquistas” já demonstraram há alguns anos sua insatisfação com a abordagem do autor, ao demonstrar a incoerência do regime monárquico, onde uma nação trabalha para que alguns vivam às expensas daqueles que são produtivos.

O que faz esta polêmica alcançar duas páginas de um dos maiores jornais do país, mais um artigo de um escritor, e mais um comentário do cineasta Arnaldo Jabour?
Será a preocupação sincera com a qualidade da educação no Brasil? Acredito que as afirmações (e não o debate que até agora não houve) estejam pautadas na intolerância, pelo fato do autor Mario Shimidt demonstrar as contradições de um sistema que politicamente e moralmente está desgastado, e economicamente não é capaz de promover à ascensão dos bilhões de deserdados e excluídos da festa capitalista que reproduz diariamente trilhões de dólares às custas da fome , das mazelas sociais e do esforço dos trabalhadores.

Preciso dizer que não conheço o autor, nem possuo nenhum tipo de relacionamento com a editora. A escola privada em que utilizo este material didático de ótima qualidade, inclusive resolveu há mais de um ano se associar a uma grande rede educacional do Rio de Janeiro que produz seu próprio material didático promovendo a substituição dos livros em todas as disciplinas.

Como educador me preocupo com as “verdades” supostamente absolutas veiculadas pelos meios de comunicação de massa, como a TV, com uma programação que deseduca, na medida em que vincula sua programação ao consumismo e a apatia, frente aos descalabros da política institucional, legitimando este sistema que já dá sinais de esgotamento.

A escola brasileira não possui a qualidade que sonhamos, mas não por causa dos seus educadores, em sua grande maioria comprometidos com aquilo que acreditam ser o melhor, não por causa deste ou de qualquer material didático, mas por uma série de fatores dentre os quais destaco, a falta de investimento público, a má formação docente e principalmente, pela associação do seu currículo aos “nobres” desejos do mercado.

Não defendo o livro por mera simpatia, mas defendo-o por uma concepção de educação que não esteja amarrada a “visão de mundo” dominante.

O educador Paulo Freire dizia que “a cabeça do oprimido contém a cabeça do opressor”, e é para que isto não continue acontecendo, que eu desejo que pelo menos, o espaço nos meios de comunicação não seja desproporcional.

08 setembro 2007

O Capital urubu.


Que sistema é este que consome vidas em troca de negócios? Se considerarmos o Mercantilismo como precondição para o capitalismo global em que vivemos, podemos dizer que este sistema possui mais de 500 anos, sem que consiga, se é que tenta, diminuir a dor dos famintos do planeta. Pelo contrário, por regra o capitalismo é o sistema onde se privilegia a circulação de mercadorias e o grande Capital que se alimenta de Capital gerado pela força de trabalho, cada vez menos protegidas por leis trabalhistas, graças a ideologia neoliberal, que prega e financia as classes dirigentes nacionais à diminuir a força do Estado. As instituições que compõem o Estado-nação hoje, tem seus recursos voltados para o financiamento dos desejos das burguesias nacionais, recursos estes que quando sobram dos pagamentos de dívidas feitas pelas classes dominantes são empregados como óleo para fomentar a máquina capitalista.


O resultado deste processo é o aumento do número de deserdados e famintos que se espalham pelo mundo. A África é o exemplo maior. Recortada pela sanha imperialista européia, no período de descolonização através das lutas de libertação nacionais, deixou os europeus à herança das guerras civis entre povos que no recorte imperialista acabaram fazendo parte de Estados artificiais. Povos com culturas e línguas diferentes se viram pertencendo e disputando o controle destes estados através de disputas armadas com armamento financiado por grandes corporações produtoras de armas, principalmente estadunidenses. Boa parte deste continente hoje, encontra-se sob guerra civil, produzindo a fome e a barbárie, contabilizando segundo o fotografo Sebastião salgado, mihões de pessoas em fuga de disputas insanas pelo poder político.


