01 dezembro 2005

SOU NEGRO

Sou Negro meus avós foram queimados pelo sol da África
minh'alma recebeu o batismo dos tambores atabaques,gonguês e agogôs
Contaram-me que meus avós vieram de Loanda como mercadoria de baixo preço plantaram cana prosenhor do engenho novo e fundaram o primeiro Maracatu.
Depois meu avô brigou como um danado nas terras deZumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca escreveu não leu o pau comeu Não foi um pai João humilde e manso Mesmo vovó não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês ela se destacou
Na minh'alma ficou o samba o batuque o bamboleio e o desejo de libertação...

(Solano Trindade) a Dione Silva.

15 novembro 2005

Zé Kéti

Em 14 de novembro de 2005 completam 6 anos da partida de Zé Keti. Um dos grandes da cultura popular brasileira.

"Acender as velas já é profissão, quando não tem samba tem desilusão".

Nos tempos de "micaretagens da cultura de massa, é preciso que valorizemos o patrimônio da nossa cultura. São milhares os anônimos que se encontram nos botequins e terreiros de samba promovendo e perpetuando o que há de melhor da tradição popular.

"Salve o samba, queremos samba, quem está pedindo é a voz do povo de um país".

O cronista da vida do humilde, do favelado, do malandro, e das dificuldades que a República excludente,uma como sinônimo da outra, produziu e produz durante a nossa História.

"400 anos de favela, sem água, com mágoa...barracão de zinco perfurado".

A ausência de intervenção do Estado nas comunidades humildes, produz um verdadeiro exército de meninos e meninas para o tráfico de drogas,condenados a ter esperanças de integração à sociedade através do tráfico, referência de poder nas favelas, abandonadas pelos coronéis da República e pela omissão histórica da classe média ansiosa pela ascenção social permitida a cada vez menos pessoas. Em tempos de alta rotatividade das lideranças do tráfico, lembro de "Malvadeza durão,valente, mas muito considerado" ou de "Nega Dina":

"...a minha vida não é mole não, eu entro em cana toda hora...já ando assustado...sou um marginal brasileiro."

O sistema capitalista marginaliza bilhões de descendentes africanos, dos subúrbios da França,passando pelos guetos dos Eua, das favelas cariocas, nos cantos da Baixada Fluminense."Peço licença" para em nome de todos os excluídos do planeta, para exigir uma nova ABOLIÇÃO. Uma abolição que liberte da opressão-sofisticada-globalizada, a "exploração do homem pelo homem", causadora da exclusão de metade da população do mundo dos bens básicos à vida. O samba bastardo anuncia o tempo sem exploração, invadindo as novas "Casas Grandes" que cismam em deixar os povos dos "gramachos" de fora da festa do consumo. Salve o compositor popular, herdeiro dos, caxambu, jongo, coco de raiz, lundu-canção, modinha,calundus e calhandos.VIVA ZÉ KETI.

06 novembro 2005

O Império da Morte


O cartunista Mike Luckovich publicou uma charge sobre os 2.000 soldados norte-americanos que morreram no Iraque, devido às ações da resistência contra a ocupação do país. Mike, do Atlanta-Journal Constitution escreveu o nome dos 2.000 soldados, para compôr a palavra `Why?` e perguntar porque eles morreram. A pergunta é a mesma que a opinião pública norte-americana passou a se fazer durante a guerra do Vietnã e indica as semelhanças das duas intervenções militares do imperialismo. O século XX é profundamente marcado pelas intervenções militares dos EUA para garantia e sustentação do seu império.A intervenção militar só não é necessária quando não há resistência às políticas econômicas impostas, como no caso da América do sul,já que na América Central prevaleceu o Big Stick, a política do grande porrete que permitiu o controle sobre vários povos. A Doutrina Monroe("a América para os americanos"-do norte) foi implementada no século XIX, quando eles iniciam seu projeto de dominação sobre as Américas.Hoje a ALCA seria mas um capítulo do Imperialismo estadunidense que garantiria formalmente o abastecimento do capitalismo deles, submetendo os mercados latino-americanos às suas necessidades. Cresce no mundo e nas Américas a resistência ao "Império do mau" e suas tentativas de colonização, embora eles tenham a colaboração do governo Lula, e Chaves(Venezuela) , apesar da retórica belicista, continuar a ser o grande abastecedor de petróleo dos Eua, crescem as mobilizações e o sentimento anti-EUA, extamente por que, suas receitas políticas-econômicas para as Américas têm provocado o aumento da pobreza e da miséria com a colaboração dos governos burgueses-oligárquicos dos nossos países.Já há incusive, propostas do México de se incluir ao mercosul, já que o NAFTA(mercado comum da América do Norte) tem resultado na desgraça deste país. O mundo diz não as ações de Bush que nada mais faz do que dar continuidade à política iniciada no início da década de 90 com seu pai e o próprio povo de seu país dá claras mostras de indignação com as mortes da sua juventude. Assim como o grande Império romano caiu, não tenhamos dúvidas da queda do Império econômico dos EUA.

