17 dezembro 2017

Reflexão sobre ciências,universidade,política e o controle social.

"Se tivermos sorte teremos o privilégio da servidão"(Camus),mas se não contarmos com a sorte,lutemos até o fim para que não sejamos transformados em escravos do capitalismo.

Estamos bem próximos desta modalidade de mão de obra,despidos de direitos servimos como máquinas,quase sem remuneração a serviço do monstro financeiro que explora de forma incansável.

Remunerar trabalhador nunca foi objetivo do capitalismo,o justo pelo trabalho encarece o produto,mas hoje vivemos o vilipêndio,a desconstrução de conquistas trabalhistas e sociais.

Mas isso não é o pior.O pior é que esta máquina  capitalista que coisifica o ser humano é ainda mais cruel por naturalizar e banalizar esta sub-condição de vida.

Nos tornamos escravos nesta modernidade em desconstrução indecente e acatamos e nos sujeitamos como se fosse normal.

Como em Heidegger,nós próprios nos tornamos  veículos de justificação desta máquina de moer gente,nos tornamos nós mesmos capatazes do nosso corpo e de nossas mentes e enquanto torturados,sorrimos em uma esperança vil e mesquinha de superarmos a condição de miserabilidade econômica e da alma, por meio da individualização ,da busca por status e ascensão social.

Operamos cotidianamente como legitimadores deste sistema, não só porque o aceitamos docilmente,mas por agirmos como propagadores dos valores.Integrados ao modelo econômico,a educação(formal e não formal) rege nossos planos e sonhos segundo a receita de um currículo escolar feito para atender à obsolescência de nós mesmos,a descartabilidade das relações e a monetarização da vida.

Enquadrados pelos modelos alienantes(educação, comunicação,relações sociais,religiões),somos os principais agentes multiplicadores desta ordem.Nas cátedras universitárias,antes da crueldade atual dos ataques do capital,o silêncio era o verbo e a obra(majoritariamente),formando vontades e desejos em cada um dos estudantes para se dispor mais qualificadamente ao mercado.
Se outrora as nobrezas distribuiram títulos àqueles que não possuiam "sangue azul",multiplicando na sociedade seus valores,introjetando em alguns membros  a certeza da retidão das verdades monárquicas,hoje,títulos acadêmicos servem para justificar e docilizar mentes antes rebeldes.

Milhares de antigos lutadores contra este sistema cruel foram absorvidos e modelados à crença de brechas nos sistema para humanizá-lo,e não para destruí-lo.Antigos lutadores selvagens viraram moderados e mediadores do sistema.

E assim, segurando a mão do sistema carregamos com a outra os desvalidos no caminho da aceitação e da integração.A universidade pública hoje atacada com um rolo compressor, silenciou diante do massacre aos mais pobres,forjando esperanças falsas, em que por meio e pela via da "adequação" à Ordem,os portadores do conhecimento e aqueles que os aceitassem como forma de luta,seriam integrados e abraçados pelo modo de produção capitalista,teriam diminuidas as suas dores mesmo que as dores do povo pobre do país mais desigual do mundo não fossem resolvidas,senão remediadas.

Os remédios paliativos de sintomas eram receitados pela cátedra,e perceba também,que esta lógica se seguiu na política da esquerda que submeteu suas histórias de luta à domesticação do controle da rebeldia em troca de assistência do Estado aos mais degradados economicamente.

A conciliação de classes através da política de esquerda liberal, que gerou degradação às condições materiais da maioria,também foram forjadas dentro das universidades e escolas, e todos os seus membros que colaboraram,esperando a bondade do capital hoje estão atônitos,vendo que a política não funciona como no modelo darwinista de evolução permanente e inexorável.

O edifício da colaboração de classes,seja pela ciência ou pela política ruiu, e o desejo de felicidade foi controlado pela "vontade Kantiana" da racionalidade do modelo burguês que só inclui aqueles que  oferecem seus préstimos ao sistema em troca de participação na distribuição de migalhas.

04 novembro 2017

ENEM, DIREITOS HUMANOS e medida do STF.