Não é diferente a situação da América Latina onde dados oficiais comemoram a diminuição de miseráveis. Dados maquiados com metodologias de pesquisas manipuladas que condenam mais de 150 milhões de pessoas à miséria absoluta, comandados pelas receitas dos organismos internacionais que dirigem o capital financeiro e obedecido a partir do emblemático “Consenso de Washington” (1992) pelos vários governos das Américas, incluindo o do senhor Luís Lula da Silva.


A China capitalista, comemorada como potência nacional do século XXI mantém sob censura e tortura milhões de ativistas e militantes pelas liberdades democráticas, e segundo dados oficiais, possui hoje 53 mil trabalhadores em regime de escravidão, fora os que trabalham por salários de fome.Existe um grande movimento nacional e internacional que prega a suspensão dos próximos jogos olímpicos pela defesa dos direitos humanos que o governo chinês, comandado pelo PC stalinista-maoista,ditadura que se disfarça sob o véu dos símbolos do antigo regime, viola descaradamente.


O Oriente Médio sofre com a intervenção estadunidense que busca subjugar as nações árabes aos interesses econômicos do petróleo e projetos de gasodutos, com o apoio europeu, incluindo a Rússia e aliados como alguns grupos de poderosos árabes e Israel.


O “Império da maldade” , Estados Unidos, por conta das grandes corporações e do mercado financeiro internacional comandam este planeta, direta e indiretamente no caminho do caos , sujeitando bilhões de famílias à fome. Segundo dados oficiais, são 3 bilhões de pessoas que vivem abaixo da linha da miséria(com menos de 1 dólar por dia), mais de um bilhão que não tem acesso à água potável.


O sistema competitivo da selva global-capitalista estimula a corrupção dos Estados Nacionais para que ele subsista diante dos interesses econômicos, desviando a atenção dos seus povos para sangria do roubo do dinheiro público, enquanto sob a batuta da psudo legalidade as mega-corporações sugam os esforços dos trabalhadores, que convivem com a diminuição dos postos de trabalho, a precarização dos empregos que ainda existem ,e a perda de direitos trabalhistas e previdenciários em busca de sustentação da festa capitalista.


A fotografia é obra de Kevin Carter de 1993, no Sudão que mostra uma menina subnutrida e faminta em marcha para um abrigo que distribui comida a um km dali, que cai esgotada sobre a espreita de um urubu que aguarda pela morte desta. O autor recebeu o prêmio pulitzer de 1994, e se suicidou por não agüentar os questionamentos sobre o porquê de não ter salvado a criança. Talvez ele tenha contribuído para salvar milhões de outras crianças que sobrevivem no mundo inteiro sob a guarda do Urubu-capitalista, que promove e legitima esta situação enquanto circulam pelo planeta diariamente TRILHÔES de dólares sobre o controle de 200 famílias que se locupletam com as riquezas produzidas pelos trabalhadores do mundo.


Enquanto houver capitalismo, haverá fome, enquanto se sustentar este moribundo sistema não haverá paz. Como diz o escritor Eduardo Galeano, “No mundo das super tecnologias, nos tempos da microbiologia, uns são mercadores, outros somos mercadorias”.


18 agosto 2007

À vossa excelência,senhor Sérgio Cabral !