02 novembro 2005

Há de chegar o dia

Esta foi enviada pela Priscila Alves:

" Haverá um dia em que todos voltaremos a ser felizes.Será o dia em que Rosinhas serão apenas flores, Garotinhos apenas crianças, Genuínos serão coisas verdadeiras, Serra será apenas um acidente geográfico ou uma ferramenta, Genro apenas o marido da filha, Lula apenas um molusco marinho e Severino "apenas" o [querido] porteiro do prédio". Lembraria também de César como aquele que governou Roma ,e Maia, um descendente do povo que foi aniquilado por gente como o prefeito.

Eu ainda acrescentaria mais uns 5oo nomes, mas basta estes para não atrair mal agouro.

Esta me foi enviada pelo professor Emerson Fortes com relação ao texto "A bancada da bala agradece":

Caro colega Wallace, é surpreendente como são poucas as pessoas que percebem essa falta de compromisso com as origens ideológicas do partido, ou eles perderam as forças diante de tantas dificuldades políticas e tentam de alguma forma se alimentar das migalhas deixadas pelos ´´grandes`` partidos, ou vão junto com a multidão para não assumirem as responsabilidades de suas escolhas. Seja lá qual for, é lamentável e uma traição com quem acreditou.

20 outubro 2005

A Bancada da bala agradece

Gostaria de entender como pode um partido político como o PSTU que possui um programa socialista e revolucionário fazer a defesa abertamente do voto NÃO no referendo sobre comercialização de armas. Como pode um partido que pretende um dia dirigir a classe trabalhadora ser contra ela? pois os que mais sofrem com a disseminação das armas são certamente os mais humildes. Será que não chegou a hora de sairem do conforto das universidades e irem saber como vive o povo humilde das favelas deste país? A campanha pelo "direito de matar" é patrocinada por uma das indústrias mais poderosas deste país, considerada uma das mais importantes do ramo, patrocinadora da campanha de G. Bush, e tem suas ações batendo recordes históricos na Bovespa,a Taurus do Brasil. O PSTU virou um partido burguês? ou está brincando de revolucionário e vai ganhar algumas arminhas? será que perdeu definitivamente o bonde da História? Devemos então treinar os trabalhadores em cada esquina para matar os algozes? Alguém me diga por favor que classe social este partido defende. A aliança entre burgueses e operários era até então coisa de partido reformista. Como pode a aliança entre revolucionários e Bolsonaros? A bancada da bala agradece a contribuição dos diversos setores da sociedade e anuncia em alto e bom som que os próximos passos serão a aprovação do controle da natalidade, pena de morte, prisão perpétua e diminuição da minoridade penal. Este são pontos que compõem o programa histórico das oligarquias brasileiras em aliança com setores conservadores da classe média .É verdade que este referendo não determina a diminuição da violência, porém determina a quantidade de vítimas fatais em cada ato de violência.Fora que a defesa da arma é a falência do argumento político.Esta campanha(do Não) possui uma representação simbólica da morte da razão e aponta para as novas gerações o caminho a ser trilhado. Como explicar PSTU, aos grupos de defesa da mulher contra a violência doméstica a postura conservadora que pode legitimar os casos de morte de mulheres vítimas de maridos ciumentos, o que pode ser comprovado pelas estatísticas das delegacias de defesa da mulher.Eu que ajudei a construir este partido me envergonho de mais um dos seus erros.Bola fora, a bancada da bala agradece.