Liberdade de expressão nada tem a ver com a possibilidade de, em nome da "livre expressão", reforçar estereótipos ,estigmas e preconceitos.
Em uma sociedade globalizada a construção de identidades são importantes tanto quanto  os "padrões culturais”, referências transformadas ao longo da história, e só atuais para os que pensam que as culturas são estáticas, não se modificam. Tradições são cimentos sociais, mas o tradicionalismo é ideologia, enquanto aparato de falsificação da realidade e universalização de valores de classes sociais dominantes sobre todas as outras.

A ministra Carmem Lúcia ao referendar medida de MBL à redação do ENEM, atenta contra princípios da legalidade democrática, da regra da boa e segura convivência entre diferenças.

Lembrando que a democracia, elenca a proteção ao indivíduo, sua segurança baseada na racionalidade da lei, de forma que venha impedir  na sua forma liberal-iluminista que a força física possa ser praticada à revelia do contrato social. Sim, um atentado à legalidade na medida que legitima a violação da "sacralidade" da lei, que por princípio e teoricamente, garante juridicamente a coexistência pacificada entre os cidadãos.

 Com sua medida, a ministra não impede que outros pontos do edital do ENEM sejam considerados na correção da redação, como, Alteridade, diversidade e multiculturalismo. Violá-los pode até não gerar um "zero" ,mas sem dúvida reforça o valor da vingança contra ato violento, característica que não faz parte da racionalidade do Estado liberal-democrático.

A violência pode ter seu caráter simbólico no discurso, afetando a vida e "esfarelando" o critério da racionalidade da lei.

Os direitos humanos fazem parte de um esforço humanitário para a garantia da dignidade humana. Uma "ética" "a priori" que deseja servir de referência à culturas e Estados que violam a vida e a integridade do ser humano, seja ela qual for.

O estado de direito se garante pela inclusão de todas as formas de existência e expressões, desde que estas formas não reforcem os discursos de ódio, ou fomente o preconceito, forma cultural onde não se busca entender o conceito, expressando pensamento pré-concebido, do senso  comum, não reflexivo, que não permite uma leitura das realidades de sociedades contemporâneas, extremamente complexas culturalmente.

Mulheres, negros, homossexuais, povos originários são massacrados historicamente por Estados que sobrevivem à revelia da justiça, inclusive o nosso.

Não sou da área jurídica, mas como sociólogo, posso afirmar   que medidas que desalojem a filosofia civilizatória da democracia, se tornam um atentado contra a humanidade.
Também não sou Liberal, nem acredito que o sistema capitalista possa promover a Alteridade e a solidariedade entre grupos sociais e povos, mas para as regras jurídicas, valem mais a segurança da razão do que a livre expressão que fortaleça o ódio e a intolerância e por consequência, a Anomia.

A educação tem como função essencial permitir o acesso à ferramentas de leitura do mundo em toda a sua complexidade, favorecendo  que cidadãos se tornem sujeitos  de suas próprias vidas, que possam fazer opções mais seguras, garantindo a liberdade, desde que esta liberdade não permita suprimir a existência do outro.

A igualdade jurídica não leva a igualdade econômica ,mas permite que as populações mais vulneráveis à violência possam ainda, recorrer à lei para a garantia da justiça.

Neste sentido, qualquer medida legal que viole os princípios democráticos pode fazer ressuscitar os monstros do nazi-fascismo que produziu milhões de mortos, fascismo que colocava alguns padrões culturais acima de outros, que faz do Estado expressão de alguns valores morais sobre os demais.
Aliás, que instituições jurídicas são estas que legitimam a própria violação da democracia?

Quando a democracia é golpeada, a derrota é dos humildes, explorados e vulneráveis econômica e socialmente.
A declaração dos direitos humanos é potencial para a garantia da reprodução das práticas democráticas. A medida do STF só pode encontrar eco na obscuridade de um regime não muito distante, onde a farda valia mais do a lei.

22 outubro 2017

"O Fascismo é o liberalismo que perdeu seus escrúpulos."



Da difícil unidade das esquerdas sabemos que qualquer tentativa de agrupamemto é sempre benvinda.No entanto os erros do passado continuam assombrando como fantasmas.
Os vícios do eleitoralismo puro,da falsa crença em um "evolucionismo" democrático no caminho da superação do capital,faz com que alianças entre esquerdas sejam feitas em torno de processos eleitorais.