Gostaria muito ,senhor governador de render-lhe uma homenagem. Sabem aqueles todos(4) que me Lêem que não costumo usar esta página para enaltecer figuras públicas da política, nem tão pouco promover ataques pessoais. No entanto suas nobres atitudes em seu governo, principalmente quanto à educação, me encheram os olhos. Sua nobre figura deve possuir uma acessoria de primeira classe, sem contar no faro político de vossa excrescência.
Pois ao prometer em sua campanha eleitoral,aos profissionais da educação do Rio de Janeiro, 60% de reposição salarial, categoria esta que não recebe nenhum reajuste há mais de 10 anos , o senhor claro, não cumpriu. Propôs 25% em dois anos, ou seja , cinco reais e quarenta centavos por mês! Obrigado governador! Meu coração de professor transborda de alegria por sua generosidade e pelo sério comprometimento de vossa excrescência com a educação deste Estado! Pois todos sabem, que o servidor público da educação lida diariamente com a população mais humilde e necessitada, e esta reposição de perdas salariais, vai ao encontro da melhoria da qualidade de ensino e satisfação total do nosso público. Agradeço muito pela rápida ação do senhor em cortar o ponto destes grevistas que reclamam de barriga cheia, pois possuem vencimentos mensais de 431,00 reais, mais do que o suficiente para sustentar várias famílias.
Não poderia deixar de agradecer também por esta proposta ser a mesma para a área da saúde e segurança, pois juntando estas três atividades, vemos que estas não possuem importância alguma, perto das prioridades de seu glorioso governo. Não poderia esquecer de agradecer-lhe com todo o fervor pelo corte de 35 milhões das verbas da UERJ(Universidade do Estado do Rio de Janeiro), pois este vai proporcionar um avanço gigantesco nas áreas de pesquisa e graduação.
Tanto se fala na necessidade de investimento em educação nos dias de hoje , pois é a primeira alavanca para o desenvolvimento econômico e justiça social, que o senhor não pestanejou, e logo viu, como estadista que é, que este é o caminho certo para uma carreira brilhante na política. A revolta de professores, médicos , policiais civís e militares, não se justificam, pois sabemos que todos estes tem um lugar especial em seu nobre coração!
Gostaria de usar da música, arte das mais nobres da humanidade, para fechar esta homenagem à quem tanto tem feito pela igualdade social neste Estado, uma lembrança em nome de toda população humilde deste lugar, alunos em especial, pois agora o governo de vossa excrescência engrenou de vez!

Estão nas mangas dos Senhores Ministros
Nas capas dos Senhores Magistrados
Nas golas dos Senhores Deputados
Nos fundilhos dos Senhores Vereadores
Nas perucas dos Senhores Senadores
Senhores! Senhores! Senhores! Minha Senhora! Senhores! Senhores!
Filha da Puta! Bandido! Corrupto! Ladrão!
Sorrindo para a câmera sem saber que estamos vendo
Chorando que dá pena
Quando sabem que estão em cena
Sorrindo para as câmeras sem saber que são filmados
O sol um dia ainda vai nascer Quadrado
Isso não prova nada! Sob pressão da opinião pública
É que não haveremos de tomar nenhuma decisão!
Vamos esperar que tudo caia no esquecimento Aí então... Faça-se a justiça!
Vamos arrumar vossas acomodações, Excelência.
Filha da Puta! Senhores! Corrupto! Senhores! Bandido! Senhores! Ladrão!
(Vossa Excelência -Titãs)

14 agosto 2007

Crise da Democracia representativa.



Uma página com mais de três dezenas de artigos sobre o tema, a crise da Democracia representativa, e por que não dizer, a crise da mais sofisticada forma de controle social?

Aonde irá a Democracia nascida na Grécia, já excludente, passando pelas tradicionais adaptações liberais, hoje o neoliberalismo inventou a Democracia sem Estado, onde as responsabilidades deste são unicamente o de promover programas de integração ao mercado. Será a morte da Cidadania? ou a submissão deste valor ao monstro-mercado ? Hoje ser cidadão ,segundo as ações do Estado e a veiculação da mídia, não passa por tão somente se tornar consumidor ou produtor, como diz Evelina Dagnino(que não está presente na seleção).

Autores como Eduardo Galeano, José saramago e muitos outros trazem ao debate, o que a grande mídia esconde, o esgotamento do capitalismo e da Democracia liberal como alternativa à solução dos problemas mais básicos da humanidade. Ou será que existe alternativa dentro da perverssão capitalista-global?


Acesse e tire suas próprias conclusões no sítio do Le Monde:


05 julho 2007

Violência no Rio de Janeiro.