16 outubro 2005

Los Hermanos

Há qualquer coisa de velho nos Hermanos. Nostálgico no som que lembra pelos sentidos , pois não há razão neles. Sentimental dizem eles, é o Amarante, porém o Camelo passa neste disco ruminando uma dor. Dor de progressivos, de mineiros, de décadas de 60 e 70, de Vandré, de sintetizadores existencialistas, de múltiplas influências. Ferreira Gullar, o poeta, diz que apesar da morte das vanguardas a Arte continua a se reproduzir, ou melhor , a se produzir. Nestes tempos pós-modernos, onde tradição e modernidade se enlaçam, neste mundo de ilusões midiáticas, da supervalorização da estética-espetáculo, do fragmentado e especializado, os Hermanos se reinventam, se reconstroem dos cacos do sucesso de "Ventura" e da valorização momentânea da indústria cultural de massa, e produzem Arte, pois são Artesões preocupados com os detalhes que vão inebriar os sentidos de quem os ouve. "Eu preciso andar um caminho só, vou buscar alguém que nem sei quem sou".Que a procura seja sempre neles o sepultamento da mesmice enquadradora. Se lessem isto, diriam, como disseram, que "as pessoas estão pesadas, falta leveza". Este disco 4 é denso mas não um peso, é "Vento" que acaricia em um "Horizonte distante" pertencente à memória sensível.

Encomenda

Todos que viajam para os EUA tem uma bagagem gigantesca na volta por causa das listas de compras de parentes e amigos.Pois é, minha cunhada vai para lá e eu lhe dei uma lista de antigas perguntas para ela me trazer as respostas dos especialistas da maior potência do mundo. A seguir as perguntas que foram formuladas por Eduardo Galeano: aos Geógrafos, por que se chama América este que é um dos continentes americanos?
Aos sociólogos,por que uma sociedade tão livre tem o maior número de presidiários do mundo?
Aos psicólogos, por que uma sociedade tão sã engole a metade dos psicofarmácos do mundo?
Aos médicos de dietas, por que o maior número de obesos no país que dita o cardápio dos demais países?
Aos estrategistas de política externa, se os senhores têm, aí pertinho, uma ilha onde estão à vista os horrores do inferno comunista, por que não organizam excursões ao invés de proibir viagens?
Aos signatários do tratado de livre comércio ,se agora está aberta a fronteira com o México, por que morre mais de um mexicano por dia querendo cruzá-la?
E aos especialistas em direitos trabalhistas, por que Mc Donald`s e Wal-Mart proíbem os sindicatos em todos os países onde operam?
Aos economistas, se a economia duplicou nos últimos vinte anos, por que a maioria dos trabalhadores ganha menos do que antes e trabalha mais horas?
Aos responsáveis pela saúde pública, por que proíbem que as pessoas fumem, enquanto fumam livremente os automóveis e as fábricas?
Ao general que dirige a guerra contra as drogas, por que as prisões estão cheias de drogados e vazias de banqueiros lavadores de narcodólares?
Aos diretores do FMI e do Banco Mundial, se este país tem a maior dívida externa do planeta, e deve mais que todos os países juntos, por que os senhores não o obrigam a cortar gastos públicos e eliminar subsídios, [como fazem com os latino-americanos em suas receitas] ?
Aos ambientalistas, por que os que aqui governam falam sempre no futuro do planeta, enquanto este país gera a maior parte da contaminação [poluentes] que está acabando com o futuro do mundo?
Aos cientistas políticos, por que os que aqui governam falam sempre em paz, enquanto este país vende a metade das armas de todas as guerras?
Veja lá cunhada, se você vai esquecer da minha encomenda.