A unidade não existe em torno de programas construídos pelas bases sociais.Isto é histórico e as razões estão centradas em torno do desejo de conciliar interesses de classes incompatíveis.

A História,inclusive a recente,mostra o quão irresponsáveis são as ideias que preconizam a "unidade das esquerdas" a qualquer custo.

O argumento reformista é de que devemos assegurar direitos históricos vilipendiados pelo radicalismo capitalista.Este argumento soa como estaca nos corações dos maltratados pelo sistema.

A Razão histórica é perdida diante de ataques cruéis aos trabalhadores.A História nos confirma que o jogo democrático é viciado,que as instituições do Estado burguês se voltam para a garantia da manutenção da ordem excludente e concentradora.É certo também,que no jogo democrático as conquistas sociais permitiram avanços,e que cada espaço deve ser disputado com todas as forças.Claro que quem tem fome tem pressa,mas as barrigas saciadas tem sonhos de saciar novas fomes,geralmente associadas ao consumo e à ascensão social.

É preciso que as bandeiras das utopias sejam hasteadas de novo.

A descrença na democracia é produto ,dentre tantos outros fatores ,ao fato de que trabalhadores não conseguem discernir aonde estão os "seus",cada vez mais envolvidos com opressores.

Via de regra,abandonamos programas de enfrentamento para buscar setores de uma suposta burguesia "mais humana".

Lembremos que as conquistas sociais são resultados de duras lutas sociais que empurraram a instituições democrático-liberais a ceder dedos para não perder as mãos.

Se 2018 é logo ali,perdemos tempo precioso de um século XXI onde se acreditou em corações de proprietários sensíveis à barbárie de seu sistema.

Setores da esquerda socialista e da esquerda liberal são cachorros girando em torno do rabo,não importa o quanto os erros recentes provocaram danos aterradores aos mais pobres.

Nos tornamos fragmentos de uma pós-modernidade que recortou nossos sonhos em lutas específicas importantes como o antiracismo e muitas outras lutas, ou ao afirmar "espaços de fala" e "empoderamentos".Perdemos o centro da luta contra opressores.Os próprios liberais que criaram os direitos humanos nos empurraram as lutas específicas que sobrecarregam nossas agendas.

É necessário que associemos de novo nossos ideais libertários,afirmativos de direitos e até "compensatórios",mas que mais uma vez não percamos de vista que liberais-sensíveis se apoiam até nos monstros fascistas quando seus edifícios econômicos estão desmoronando.

A História é pedagógica e nos mostra e reafirma que as escolhas estão cada vez mais esclarecidas: "Socialismo ou barbárie".

03 outubro 2017

A vida como obra de arte,a censura como morte.


A arte livre viola subjetividades, garante o debate sobre a cultura e a moral, desdenha do que foi naturalizado e banalizado.

Seja qual for o tipo de arte, os juízos de valor são submetidos a julgamento.

O caráter subversivo da arte não transforma sociedades, mas forja pessoas aptas para o pensamento autônomo e a fruição de subjetividades. A Arte impede o servilismo e a subserviência, liberta instintos vitais-criativos, promove o tensionamento com o mundo visto sob a ótica da Razão instrumental e cientificista.
São diversas as tentativas históricas de submissão da arte ao pobre moralismo religioso, às estruturas ideológicas dominantes, aos malfeitores dirigentes políticos que representam a aberração de um capitalismo que mata objetivamente e cria símbolos de morte em vida.Sistema este que condena bilhões à fome, condena à frustrações pessoais por não inclusão, ou a não obtenção de status sociais, constrói signos de submissão à ordem injusta estabelecida.

A política é o meio de libertação da opressão.Não a política institucional do liberalismo,mas a política que movimenta multidões para arrancarem seus grilhões.

A crise ética pós moderna que enfrentamos é resultado também do sufocamento da liberdade de criação e negação da apropriação da cultura pelos marginalizados,e isso é de responsabilidade da política liberal-capitalista,não culpa da arte.