Entrevista com Cecília Coimbra, presidente do Grupo Tortura Nunca mais do Rio de Janeiro. Cecília é psicóloga e professora da Universidade Federal Fluminense. O Grupo está envolvido na apuração e na denúncia do massacre no Alemão, indo ao local e ouvindo os principais envolvidos: os moradores.Cecília criticou a forma como foi veiculado o caso na grande mídia e contou alguns relatos de crimes cometidos pelos policiais, feitos por moradores do Alemão ao Tortura Nunca Mais. Entrevista concedida por telefone no último sábado, 30 de junho e publicada no portal do pstu.


O que aconteceu no Alemão, na quarta-feira, chocou o país inteiro e teve repercussão internacional. O secretário de segurança disse que quem não era bandido virou, porque resolveu enfrentar a polícia. E o que a gente vê são fotos até de crianças.

.Cecília – Tem crianças sendo degoladas, inclusive, diante das mães. Nós tivemos um caso de um menino de 13 anos e existem outros casos que os moradores informaram ontem [29/7/2007].


Os moradores estão com muito medo, porque eles ficam no meio do tráfico e da polícia. A polícia está muito mais violenta do que o tráfico, com invasões de domicílio, com essa coisa de degolar, inclusive de enfiar facão e degolar crianças.Houve relatos de roubos também. Isso está mesmo acontecendo?

Cecília – Invasão de domicílio e roubos. Isso aí sempre aconteceu em toda e qualquer invasão de favela. É o cara que bota o pé na porta e invade a sua casa como se fosse casa de ninguém. É uma coisa que a gente diz: será que a guarda nacional vai para a zona sul, para as áreas nobres do Rio de Janeiro? O “caveirão”, que vive andando aqui nas favelas do Rio, será que ele percorre as ruas da zona sul do Rio de Janeiro, os bairros de elite? São perguntas que a gente tem de fazer. A gente não pode naturalizar isso. E a grande massa da população brasileira, porque está tendo as suas cabeças feitas pelos grandes meios de comunicação de massa, acham sim que bandido tem de ser morto, que, se é bandido, até merece ser torturado e morto. É essa “política de tolerância zero” que está em vigência aqui.É terrível. Nós somos minoria, porque a gente não tem acesso aos grandes meios de comunicação de massa e a gente é desqualificada – os movimentos de direitos humanos – como “aqueles que defendem bandidos”. Temos de pensar por que isso é dito. Quando a gente acha que direitos humanos também devem ser estendidos aos pobres, a todos aqueles que nunca foram considerados como humanos, a gente passa a ser “defensora de bandido”.


O governo anunciou que vai voltar ao Alemão e que vão ter outras seis operações iguais – Cidade de Deus, Mangueira, Maré...

Cecília – Isso foi denunciado ontem. A companheira nossa, que está acompanhando, junto com o Justiça Global e outras entidades, essa invasão do Complexo do Alemão, colocou, inclusive, que tem um plano nacional de segurança pública, que vem dentro da “política de tolerância zero”, de cercar as ditas zonas perigosas, cercar as favelas.Você acha que o “PAC da Segurança” do governo Lula, que prevê mais de R$ 400 milhões só para o Rio de Janeiro, tem a ver com aumento de repressão?Cecília – Sem dúvida que é aumento de repressão. O Globo de hoje diz o seguinte: “Força Nacional permanecerá no Rio, no segundo semestre, para cercar favelas”. Olha como se produz um território perigoso, onde mora a pobreza, como se toda a pobreza fosse bandida. E até é de se pensar que bandidos são esses que estão lá. Que “pé-de-chinelo” é este que está lá? É a mesma coisa que havia na África do Sul, no regime racista do Apartheid, de campos de concentração. As comunidades ditas perigosas começam a ser cercadas. É isso que está se passando.Os jogos Pan-Americanos acirraram esta situação?Cecília – Justamente. Não é por acaso o que está acontecendo no Rio hoje. O Pan está aí, semana que vem está acontecendo. É a limpeza das ruas, é essa coisa do “higienismo do século XX”, que hoje se maquia. Está com outra cara, dentro da “política de tolerância zero”. “Vamos limpara as ruas! Vamos tirar a sujeira que está nas ruas!” Não é através de políticas que possam tirar estas pessoas da situação miserável em que estão: é pela pura repressão. E aí todo mundo apóia. A “política de tolerância zero” dos estados Unidos coloca isso muito claramente: em nome da qualidade de vida de alguns, muitos precisam ser reprimidos. Em nome da qualidade de vida das elites, a pobreza tem de ser exterminada. Não tem emprego para todo mundo. O dito Estado de bem-estar social cada vez se minimiza mais, e se fortalece o Estado penal. É o Estado penal que está vigendo aqui, o Estado penal repressivo e punitivo.