02 outubro 2005

LULA E RITA

A crise política é provocda pela ausência de um programa político de intervenção nos profundos problemas sociais, os quais constitui a verdadeira dívida. Os "rasgos de indignação moral" da oposição, da situação e da imprensa, criam o falso debate de que o problema é "ético" ou moral.A crise é consequência de um projeto petista democrático-liberal. Os democratas acreditam que estão acima dos antagonismos de classe, das lutas que se dão no chão da realidade social pela apropriação da riqueza, no jogo de cartas marcadas, a vitória é daqueles que comandam a banca. Marx disse que a História se repete, a primeira vez como farsa e a segunda como tragédia. É aqui que se pode relacionar Collor e Lula, embora o segundo seja, ou tenha sido, o maior líder da história do século XX no Brasil. A farsa da oratória da modernidade, da defasa dos "descamizados" que deu início a integração do Brasil à nova ordem mundial, de subordinação à ideologia neoliberal. Ali se enfraqueceu o Estado, fortalecido pela ditadura militar para o financiamento da burguesia nacional, de cócoras à transnacionalização e financeirização, projeto este, consolidado eficazmente por FHC. A História se repete como tragédia no governo Lula, pois o projeto neoliberal de integração subordinada à globalização tem continuidade no governo atual. Os sonhos(as promessas) de inclusão das massas, de maior interferência dos movimentos sociais organizados nas tomadas de decisão se esbarram na burocratização das direções sindicais, populares e estudantis para que a pseudo-hegemonia petista no parlamento controlasse à conta-gotas algumas reformas sociais sem o desagrado dos banqueiros internacionais, das antigas oligarquias agrárias e da FIESP. Quebrados os vernizes de esquerda das reivindicações dos trabalhadores, o PT modelou-as com feições liberais-democráticas e atirou no pé, quando abandonou as bandeiras históricas. A experiência partidária mais rica da História da América -Latina, abandonou à uma década, pelo menos, a força dialética dos núcleos de base e jogou todas as fichas na roleta viciada da democracia representativa e no caquético e esgotado liberalismo econômico. O furacão Rita instalado no governo Lula, lembra a Rita de Chico Buarque: " A Rita levou meu sorriso... levou junto com ela o que me é de direito, arrancou-me do peito e tem mais... Que papel... a Rita matou nosso amor de vingança, nem herança deixou...mas causou perdas e danos...levou os meus planos, meus pobres enganos, os meus vinte anos, o meu coração e além de tudo me deixou mudo o violão." Emudeceram o violão e choram as cuícas, mas a bateria da escola se reorganiza diante da nota baixa dada pelos julgadores do desfile de erros cometidos pelo governo burguês do PT.

26 setembro 2005

DESARMAMENTO

O Estado é o que detém o monopólio do uso da força física. Dito por Trotski e Weber em contextos diferentes, é o maior argumento para desarmar e garantir que a sociedade brasileira não continue se matando . O Estado está acima das emoções dos indivíduos.Mais do que efeitos práticos, a luta por desarmar as pessoas possui um efeito simbólico e pedagógico importantíssimo em favor da manutenção da vida. A educação ainda pode fazer com que se desenvolva o sentimento de que os problemas podem ser resolvidos sem o uso da violência. Veja outros argumentos que fazem parte da campanha pelo desarmamento, e se não ficar satisfeito, veja o filme Tiros em Columbine.
* Dos que reagem com armas, 90% se tornam vítimas da resistência.
* Quem usa arma sempre, tem mais chances de acertar o alvo.
* As armas não são causa da violência, mas a tornam fatal.
* 60% dos crimes são praticados por pessoas sem antecedentes criminais.
* Coibir o mercado de armas afetará o tráfico de drogas.
* A maioria das armas que circulam foram obtidas dentro do Brasil, compradas legalmente.
* O custo anual de internações por ferimentos de arma de fogo nas redes pública e privada chega a 140 milhões.
* No Brasil 30% das mortes por causas externas resultam de armas de fogo, e 25% de acidentes de trânsito. É o único país do mundo que não está em guerra em que se morre mais por arma que por acidente de carro, sendo que os índices por morte no trânsito no Brasil são os mais altos do mundo.
* Nos últimos 20 anos, a taxa de mortalidade por armas de fogo triplicou, passando de 7,2 para 21,8 mortes por 100 mil habitantes.
*De cada 3 pessoas internadas por ferimentos por armas de fogo , uma foi acidente com arma; no caso das crianças, 54 %.

25 setembro 2005

SAMBA e CINEMA

Se você gosta de samba e cinema, aqui vão algumas dicas. O documentário de Paulinho da Viola, Meu Mundo é hoje , conta a história do grande músico, recheado de craques da música, seus sambas, com um conteúdo filosófico interessantíssimo(nas locadoras). No jbonline, você pode ver dois curtas sobre o mesmo tema. O Jaqueirão do Zeca , com Zeca Pagodinho e Babaú na Casa do Cachaça - verde e rosa blues, maravilhoso curta metragem sobre um pouquinho da História de Babaú, na mangueira na casa de Carlos Cachaça.