Arte e Política são formas humanas de emancipação,de superação das explicações místicas que condenaram a humanidade à cega obediência do oportunismo dos "Donos do poder" econômico, de crítica aos tradicionalismos culturais(diferente de tradições culturais) que são ferramentas de reprodução de falsa consciência da realidade e manutenção da ordem perversa e desigual.

Lembro que mesmo o "realismo socialista" stalinista quisera submeter a arte livre ao rótulo de "mero desvio pequeno burguês", que recebeu resposta a altura de Breton e Trotski("Manifesto do surrealismo,por uma arte revolucionária e independente").
A arte em espaços privados possuem seus mecanismos regulatórios(as vezes não suficientes) para evitar a exposição de crianças.

O que dizer sobre os meios de comunicação de massa que expõem a obscenidade da farsa de um sistema que mata simbolicamente e concretamente?

A arte subverte a ordem  e atinge a moral e ética burguesas. Controles e patrulhas ideológicas(lembrando das personagens de Chico Buarque, onde os tribunais das  redes sociais confundem o "eu lírico" com o autor) submetem às consciências às lógicas empobrecedoras da consciência.
A arte livre é revolucionária, a barbárie tem outro nome: indústria cultural capitalista.

15 julho 2017

Público e privado,a "casa e a rua".

"Lei autoriza que moradores de vias com cancelas impeçam a entrada de carros e pessoas.Um dos artigos do texto prevê que acesso poderá ser proibido das 22h às 7h".

Lei municipal que pretende impedir a circulação de pessoas às ruas com cancelas,algo que tem sido cada vez mais comum no subúrbio do Rio de Janeiro é mais um atentado ao estado de direito.

Desta vez no varejo,este novo golpe revela a insanidade das classes médias que abandonam a luta por direitos e privatiza a proteção à propriedade particular.

Estimulados por  vereadores e deputados do RJ que tratam historicamente a política como ato patrimonialista,com seus "currais" eleitorais,exploram o medo para a obtenção de votos.Vemos isso a nível nacional,com protofascistas que exploram o temor à violência para obtenção de vantagens eleitorais.Uma visão curta da política que nos remete ao "coronelismo" ,com acordos de "chefes locais" com governos centrais para que em troca da conivência com políticas no âmbito federal,tem caminhos abertos(coronéis locais) para produzir embustes em seus currais eleitorais.

A perda de credibilidade das instituições,a falência da democracia representativa,a privatização do Estado e das políticas públicas em benefício dos proprietários são o que movem estes "toques de recolher" que atingem em cheio os mais pobres em seu livre direito de utilização dos espaços públicos.

Tal como milícias,determinam a ordem social segundo seus critérios e vontades privadas em detrimento dos sem voz e sem capacidade de organização política.

Tal como as polícias militares que julgam e executam à revelia da lei promovendo o holocausto na favela e periferia.

A vereadora que propõe tal aberração jurídica e política me lembra Montesquieu que atribuía a desorganização da democracia ao desejo da participação popular de ir além do voto.

Segundo o advogado advogado Luiz Paulo Viveiros esta lei representa um retrocesso histórico; "um retorno aos tempos do Vidigal (Miguel Nunes Vidigal, militar brasileiro), que foi chefe de polícia do Império e dizia assim: "Quem é de dentro, dentro, quem é de fora, fora!". Porque quem fosse pego na rua depois das 21h era recolhido."

Assim como abandonou a luta pela escola pública e pela saúde pública,"nossa" classe média faz isto com a segurança pública,arrota sua postura de proprietário,se pensa como burguês,odeia sua condição original de classe popular,se orgulha das suas conquistas no consumo abrindo mão de lutar por direitos para obter privilégios.

O antropólogo Roberto Damatta fala na "cidadania relacional" como característica brasileira,o abandono das lutas por conquistas de direitos em benefício da criação de "teias de relações pessoais" que lhe privilegiem no acesso aos bens públicos.Acrescentaria,que esta cultura do "jeitinho" e do "sabe com que está falando?",do "pra quem quer levar vantagem em tudo" é um produto histórico,de uma ausência do Estado brasileiro que forjou uma forma de "cidadania" do privilégio pessoal.

