29 outubro 2011

"Manifestación".Diálogo com o quadro de Antonio Berni (1934).

Somos multidões no desamparo.Perspectivas de dignidade não é expressão que se possa dizer que o caminho do sistema ofereça.

Multidões com seus olhos lustrados de dor se acotovelam pelas migalhas que sobrem das mesas abastadas. Olhares com raiva, ”pois a raiva é coisa do homem, a fome é coisa do homem”, olhares de busca pela esperança ao céu se dirigem.

 Em momentos angustiantes de fome e desespero é melhor seguir o ascetismo, o abandono deste mundo que lhe tratou como mais um número nas estatísticas do desolamento. Às margens da festa somos multidões de gritos engolidos. Em planeta com tamanha abundância não é o destino nem os céus que nos condenaram a não participação como protagonistas neste cenário de inversão de prioridades.

Transformaram em selva o contrato social que não assinei, mas não foi a genética nem a falta do esforço que me condenaram. Os atrozes leões financeiros nos engolem como  cana de açúcar esmagada para o caldo. E somos tragados e digeridos pela máquina que nos desconsidera, como quem não valha à pena existir.

Haja Luz! Procurarei no templo  explicações que não obtenho para tanta irracionalidade e/ou acreditarei na minha força para romper o círculo vicioso dos horrores por ser ignorado. O trabalho faz parte das minhas preces, minha luta com os meus me libertará das argolas de ferro que envolvem meu pescoço, meu estômago e nossa consciência.