24 setembro 2005

Violência:um grande negócio(parte 2)

A violência não é só resultado da pobreza e da miséria(54 milhões abaixo da linha de dignidade, segundo dados oficiais) , é produto da combinação destes com a ostentação e o consumismo estimulado diariamente pelos meios de comunicação. Eles dizem que o consumo gera empregos,mas também gera o sentimento de que a vida só vale à pena para quem possui, e na correria para acumularmos dinheiro passamos boa parte da vida. A outra parte de tempo que sobra, gastamos consumindo. Um círculo vicioso que nos condena a sermos somente compradores(30milhões somente), não dá tempo para sermos cidadãos. O tema violência já elegeu muitos, e alguns propõem muros e cercas para isolar em guetos as populações humildes transformando a "favela em nova senzala". É necessário tornar os milhões de excluídos em agentes do processo histórico. Umas das pontes para isso é a educação , não esta fajuta, formadora de apertadores de parafuso,educação para satisfazer a sanha de lucro de alguns poucos e a ilusão de que somos alguma coisa importante na sociedade por termos um "bom" emprego burocrático que me rende o dobro de dinheiro do meu vizinho . E por falar em muros, por que a sociedade que é modelo de liberdade para muitos(EUA), possui a maior populaçaõ carcerária do mundo? que polícia é esta(Brasil) que coloca para baixo da terra 3 seres humanos por dia? Muros separam pontes unem. É preciso construir pontes sociais. Ou será que a crescente violência vai continuar a pavimentar de dinheiro novos empresários e os políticos profissionais?

Violência:um grande negócio.(parte 1)

Privatizaram no Brasil algumas das empresas mais importantes e estratégicas.Mais a maior delas foi a privatização da segurança. Se somarmos os empregados da segurança privada, legais e ilegais somam-se um milhão e meio. É o setor que mais cresce no país campeão em desigualdades sociais. A injustiça que gera violência, que gera medo, que gera lucro para os empresários e emprego em abundância. Pagamos 4 mesesde salários em impostos, para que tenhamos uma polícia mal paga e mal treinada(ou educada), onde a inteligência está no dedo do gatilho, onde a juventude negra e favelada de 14 à 25 anos, é o seu alvo preferido. Investigação policial é grampo telefônico e nada mais. É verdade o que já disseram, que o crime é desorganizado, pois se organizados fossem, não diríamos que são um estado paralelo, e sim, o Estado oficial. A classe média (de)formada pela mídia clama pelo o aumento da repressão," o exército nas ruas" ,"pena de morte", etc , jogando a água da banheira fora junto com o bebê. A longo prazo se resolveriam alguns destes problemas com ,educação de qualidade, políticas públicas sociais e geração de empregos.Isto diminuiria sensilvelmente o exército de crianças e adolescentes acolhidos pelo tráfico. Só pega em arma para roubar quem não possui nada a perder,nem dignidade. Tudo isso embora, não acredito em solução dentro do sistema capitalista.

18 setembro 2005

Jazz embaixo d'agua

Tivesse Nova Orleans imitado Hollywood em sua calçada da fama, o baixo-relevo dos pés famosos estariam todos, agora, embaixo d’água. E naquelas paragens, a fama atende preferencialmente pelos nomes de King Oliver, Jelly Roll Morton, Sidney Brechet e, principalmente, Louis Armstrong. Todos exímios artesãos do jazz, o estilo musical que fez do improviso sua matéria prima, e de Nova Orleans seu berço esplêndido. Hoje, tombada pelas águas turvas do lago Pontchartrain, talvez ainda se possa ouvir em algum canto qualquer um sax ou trompete solitário chorando, atônito, notas improvisadas na paisagem desolada.A razão ocidental nunca engoliu muito bem a idéia de improviso. Desconfiou quando negros e mestiços principiaram a tocar instrumentos de ouvido, sem o auxílio luxuoso das partituras. O binômio improviso/planejamento remete a uma velha questão filosófica, mais especificamente epistemológica: o quanto sabemos acerca do mundo e de nós mesmos que nos permita antecipar, e com isso planejar, eventos futuros? Sejam esses eventos as notas musicais que compõem as sinuosas melodias do jazz, sejam as medidas necessárias a serem tomadas pelos poderes públicos para se evitar que catástrofes como a que se abateu sobre Nova Orleans assumam proporções maiores que as que deveriam assumir. É por conta do mal equacionamento das relações mútuas entre controle e liberdade que as artes e as ciências vêem muitos talentos se dissolverem no anonimato. Pela mesma razão o inferno costuma apinhar-se de políticos bem-intencionados, como diz o provérbio.Quanto à menina dos olhos de Nova Orleans, o jazz, só poderia mesmo ter nascido entre humanos escorraçados por esse privilégio da espécie: a razão. Como que descrentes de si mesmos, ou por habitarem esse subproduto da racionalidade ocidental chamada escravidão, acabaram por despejar na música o improviso que lhes possibilitou sobreviver em meio às querelas entre espanhóis, franceses e ingleses pela hegemonia política na região. Isso daria um bom mito da criação para o jazz. Como a água que recentemente vazou dos diques mal construídos de Nova Orleans, a musicalidade espontânea remanescente dos negros africanos não comportou o represamento da razão branca. “Do rio que transborda se diz que é violento, mas nada se diz das margens que o oprimem”, escreveu Bertolt Brecht.