Não tenham dúvidas,esta classe média que quer se "encastelar" é a mesma que se arvora contra políticas públicas como "bolsa família" e "cotas raciais".

Esta classe média,pouco ou mal escolarizada,que ascendeu socialmente sem o apreço à cultura, alheio ao valor da alteridade é presa fácil aos profissionais da política oportunistas e sem caráter moral.

Por menos "cancelas" e muros,por mais pontes que religuem a rua como espaço público de encontro e solidariedade e consciência de que a política é ferramenta do bem comum e não canal de viabilização da vontade de proprietários.

03 junho 2017

PÓS MODERNIDADE

Fique atento!As velhas formas de dominação se travestem como novas.

O mundo fragmentado,efêmero apresenta o presente sem História,sem passado e sem futuro,apresenta o "agora" como única maneira de viver.

As lutas sociais perderam sentindo de transformação global e  o novo só pode permitir a "inclusão" a um mundo onde a perspectiva permitida é o consumo.

O pós moderno,que abandona a História e a mudança é a velha proposta conservadora.Com cara de novo,eu luto pela inclusão,eu afirmo a beleza da diversidade e esqueço que o diverso e o plural,ainda que belos,estão excluídos da festa da pujança e da abundância capitalista.

A pós modernidade petrifica e congela o momento,eterniza a pobreza e a exploração do Homem pelo Homem.

Mas que beleza,posso em ato libertário defender os direitos da mulher,do povo originário e do negro,desde que estes continuem a existir em sua condição de classe,subordinada economicamente.

Finalmente livre para levantar minha bandeira fragmentada !
Se a História não existe,se o futuro e o passado já não me servem,me "emancipo" culturalmente sem me emancipar economicamente.

E aí o pós moderno é somente armadilha,onde incautos levantam-se contra as opressões sem origens econômicas,pois é tudo uma questão cultural,moral ,e nada poderá conter meu desejo de liberdade,desde que não conteste a propriedade e o capital e suas expressões subjetivas e mesquinhas.

O presente que encerra o ensinamento do passado e a perspectiva de um futuro realmente livre das tutelas  de dominação de classe.

"Deixe a vida me levar,vida leva eu",do "pagodinho",expressão pós moderna do samba,que supera a essência de denúncia da cultura excludente desta forma de cultura popular,é um símbolo desta velha forma de dominação e controle.

"Não sou eu quem me navega,quem me navega é o mar".
O "tradicionalismo" se impõe como ideologia e apaga traços das tradições que subvertem a ordem.
"Espíritos do passado que oprimem o presente", apresentando o velho com suas sofisticadas formas de garantia da ordem social."Pós verdade","pós industrial",pós modernidade.. e todos os "pós" apagam as lutas de superação da sociedade de classes.

Se a modernidade está superada,todas a formas de questionamento a Ela também devem ser enterradas "em pé, para não ocupar espaço".

A "sociedade do conhecimento" outorga o poder e não mais a posse do capital.Basta que passemos o tempo estudando para que sejamos "empoderados".A academia encastelada agradece,os intelectuais estavam cansados de seu papel de agente transformador, e agora a universidade glorifica o piedoso mercado que os reconhece e os financia."E o amor,será eterno novamente".

As causas do racismo não se apresentam mais como ideologia de controle social,não mais como forma superestrutural  ,expressão das relações materiais injustas.

Aceito o apassivamento na luta cultural e política e esqueço suas origens,a luta de classes passa a ser algo do passado,do "velho",do esgotado esforço da humanidade de se livrar daqueles que detém o controle das antigas formas de produção.

É o velho como novo.A subversão civilizada,padronizada,o consenso entre oprimidos e opressores de que o que está dado é definitivo e que apenas precisamos corrigir desacertos desta forma civilizatória ,que pelo discurso pós moderno,apresenta a democracia liberal como fim em si mesma.Nada a fazer se não aceitar e se regozijar  com cada direito não perdido,louvar a dominação econômica por esta permissão de "liberdade" .

