31 outubro 2012

Higienistas do século XXI

As remoções de usuários de crack adotadas pela prefeitura do RJ se assemelham às políticas adotadas no século XIX pelos chamados "Higienistas",quando das remoções das "Cabeças de porco" e Cortiços.Também podemos chamar de limpeza étnica,na medida que a preocupação não é com o tratamento do usuário,mas em acalmar os corações da classe média preocupada com ações violentas dos usuários.

A adoção de políticas públicas de saúde é urgente,mas o prefeito só conhece política de repressão.Higienistas e fascistas do século XXI possuem discurso que se passam por bom senso e responsabilidade,mas em essência não passam de acordes repetidos da sinfonia neoliberal na sua sanha por controle social e ordem.Lembro-me de Habermas que dizia que o "fascismo é o liberalismo que perdeu seus escrúpulos."

15 outubro 2012

A SALA DE AULA VAZIA





Alguma coisa me atraiu à sala na visita feita à instituição de ensino.

A percepção primeira foi a de paz, mas acolhido pelo silêncio sepulcral, este me fez senti-lo em forma de agonia.

Não havia o sorriso farto e abundante. Não  havia o “tapa amigo” no amigo adormecido.
Não havia a carícia dos neo-namorados, nem a manipulação “escondida” de bugigangas eletrônicas.

Não havia o debate acalorado sobre o tema premente.

Não percebia alegremente o despertar do interesse, pré-requisito  para o amanhecer da consciência.Questionamento e rebeldia  não se sentira.

Não estavam presentes os olhos jovens transbordando brilho,esguichando hormônios e tempestades em copos de água,nocauteados pela velha “notícia” da fome no mundo.

Não havia a sensibilidade quanto a um dia não tão bom do professor.

Não,a sala era esqueleto morto,sem sentido,sem projetos,sem sonhos ou alegrias.Alegrias em excesso que muitas vezes se assemelham a anomia completa,hoje faz falta.

De olhos bem fechados senti que a sala de aula parecia fazer uma prece, pedindo aos céus o retorno do que lhe fazia existir como tal. Ela, a sala de aula,pereceria sem os tais que lhe habitam o ano inteiro.Não importaria se aqueles que ali frequentassem estivessem com a mente na praia,futebol,namorados ou férias.

Percebi que os desejava de volta o mais rápido quanto pudessem. Cada grupo que ali passava deixava uma marca única,caráter coletivo único,personalidade original.Nenhuma turma se assemelha a outra,por mais semelhanças que houver.E cada marca deixada é como carimbo permanente marcado em toda nossa vida.

Senti-me solidário com a tristeza daquelas paredes e carteiras,me senti  vazio como elas.Ainda que saiba que não é preciso estar em uma sala de aula para se tornar um educador,e que estamos ali aprendendo muito mais do que ensinando,entre aquelas paredes em espaços os mais diferentes possíveis,podemos dizer que não há vida onde a educação não esteja presente.

Entre aquelas paredes,eu e aquelas salas  nos sentimos mais vivos do que em qualquer outro espaço e carregamos juntos todos os dias, o significado do mundo.