Alexandre Mattos é educador.(Caros Amigos)

O ANALFABETO POLÍTICO

O pior analfabeto é o analfabeto político.Ele não ouve,não fala não participa dos acontecimentos políticos.Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio, dependem das decisões políticas.O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política. Não sabe o imbecil que da ignorância política nascem a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos,que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresa nacionais e multinacionais.

Este texto de Bertold Brecht, por vezes encarado por mim como desabafo, chama a atenção para a importância da dimensão política como instrumento de renovação do ser humano. Aquele que participa da pólis(cidade) coloca para si a responsabilidade com o coletivo, vivencia não só as mundanças objetivas que a política proporciona, como a mudança subjetiva.O ser se encontra com o outro, se constrói solidário, reconhece no outro a sua própria existência, na medida que , como dizia Aristóteles , o homem é um animal social, que só se torna ser humano(aquele que pensa , projeta, produz cultura) na medida que sua existência passa a ter um sentido.

17 setembro 2005

ÉTICA DO SILENCIAMENTO DAS MAIORIAS

Não podemos acreditar, como deseja a grande imprensa ,que a crise política por que passamos esteja fundada sobre os signos da ética e da moral. A crise têm origem política.No distanciamento do PT à pelo menos dez anos dos princípios que o fundaram.A bandeira da ética levantada pelo PT foi utilizada como subterfúgio, escondendo sua adaptação às regras do jogo democrático-liberal, sua confiança nas políticas neoliberais como estado mínimo, privatização,políticas compensatórias(herança do Estado de bem estar social), desoneração do grande capital econômico-financeiro ,seu afastamento das bases,sua burocratização e etc. Sempre pensei ,assim como muitos, que o PT seria a melhor saída para a burguesia nacional e oligarquias para sustentar sua continuidade no poder, com um verniz de esquerda e uma história com poucas contradições,este partido, compensaria o peso do neoliberalismo sobre os humildes e classe média com recursos disponíveis para o assitencialismo. Depois do plano de estabilização econômica, era preciso manter o controle sobre os movimentos sociais, garantir estabilidade política para não sobressaltar o fluxo de capitais e incomodar as instituições financeiras internacionais.A burguesia nacional se contentaria com as migalhas. Hoje setores importantes desta elite nacional estão insatisfeitos com a política econômica de Palocci, e se reeditou a disputa do governo FHC entre financeiristas e desenvolvimentistas, estes representados por Dirceu. Este frágil projeto não poderia mesmo sobreviver à grande dívida social que possui este país. Ostentamos números vergonhosos, que estatisticamente nos coloca muito atrás dos mais miseráveis países africanos e latino-americanos e mesmo os números econômicos defendidos pelo governo, como o crescimento econômico, ficam bem longe dos do México, Tigres asiáticos, Argentina, China e outros . Não podemos deixar de lembrar que o Capitalismo opera com picos de crescimento e de contenção, e este é o momento de grande euforia mundial do grande Capital, deixando os números de Lula ridicularizados.
O governo Lula é ético sim. Sua ética é aquela mesma defendida por todos os governos liberais que nos antecederam. Seu compromisso é com a manutenção do que está dado pela Globalização econômica selvagem e com a ética dos latifundiários(agronegócio é sua nova máscara) .