O conservador,a manutenção da ordem econômica vale como moeda de troca por essa liberdade consentida.As novelas televisivas já mostram o negro como patrão,e com direito a patrocínio de empresas que se locupletam com trabalho escravo.Mas que avanço!A publicidade é a nova arte soterrando a imaginação utópica e criadora.

As velhas formas e suas (pós)modernas roupagens vestirão novas gerações e controlarão os ímpetos juvenis revolucionários que devem ficar no passado.

O "empreendedorismo" é a palavra de ordem,que significa,"se vire como puder", porque o Estado não mais lhe proverá “paternalmente”.

A globalização econômica,ou "globalitarismo" é o fim da História,aceite de bom grado e lute por ascender de classe.É a única forma emancipatória.Esta é a mensagem definitiva aos que insistem com "classes operárias" revolucionárias,que homenageio com minha camisa do "Guevara",símbolo do passado,"promovido" à folclore,forma cultural de um passado estático que não mais influencia.

Nos domingos em família visitaremos os "museus de grandes novidades" e  olharemos o passado de lutas com olhos de piedade, aqueles ingênuos comunistas.

14 maio 2017

Por uma nova abolição!


O Direito é ideologia.É representação da vontade da classe dominante,sempre foi.
Se a justiça de hoje deixa abismada a sociedade brasileira,por causa da perseguição à Lula, é preciso que lembremos da História do Brasil,onde o cárcere é dado como espaço "privilegiado"para negros e pobres.
Se a justiça é fundamental para a democracia,como dizem inúmeros lutadores pela garantia da dignidade dos mais pobres,há que se lembrar que a perseguição ao PT(que não voto desde 1989!) é somente um detalhe de uma história que identifica os espaços dos negros e brancos no país.
Ao olharmos para a diferença fenotípica entre congresso e "Bangu 1", veremos o racismo estrutural,cruel e mesquinho de uma classe dominante que nunca se tornou ao menos iluminista.
Essa justiça garante a manutenção de pobres na pobreza,quando historicamente vê a educação pública ser destruída todos os dias,num crescente assustador.A pobreza que tem cor neste país,deve denunciar que é falsa a neutralidade do poder judiciário que garante uma suposta democracia que nunca permitiu igualdade econômica.
A igualdade jurídica esconde a desigualdade de fato.
Defendamos a democracia como conquista das lutas do povo brasileiro,mas nunca nos enganemos que ela é construída sob os princípios da exclusão.A última ditadura de nossa história se aplicou quando o princípio de justiça social avançou,e se mostrou um grande perigo para o conforto e o lucro das classes dominantes.
Se a justiça brasileira virou veículo dos projetos neoliberais,se a justiça brasileira apazigua os corações dos brancos e da classe média,ela movimenta seu martelo sem pena em direção aos excluídos da cidadania e da educação de qualidade.
A justiça no Brasil está no gatilho das polícias militares,que julga e executa a sentença imediatamente,de acordo com a cor da pele e o CEP em que age o Estado.
Em tempos onde a "reforma" trabalhista pode fazer com que o brasileiro do campo possa trabalhar por comida e moradia,estarão estes novos Senhores da Casa Grande viabilizando a escravidão.
Precisamos de uma nova Abolição!!

01 abril 2017

Não roubem minha razão.

O PT é parte do golpe que praticaram contra ele.Levou ao poder o que há de mais podre.Tudo bem(é,mais ou menos.Estamos mal.).
Fazendo a autocrítica de que o modelo de conciliação de classes pode,como fez, levar a um desastre ainda maior,poderia produzir de novo a politização das ruas.
No entanto,a crença em um 2018 redivivo ,com um programa igual ao anterior,é tampa para o caixão.
Se o "Lula roubou seu coração",admito,ele já fez isto comigo isto em 1989.Mas não fez isso nas décadas seguintes.O que ele não pode, é roubar sua razão.

Desmilitarizar consciências.

Diga que você não acha normal que uma menina  seja assassinada dentro da escola por agentes do Estado.

Diga pra mim,que a inútil política de enfrentamento com o tráfico mata e criminaliza a população pobre e negra e também mata policiais,que no dito popular não passam de "buchas" para o Estado assassino ,onde seus dirigentes se locupletam com o tráfico através da corrupção, que executa  pobres por não querer acabar com a pobreza.