Como está, neste momento, a situação no Rio? Como está reagindo a população, inclusive quem não está no morro?

Cecília – De um modo geral, a população que está sendo informada só pelos meios de comunicação de massa está achando que é isso mesmo. Cria-se um clima de terror e de medo muito grande. Cria-se uma paranóia coletiva, e as pessoas acham que para a sua segurança tem de matar o outro mesmo, tem de cercar estes lugares perigosos mesmo, tem de transformar isso em campos de concentração. É o problema da sua segurança: a classe média está apavorada. Não é que a violência não exista, a violência está aí. Agora, ela é apresentada de uma forma que cria pânico, cria terror, e esse medo é uma forma de controle social. Quanto mais tutela do Estado a gente pede, mais repressão a gente pede, mais a gente está podendo ser atingido por essa repressão do Estado. Não tenhamos dúvidas disso.Eu ontem estive conversando com uma psicóloga, ex-aluna minha, que trabalha no Centro de Saúde do Morro do Alemão. Fora os depoimentos que a gente tem tido dos companheiros das entidades e da nossa companheira que estão indo lá. Os moradores dessa região estão apavorados. A população está com muito medo. Realmente, o terror dessas pessoas não aparece nos grandes meios de comunicação de massas. As barbáries que a Força Nacional e que a Polícia Militar estão fazendo no Complexo do Alemão não estão sendo mostradas. Mostram os arsenais de armas que foram apreendidos para justificar a matança. É muito sério, porque hoje a gente tem um outro dispositivo importante que controla e domina as mentes das pessoas, que são os meios de comunicação de massa hegemônicos. O que eles dizem passa a ser verdade. Ontem, por exemplo, a manchete do Globo transformava um cara que é um PM num herói, aparece fumando charuto. Esse cara, inclusive, segundo um depoimento de um morador de Acari, que esteve ontem no nosso evento, é uma pessoa conhecida das comunidades. Esse cara vira herói, fez o trabalho que tinha de ser feito. E sempre com a justificativa de estar indo contra os traficantes. Eu me lembro que, há alguns anos, a Marilena Chauí colocava uma coisa muito interessante que é: antes eram os terroristas, hoje são os traficantes. Isso justifica a repressão, e a população engole. Isso que é o pior: a população acha que isso é natural mesmo e se produz um individualismo cada vez maior, que é uma das pragas do capitalismo. “Eu cuido de mim e que se dane quem está do meu lado. Se ele é bandido, merece morrer mesmo, porque está pondo em risco a minha vida e a vida da minha família.” Entende? É este o pensamento hegemônico, infelizmente.


Até o momento, se tem notícias de que o centro de controle do tráfico tenha sido atingido ou fragilizado?

Cecília – Que eu saiba não. Eles apreenderam armas, mostraram armas na televisão, etc. e tal, fazem aquelas grandes mise en scénes, que são formas de justificar, mas a gente nem sabe se aquelas armas foram encontradas lá. Não se sabe.


Há alguma atividade prevista do movimento com relação ao massacre do Alemão?