12 setembro 2005

SER FLUMINENSE

Menino, primeira vez pisando no Maraca Eu vi o Escurinho dar o drible da vaca E chegar veloz à linha de fundo, Cruzando para o Valdo encantar o mundo. E também a mim, jovem espectador, que nascera, fanático torcedor, Deste tradicional clube de três cores. Que estará sempre entre os vencedores, Desde os tempos de nossos ancestrais, Das conquistas que vêm dos tempos de Batatais, Pedro Amorim, Romeu, Tim, Russo e outros mais, Das grandezas que contavam nossos pais; Que desde Veludo, Pindaro, Orlando, Carlyle, Com Didi nas Laranjeiras de dava baile! Eu vi São Castilho com a sua leiteria E a bola que bateu na trave e entraria Eu vi Clovis, Edmilson, Robson, Jair Marinho, Eu vi Altair dando um belo "carrinho". Eu vi Pinheiro bater pênalti de bico, Vi Evaldo, Joaquinzinho e até Pipico. Eu vi Paulinho cobrar um escanteio, P´ro Telê fazer um golaço de voleio. Eu vi Maurinho pular mais alto que o goleiro, E dar um golpe de testa, certeiro. Eu vi Procópio, expulso, voltar a campo semi-nú, Prá comemorar um gol com o Rei Zulu. Eu vi Flávio fazer 3 no Palmeiras, no Morumbi, E vi 4 no Santos, na Vila, com Manoel e Ubiraci. Eu vi Samarone com toda sua ginga, E o drible desconcertante do Cafuringa. Eu vi aquele cruzamento do Oliveira, Que encontrava o Mickey na banheira. Eu vi Marco Antônio em linda jogada pessoal, E vi Silveira isolar a bola na geral. Eu vi nosso canhotinha Gerson, com a tricolor, E muitos outros, que também jogaram com amor. Eu vi a puxeta de calcanhar, tão bonita, Do Carlos Alberto Torres, nosso "Capita". Eu vi a máquina, dizia a gente: "É covardia!" com "Rivelino, Paulo César & Cia.". Máquina que vi dar um show em Paris, Com a torcida de pé, pedindo bis. Eu vi o Papel fazer uma defesa sensacional, E o gol de malandragem do "gringo" Doval. Eu vi Rivelino em genial jogada de xadrez, desmoronar a defesa do "velho freguês". Eu vi o gol olímpico de Paulo Cezar Cajú, e os dois gols do Manfrini no Fla Flu. Eu vi Rubens Gálaxie, Cléber e Pintinho, A força de búfalo do Gil, a raça do Edinho. Eu cantei "João de Deus" na arquibancada, P´ra que ganhasse do Bangu, de virada, Nosso time tricampeão, com tantos nomes: Paulo Vitor, Aldo, Duílio, Ricardo Gomes. Time desse quilate, ainda está por vir, Seguro na defesa e no meio, com Jandir. Time guerreiro, mas que jogava bonito, A classe do Delei, a garra do Romerito. Eu vi Washington e Assis, nosso casal 20, Era um show, um assombro, um acinte: Washington fez aquele golaço no Vasco, E o Flamengo sucumbiu duas vezes ao Carrasco. Ora Tato, ora Paulinho, atacando pelo flanco, Com o sempre eficaz o apoio do Branco. Eu vi inúmeros feitos do nosso tricolor, Que da taça Olímpica é o detentor. Eu vi a máquina, vi timinho, vi timaço, vi gol de letra, gol chorado, vi golaço. Eu vi gol de mão, Wilton que diga, E vi gol de Renato com a barriga. Irmãos tricolores: atenham-se aos fatos, Somos nós os que temos mais campeonatos. E também nós, o que temos mais vitórias, Passado, presente e futuro de glórias. Por séculos, milênios e vidas inteiras Temos orgulho do clube das Laranjeiras. E a alegria eterna de torcer Pelo time que sempre vence, E a dádiva divina de nascer, viver e morrer Fluminense!
Nelson Goyanna
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11 setembro 2005

"A Guerra contra o terrorismo será longa"

Anunciou o presidente do planeta. Má notícia para os civis que estão morrendo e morrerão,excelente notícia para os fabricantes de armas.
Não importa que as guerras sejam eficazes.O que importa é que sejam lucrativas.Desde o 11 de setembro ,as ações da General Dynamics e outras empresas da indústria bélica subiram verticalmente em Wall Street.A bolsa as ama...Os fabricantes de armas precisam de guerras como os fabricantes de abrigos precisam de invernos.(Eduardo Galeano,Teatro do bem e do mal).