Diga pra mim que a farda é mero pretexto de uma milícia oficial que cumpre o papel de manutenção da ordem excludente.

Diga pra mim,que a violência contra a classe média serve pra alimentar discursos de ódio contra pobres e fortalecer a eleição de oportunistas e fascistas,mas a violência contra a favela e periferias é somente número de estatísticas.

Diga pra mim que você que frequenta templos e igrejas, reza para que o gatilho do Estado e da PM não se mova tanto contra tantos.

Diga pra mim,que você concorda que a violência começa no simbolismo de uma educação pública destruída pelo Estado todos os dias.

Diga pra mim,que a classe média que apoia golpes e desregulação de direitos está arrependida pela merda que fez e pela merda que é.

Diga pra mim que você não acha mesmo que desmilitarizar as PMs é acabar com a polícia,e que o militar só vê inimigos e não cidadãos que lhes dão o sustento.

Diga pra mim,eu preciso de um alento para o meu cansaço.

19 março 2017

Neutralidade

A neutralidade é o cobertor que protege a mediocridade e o "status quo".Em todas as áreas,em toda a superestrutura cultural,o apelo à neutralidade é impossível.

Mais do que todas as razões que apelam ao discurso imparcial,a neutralidade é ideologia,falsificando as raízes dos problemas,ratificando a ordem social injusta e excludente.

Qualquer ser social possui suas origens de classe,suas formações culturais,pois está inserido em sociedade.

Os espaços de fala são registros das opções e formações ,e mais importante,são expressões de seu posicionamento político.

O ato político é o ato de poder,entendendo poder como a capacidade  de influenciar  vontades e desejos,de garantir a proximidade do que não é perecível,de exercício de suas capacidades para angariar vantagens ou garantir seu status,suas posições hegemônicas e a continuidade ou transformação de seus papéis sociais.

O "neutro" só pode existir onde não esteja inserido em meio social ou cultural.
O campo da cultura e das relações sociais é o campo da inexistência do imparcial.
Qualquer discurso refere-se à interesses e nenhum interesse é neutro,a ponto de não interferir no outro ou no meio em vivemos.

O cobertor que cobre o "neutro" apazigua o conflito e mantém tudo da forma que está.

O cobertor da neutralidade autentica as vontades hegemônicas,garantido e conservando as verdades que prevalecem.

Um dos conceitos de cultura se define pela ação do homem pela transformação de bens naturais em bens culturais,materiais e imateriais,construindo tradições que cimentam a continuidade social.Mas também produzem tradicionalismos,que são ideologias de manutenção dos postos de poder.

Não há nada no mundo da cultura que não possua relação direta com interesses.

A neutralidade é a maior força de manutenção da ordem social,garante ares de naturalização das injustiças e preconceitos,banaliza e encobre o que há de errado sob o ponto de vista ético,ou ao acúmulo de valores que se apresentam pelas culturas como referências.

A média do pensamento do senso comum,conformado e domesticado, acredita na neutralidade por ter incorporado as normas que introjetou  pelas ações ideológicas que conformam as instituições sociais,que não lhe beneficiam,que inclusive lhe prejudicam.A média do pensamento do senso comum é a mediocridade ,e esta não produz mudanças sociais e legitima os espúrios valores que sustentam a injustiça e a exploração social.

20 janeiro 2017

Sobre grades e liberdades.

Em cada cárcere está presa a essência da humanidade.

Ocupados com suas falseadas visões de mundo,ordenada pela tirania do mercado,praguejam pela morte e pela tortura,como quem pede um sonho na padaria.

Em cada cárcere estão nossas formas de vida,nossas normas e culturas e todas as frustrações que o sistema produz.

Cada currículo escolar ou escola em destruição, é matéria prima para futuras grades.

E cada um com seus desejos de consumo e necessidades não alcançadas pregamos que todo sofrimento deva ser pouco para aqueles fracassados que violaram as regras.Depois me recolho às orações,pedindo pelo bem e pelo direito de continuar livre em frente ao telejornal.Isso não é da "minha conta"!