Cecília – Hoje o pessoal está indo lá dentro do Complexo do Alemão. Várias entidades de direitos humanos vão entrar e tentar conversar com os moradores, fazer contato com os movimentos – há movimentos interessantes dentro do Complexo do Alemão. Na terça-feira, está programada uma manifestação para ver se o secretário de Segurança Pública recebe as entidades. Ontem e anteontem se fez manifestações na frente da Secretaria de Segurança Pública, mas o secretário só queria receber três entidades quando havia mais de vinte entidades presentes. Aí, ninguém aceitou isso.Na terça-feira, já tem programada uma ida à Secretaria de Segurança Pública. A gente soltou uma nota conjunta com várias outras entidades sobre essa situação. Estamos lá [no Alemão], tentando ter o apoio dos moradores do local, estamos mais próximos a eles. É o que a gente tem programado.


Leia também - "Violência, um grande negócio"- http://wallacecamargo.blogspot.com/2005_09_24_archive.html


Observatorio de favelas

04 julho 2007

MINHA MISSÃO.

Quando eu canto
É para aliviar meu pranto
E o pranto de quem já
Tanto sofreu
Quando eu canto
Estou sentindo a luz de um santo
Estou ajoelhando
Aos pés de Deus
Canto para anunciar o dia
Canto para amenizar a noite
Canto pra denunciar o açoite
Canto também contra a tirania
Canto porque numa melodia
Acendo no coração do povo
A esperança de um mundo novo
E a luta para se viver em paz!
Do poder da criação
Sou continuação e quero agradecer
Foi ouvida minha súplica, mensageiro sou da música
O meu canto é uma missão ,tem força de oração ,e eu cumpro o meu dever
Aos que vivem a chorar ,eu vivo pra cantar , e canto pra viver
Quando eu canto, a morte me percorre e eu solto um canto da garganta
Que a cigarra quando canta morre, e a madeira quando morre, canta!


(João Nogueira e P.César Pinheiro)

02 junho 2007

Chavez e a RCTV.



Quando a Globo quer que acreditemos que Lobo Mau é chapeuzinho, ela não mede esforços. Pois então esta rede e congressistas da direita brasileira falam que Hugo Chaves teve uma postura autoritária ao quebrar a concessão ,eles desconhecem ou, pretendem encobrir a História recente da Venezuela.

É preciso dizer que quem realmente se portou como golpista foi a rede de TV venezuelana, ao apoiar o golpe contra Chavez (Abril de 2002), manipular imagens dos conflitos que antecederam à tentativa de golpe e comemorar abertamente a destituição do seu governo.

Uma concessão pública se esgotou após 20 anos , e um governo tem todo o direito de vetar sua renovação, se esta não atende aos interesses da maioria do povo venezuelano, é plenamente dentro da lei. É bom que se diga que esta é uma prerrogativa de todas as democracias.

Se há golpismo, esta postura foi sempre , escancaradamente das oligarquias e classes favorecidas deste país, sempre protegidas em seus atos espúrios , por esta rede de televisão.

Não é somente um ato de cinismo, as declarações da secretária de Estado dos EUA, na defesa dos nobres deputados da direita brasileira, C.Rice, é uma forma clara de esvaziar e dividir o MERCOSUL para abrir caminho para a ALCA.

Ao chamar o nosso congresso de “Papagaio dos interesses dos EUA” , Chavez acertou, pois a História republicana do Brasil mostra o quão de quatro esta instituição está para as intervenções em nossa economia , e por que não dizer, em nossa soberania.

É certo que, Chavez é um populista, no que tange a permitir a existência desta elite econômica venezuelana, continuar o frondoso comércio de petróleo com os EUA, e não promover a participação ativa dos movimentos populares em sua gestão,enquanto envia recados certeiros e felizes para o “Império”. No entanto Chavez, ao contrário de Lula , tem coragem para desarticular as redes oligárquicas locais. Quem neste processo afronta a Democracia são aqueles que desejam manter as feridas abertas da América Latina para o vampiro estadunidense.