07 setembro 2005

Distraídos Venceremos

Vim pelo caminho difícil,
a linha que nunca termina,
a linha bate na pedra,
a palavra quebra na esquina,
mínima linha vazia,
a linha, uma vida inteira,
palavra, palavra minha.
(Paulo Leminski)

05 setembro 2005

Inútil e Subversivo

Em 1995 no jornal Inútil e subversivo(cacis-UERJ) escrevi o artigo abaixo.Veja se não se enquadra no momento atual.

IDEOLOGIA: FALSA CONSCIÊNCIA

Paira no ar a neblina do ópio, estagnador de mentes.
A fumaça do terror alienante, anestesia sentimentos ,pensamentos e ações.
A tempestade afunda embarcações dos marginalizados, enquanto portos seguros protegem os barcos poderosos.
"Representantes" dos trabalhadores tentam salvar o sistema ancorador, enferrujado e apodrecido, enquanto os que realmente produzem as ondas se afogam nas mesmas.
Paira no ar , o denso fedor da falsa consciência de si mesmos e das coisas. Homens, mulheres, crianças e velhos se intoxicam com o cheiro banalizador da expropriação capitalista.
Ninguém percebe que o maremoto engoliu à todos, e suas almas purgam pelas migalhas "salvadoras" do parlamento.
Em todo o planeta manipulam as crenças de fé justificadoras da razão burguesa.
Globalizaram a opressão, internacionalizaram a prisão de sentimentos, enquadrados que estão na lógica do mercado auto-regulável.
Sexo e prazeres são bestializados, e agora, não passam de meras necessidades de consumo,enquanto paixão e amor se encontram à venda nas bancas de jornais.
O Partido que nasceu das lutas dos trabalhadores, late mas não morde, domesticado que está pelo desejo de gerir o caos , ainda que uma minoria sincera, porém iludida, lance flexas sem rumo, sem direção.
No cenário da tragédia, o PT pensa que é protagonista da mudança, mais não passa de um figurante que contribui na novela do controle social, de tão responsável que é, pela sustentação da Farsa da Legalidade.
Participam do jogo sem saber ( será mesmo que não sabem?) que o tabuleiro pode ser virado a qualquer momento, pois as regras seguem a norma dos fabricantes das leis da oferta e da procura, das intervenções coercitivas de um sistema monetário internacional que oferece a pobreza para se dividir entre os miseráveis.
O sistema que joga no ostracismo a verdade do seu própio esgotamento, apesar da força não vai calar nunca àqueles que dizem que é mentira a verdade que eles criaram.

03 setembro 2005

Já é tempo...

Já passou o tempo de negar uma única maneira de ver o mundo.
Já passou o tempo de ver que o sistema econômico e político que vivenciamos neste momento histórico se esgotou. Já é chegada a hora do sonho fazer parte da realidade,e que este sonho não se submeta aos desejos materiais ,único em voga nos dias de hoje.
É chegada a hora das classes médias se despirem do manto da ilusão da aspiração de ascenção de classe como única motivadora da vida.
É chegada a hora de prevalecer as tradições eminentemente populares dos humildes em detrimento da indústria cultural que nos empurra, guela à dentro ,o lixo capitalista.
É chegada a hora, já é tempo de ver o ser humano se tornar verdadeiramente senhor da aldeia global que se formou em torno do papel moeda, a maior das ficções impostas pelos donos do Capital,responsáveis pela grande anestesia cerebral chamada de vida.
Já é tempo de enchergarmos os poetas como dirigentes do novo sistema tendo os educadores como primeiros ministros do novo mundo sem hierarquias, a não ser aquelas que o esforço do pensar,conhecer e estudar permitir. "Dancemos todos,dancemos,amadas,Mortos, amigos,dancemos todos até não mais saber-se o motivo ...Até que as paineiras tenham por sobre os muros florido!"

O QUE O VENTO NÃO LEVOU

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento....

(Mario Qintana)