Nos Shopping Centers finjo exercer a minha liberdade entre vitrines e sonhos de consumo.

E comemoro a liberdade em frente à TV e publicando lindas fotos nas redes sociais.

E cada um que se acredita livre,pode por algum tempo,se sentir vitorioso por não estar no cárcere e comemorar a cada corpo caído sua "liberdade" consentida, por ser um obediente em sua vida de eterna infância.

Mas o cárcere não é para brancos,poderosos e corruptos.Cada grilhão que procure seu negro ou favelado.

Em cada encarcerado há uma tumba de uma sociedade que se alimenta da punição,por não haver disponível outro nutriente para eliminar suas dores produzidas pelo sistema.

Cada encarcerado é produto da alienação de todos,é produto da conivência com o mal feito e mal vivido,é resultado da tolerância com a atual Idade Média,vestida com cores de século XXI.

Em cada cárcere, jaz cada um de nós.

Sobre as micaretas de dezembro de 2016

Sobre as "micaretas" de 4 de dezembro.

A judicialização atual da política brasileira é resultado da falência da Política enquanto canal viabilizador  e mantenedor de direitos.
Crise de representação,colocação feita por movimentos sociais há muito,é expressão de uma democracia que não empodera classes populares.
 Com a derrota do PT,vem a certeza do esgotamento de um projeto de conciliação de classes,que a história nos demonstra sua impossibilidade quanto a sua permanência sem a brusca ruptura.
As manifestações de hoje são fruto do cansaço da classe média pagadora de impostos,enquanto a burguesia não paga,"detalhe" que a classe média ainda não entendeu.
A aliança entre classe média e burguesia é histórica,é regra no sistema capitalista.As exceções produziram grandes transformações sociais,quando estas classes médias entenderam seu caráter e o seu papel social,se aliando aos desejos e aspirações dos trabalhadores e excluídos economicamente.Mas seria cobrar muito da classe que sempre esteve ao lado dos corruptos que ela mesma elege.
As Manifestações deste dia 4 de dezembro, das classes médias,sem precariado,sem programa,sem elementos populares e sem os Movimentos Sociais, são um engôdo,produto da falsa consciência da realidade e que carrega consigo os projetos autoritários,conservadores e reacionários.
"Acabar com a corrupção",com herói forjado pela direita, messianicamente hasteado como salvador da pátria é um erro que pode ter consequências históricas terríveis.
A estes,falta a compreensão de que a fonte da corrupção é a relação promíscua entre Estado financiador do capital e o próprio capital,que como a classe média,prefere privilégios à direitos universalizados,forma cultural de um país onde o Estado é ausente em produção de políticas públicas.

Capitalismo e Esperança.

O liberalismo e suas variações históricas não possuem fundamento científico ou filosófico,não passam de falsa consciência da realidade,ideologia,usurpação dos recursos da humanidade e do planeta para a legitimação da ordem e da dominação social para a obtenção do lucro.

Conforme a História desconstrói suas contradições,novas alegorias e "novas" versões do natimorto são produzidas,novos agentes manipuladores se arvoram para defender o indefensável,e o fazem com a máscara da seriedade e dos títulos acadêmicos.São como malabaristas tentando sustentar a ilusão. Não há verdade possível em uma biblioteca liberal.
A maior vitória da humanidade será o soterramento dos cínicos que veiculam a farsa e a tragédia.Não há esperança no capitalismo.

Bauman ,diversidade e igualdade.

Bauman,teórico da crise da era Moderna,ou da pós-modernidade, dizia que "mais que lutar pelos direitos da diferença, deveríamos nos empenhar pelo direito à igualdade"("A Cultura no mundo líquido moderno").

Bandeiras pelos Direitos são fundamentais,até porque a direita raivosa abomina os valores iluministas,mas não podemos esquecer que as raízes dos preconceitos estão na Ideologia ,nos valores burgueses,superestruturais, do individualismo e da competitividade.

Para um sociólogo que não era marxista,o recado foi muito bem dado em suas obras.Que a esquerda entenda que a democracia liberal é fantástica diante do atraso do pensamento humano,mas esta democracia que permitiu certa liberdade,não permitirá a igualdade econômica.