Imagine só você ,meu caro leitor, se não mais se renovassem os direitos públicos de concessão da Rede Globo de televisão, esta emissora que tem compromisso com os desmandos das elites brasileiras desde que foi fundada.

28 fevereiro 2007

O ECA e a falácia do argumento da impunidade.

Há um claro temor da sociedade pela crescente violência em nosso país. Não somente nas grandes cidades mas também em suas regiões metropolitanas, como mostram os últimos estudos. Os meios de comunicação apresentam a difícil realidade, porém incorrem em erro quando atribuem ao estatuto da Criança e do Adolescente(ECA) a responsabilidade pelo aumento da violência e da agressividade dos atos.
Estimulado pela grande mídia, o clamor por soluções, por parte da sociedade, tem passado mais pelo espírito de vingança e de revanche, do que por medidas que ataquem pela raiz a crescente anomia.
Gostaria de elencar alguns fatores que são ignorados pela mídia de massa e que são apontados por estudos científicos recentes:

No ato do crime , é onde teme o bandido pela sua vida,na medida que nossa polícia é a que mais mata no mundo. É a pena de morte não institucionalizada. A maior ou menor rigidez da pena não diminui índices de violência.
95% dos meninos e meninas delinquentes presos não completaram o ensino fundamental, que gera baixa auto-estima, na medida que sua integração à sociedade fica dificultada.
As famílias com menor formação escolar formal, possuem dificuldades para transmitir valores para seus filhos, para que se contenha a agressividade.

A grande maioria dos adolescentes infratores, faz uso do álcool ou outras drogas, que dificultam a consciência do ato violento.

É cada vez maior a degradação econômica destes jovens e suas famílias , ao mesmo tempo, que é estimulado o consumismo pelos meios de comunicação.

O sistema penitenciário, incluindo aí, as instituições para menores infratores, não cumprem seus designos de ressocialização. Os estado brasileiro e suas federações não cumprem as metas apontadas pelo ECA, que preveem medidas sócio-educativas. Estas instituições são meros depósitos de adolescentes e crianças.

A polícia corrupta, busca(e não consegue) proteger a propriedade, em detrimento do cidadão.
Este aparelho de repressão é, por princípio, péssimamente formado e remunerado e acaba levando boa parte da culpa pelo aumento da violência, quando na verdade, a culpa é da falta de investimentos sociais básicos.A velha máxima de Washigton Luís, " O problema social é um caso de polícia", está cada vez mais sendo reverenciado.

A escola brasileira é responsável pela expulsão de milhares de jovens dos bancos escolares, levando-se em consideração também , a demanda por emprego destes.
A educação brasileira possui um currículo baseado na transmissão de conteúdos, fechada para o contexto social e preocupada muito mais com as disciplinas técnicas do que com as disciplinas reflexivas do mundo em que vivemos.
Fechada para a realidade, voltada para o modelo fracassado dos vestibulares( que não é critério de qualidade para o ingresso na universidade) se nega a discutir valores que carecem a humanidade.
Confunde-se formação com apropriação e memorização de conteúdos disciplinares. É uma escola pouco atraente, que utiliza a avaliação como instrumento de punição, ferramenta de poder para professores, e mero medidor de absorção de conteúdos. O resultado é o desestímulo, o abalo da auto-estima, o abandono, e a perda de referência da educação como fator de integração à sociedade, ao emprego e a melhoria da qualidade de vida destes jovens e suas famílias.

O problema da violência, tem suas origens na concentração de renda, no estímulo à ostentação, e no atacado, à incompetência do sistema capitalista em promover a igualdade social. A tão decantada impunidade não é a principal causa, a não ser aquela que se refere aos poderosos. O problema central não está na lei, e sim , no poder executivo que não cumpre as leis ,e não resolve as necessidades básicas da população que vêem aumentadas suas demandas, na medida que o projeto econômico dos últimos 500 anos, atende às elites econômicas, nacionais e internacionais.

