05 novembro 2012

Sociologia,Filosofia,ENEM e a arte de ignorar o futuro.




“A função da escola no século XXI é a de ensinar a ler o mundo.” Paulo Freire

Há algum tempo "Veja" publicou uma tentativa de desmerecer as disciplinas de sociologia e filosofia no ensino médio.Seus argumentos ocultavam interesses conservadores da sociedade brasileira e também atendia às necessidades da bancada das mantenedoras particulares no congresso nacional.

Depois da obrigatoriedade do ensino de Filosofia e Sociologia no ensino médio,boa parte da rede particular ainda resiste a ideia de promover em suas grades as disciplinas escolares.

Não é sem tempo lembrar,que “Veja” desfere ataques recorrentes ao ENEM,que possui problemas na sua concepção e organização,é certo,mas que passou a existir como processo de transição para o fim dos vestibulares,funil social que atende a exclusão necessária paras as classes dominantes brasileiras da autonomia do pensar que pode ser desenvolvida pelo acesso a universidade.Muitos falam sobre como algumas nações tiveram um incrível aumento da produção de riquezas quando investiram de forma maciça em educação.Não vou falar sobre isso,já que no Brasil,crescimento econômico não significa distribuição de renda.

Não vou falar sobre a necessidade de dessacralização das ciências,do atrelamento do conhecimento à técnica e as necessidades do mercado,questões que são de suma importância e que estão escondidas em algum lugar.

Estou falando da necessidade da educação provocar nos dias de hoje na juventude ,o ESTRANHAMENTO e a DESNATURALIZAÇÃO de uma realidade que está oculta e que os currículos escolares contribuem para isso,na medida em que não passam de mera reprodução ideológica daqueles que comandam o poder institucional e econômico.

O capitalismo transformou a educação em mero aparato do mercado,transformou o conhecimento em instrumental técnico para operacionalidade da indústria,vendando consciências a acreditarem que a função da escola é tão somente a de valorizar a mão de obra,para o alcance da mobilidade social.

Em todo o tempo de existência deste sistema,a humanidade pode comemorar o avanço técnico,as tecnologias nos permitem ações fabulosas,e não podemos negar sua importância ,embora este controle total do homem sobre a natureza tenha condenado o futuro do planeta e o acesso à tecnologia na área de saúde não signifique muito para os marginalizados do sistema,que mal conseguem ter uma consulta marcada ou faltam elementos básicos como esparadrapo e gesso.

Mas enquanto as tecnologias florescem e se desenvolvem, se perdeu o sentido da humanidade no conhecimento,onde a escola se transformou em aparelho reprodutor de ciência acumulada historicamente,dispensando o caráter reflexivo e de alargamento das consciências que poderia permitir amplas transformações sociais através do estímulo à cidadania plena,no mínimo.

Vemos que o não funcionamento de uma escola voltada para a superação dos problemas éticos e filosóficos da humanidade,tem nos feito presenciar problemas persistentes,como a fome,doenças tropicais ,a utilização das drogas como meio de superação das frustrações criadas pela indústria cultural e a publicidade do Capital que promete felicidade na quantidade de coisas que se possam comprar e tantos outros problemas objetivos e subjetivos intrínsecos a existência da hegemonia do Capital.

Ao analisarmos uma avaliação pré-universitária como o ENEM,percebemos uma grande quantidade de questões(de 20 a 24 questões de 45 no total)  que pertencem ao universo de discussões das ciências sociais(sociologia) e filosofia e que no entanto não merecem o reconhecimento de grande parte da rede particular e pública do país,que em alguns casos,como na rede pública do estado do RJ,teve sua carga horária diminuída.Na rede particular,muitas escolas ignoram em suas grades a existência das disciplinas sociologia e filosofia.

A minha pergunta agora é, para onde vamos?Na medida em que a principal avaliação do país integra em sua prova boa parte de questões ligadas a estas disciplinas.Será que “Veja” publicará mais ataques para atender interesses dos proprietários de escolas e governos que não veem com bons olhos o despertar das consciências?Será que vão propor uma reforma curricular regressiva e reacionária? Ou será que entenderão que o século XXI exige a reelaboração de todas as instituições,inclusive a escola?Com a palavra ,a sociedade brasileira que,ou avançará ou estará contribuindo para a Barbárie.