O Estatuto da Criança e do Adolescente é uma lei fabulosa na prevenção ao crime. Responsabilizar a maioridade penal pelo aumento da paticipação dos jovens em crimes, é uma leviandade, ou ignorância, daqueles que procuram insistentemente criminalizar a pobreza, como justificativa para a falência deste modelo econômico.

O código penal é amplamente executado para maioria pobre da população enquanto o código civil atende a uma minoria de privilegiados do sistema.

No couro do tamborim.


Sabe quando bate o vazio da quarta -feira de cinzas? A saudade do clima vadio do carnaval do Rio de janeiro, da alegria estampada na cara do folião do Cordão do Bola Preta, da espontaneidade do Bafo da Onça e do Boêmios de Irajá, da força popular do Cacique de Ramos. O vácuo do samba de terreiro, de quadra, dos ensaios das escolas de samba. Você que se sente orfão do samba de primeira, das marchinhas dos antigos carnavais pode se contentar com algumas das belas páginas de samba de raiz, até que chegue o dia da próxima roda de samba!

02 fevereiro 2007

A casa do Oscar.


A casa do Oscar era o sonho da família. Havia o terreno para os lados da Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar.

Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar.

Mais tarde, num aperto, em vez de vender o museu com os cacarecos dentro, papai vendeu o terreno da Iguatemi. Desse modo a casa do Oscar, antes de existir, foi demolida. Ou ficou intacta, suspensa no ar, como a casa no beco de Manuel Bandeira.

Senti-me traído, tornei-me um rebelde, insultei meu pai, ergui o braço contra minha mãe e sai batendo a porta da nossa casa velha e normanda: só volto para casa quando for a casa do Oscar! Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguases, projeto do Oscar.

Vivi seis meses naquele casarão do Oscar, achei pouco, decidi-me a ser Oscar eu mesmo. Regressei a São Paulo, estudei geometria descritiva, passei no vestibular e fui o pior aluno da classe. Mas ao professor de topografia, que me reprovou no exame oral, respondi calado: lá em casa tenho um canudo com a casa do Oscar.

Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando a minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é a casa do Oscar.

Homenagem de Chico Buarque ao arquiteto. 2000

03 janeiro 2007

SADDAM HUSSEIN.

A condenação de Saddam Hussein à forca , condena também toda a política dos Eua para o Oriente Médio.

O ditador foi posto e sustentado no poder pelos Eua. Inclusive , a condenação por tribunal de excessão, sem direito à defesa e o enforcamento , lembram a barbárie que vivemos, em um mundo dominado pelos valores desta pátria dos cifrões.

Foi enforcado por matar Curdos, com armas norte- americanas .

Condenável é a ação interventora estadunidense no Iraque ou na Palestina, via seu braço armado, Israel.

Condenável é o fato de no século XX, a cada 3 anos, os EUA terem provocado uma guerra que fosse ao encontro dos desejos da sua burguesia.

A forca é um instrumento , e símbolo, do que deseja para o mundo estes senhores da guerra .A forca é o seu emblema para tratar o planeta com se fosse seu quintal.

Sua democracia, onde poucos votam e ninguém participa, é a corda que serve de pretexto para o enforcamento daqueles que teimam em dizer, que um dia vocês cairão, como todo império da violência caiu durante a História.

Que percorram pelo mundo, as imagens do enforcamento do ditador sanguinário, sócio dos negócios e da política dos EUA, como também foi a Al-Qaeda,para que possamos nos enxergar, como nos tranformaram em meros espectadores das atrocidades cometidas ,como se fosse mais um filme de mocinhos e bandidos, para que um dia não muito longe, percebamos sua bandeira como mera suástica dissimulada.

Leia também,
"Ideologia e oportunismo"-O mito do fascismo islãmico" em
http://diplo.uol.com.br/2006-12,a1448