20 junho 2012

Belo Monte,Rio+ 20 e o processo civilizatório capitalista.



Belo Monte está inscrito sobre dois aspectos.O primeiro atende ao espectro histórico-cultural de submissão dos povos da floresta,imersos em tradições que não compactuam com o modelo econômico de desenvolvimento.O segundo ponto,se refere ao momento do capitalismo global que necessita de geração de energia para a consolidação da expansão global do Capital.

Não é difícil perceber que o projeto civilizatório do Capital vai de encontro às necessidades dos povos originários,ou da preservação ambiental.

Desde o início das expansões marítimas,os povos originários americanos são um empecilho ao progresso,palavra utilizada a partir do século XIX que expressa os ideais positivistas e evolutivos,que se coloca dentro da perspectiva etnocêntrica.

Guardadas as devidas proporções do tempo histórico,povos ribeirinhos e das florestas não se inserem nas perspectivas atuais de crescimento econômico,ou seja,o padrão civilizatório do Capital deve procurar justificativas para “varrer” os entraves culturais que neguem o avanço do “consenso” hegemônico do pensamento liberal.E o que fazem para justificar este modelo, é afirmar que instalações de usinas gerarão empregos,impostos e um  suposto desenvolvimento social  .

Segundo o movimento “Cúpula dos povos”,que associa defesa da natureza à inclusão social,a “Rio +20” não está credenciada para a defesa do meio ambiente,na medida em que submete a defesa do planeta à lógica do mercado.Há um processo de submissão  do ambientalismo ao mercado financeiro,bem como as decisões políticas(como forma de articulação de vontades e necessidades) estariam submetidas aos desejos de acumulação do Capital sob os mesmos parâmetros estabelecidos nos últimos vinte anos.

Sob a capa da expressão “Economia verde” está o desejo de articular as causas da natureza à acumulação do Capital ,mercantilizando as ações ambientais.As propostas eunucas que permearão o encontro “Rio +20”,são as mesmas que submetem as nações européias em crise,que  estariam divididas entre “desenvolvimentismo e consumismo” contra “austeridade e recessão”,ambas estariam fora das necessidades reais de defesa do planeta atendendo às expectativas dos grandes conglomerados capitalistas.Seria uma falsa polêmica estabelecida como manto que cobre as reais necessidades da defesa da natureza.

Submetido a este debate, que não visa a superação dos problemas em suas raízes,está o governo brasileiro.

O pensamento crítico presente dentro desta mesma ordem levanta a bandeira do desenvolvimento sustentável,que se mostra como mera maquiagem da voraz exploração capitalistal.

“Bárbaros” e” incivilizados”,os povos das florestas e  ribeirinhos resistem ao discurso e as ações de técnicos do sistema que nos remonta ao século XIX,quando,a pretexto da ocupação territorial “para o bem do progresso”,era levado à cabo o processo de aculturação e de violência para garantir  a passagem do trator expansionista ,o trator do Capital.

O governo brasileiro empunha a bravata do crescimento,  tenta dissimular o velho desejo de impor à maioria,a ética capitalista.Produz a falsa consciência da realidade de que o crescimento econômico gerará bem estar,na medida em que proporcionará aos excluídos do sistema,o acesso ao consumo,como se realmente fosse possível fazer do mundo uma grande classe média.Como se um antigo integrante das culturas resistentes,pudesse olhar com orgulho para seu forno de micro-ondas  ,suas antenas e seu computador ,comprados em dezenas de prestações e dissesse:”finalmente cheguei lá,me tornei  um civilizado,participante e construtor da nova ordem mundial.”

Alertemo-nos de que a história se repete agora,como farsa e tragédia .Renomearam  o etnocentrismo,reescrevem a opressão aos povos originários,agora o nome que carrega esta destruição chama-se crescimento econômico,que antes atendia pelo nome de progresso e desenvolvimento.

A força opressora da “razão iluminista e tecnocrata sobre a natureza e sobre à humanidade deve ser estancada.Os ouvidos precisam ser apurados para ouvir o grito do planeta e o lamento dos oprimidos.O silêncio ensurdecedor cala a voz das maiorias diante do descalabro, e nos faz pensar que neste silêncio está sendo gestado o futuro da escassez,o futuro da barbárie.

17 junho 2012

Conto da Andorinha


Por Lara Berruezo.

No dia depois de ontem o céu está cinza. Não me canso de olhá-lo.
Sai do meu mundo cautelosamente, para ninguém ouvir. Pé ante pé segui a estreita bancada, até ficar de frente para o céu.

Abri minhas asas, adormecidas, alongando-as. Não me atrevi a olhar para baixo. De olhos fechados senti o vento mover minhas penas. Dia perigoso para voar, o dia depois de ontem. Abri os olhos lentamente e deixei-los seguir a linha do horizonte.

Depois dos morros estava o mar, tinha certeza. Ninguém me dissera, mas eu tinha certeza. Encurvei meu corpo e com minhas patas dei o impulso para conseguir saltar. No ar alonguei o bico, em uma postura aerodinâmica. Bati algumas vezes as asas para estabilizar e planei sobre as mangueiras. 
De cima tudo é diferente, as cores são diferentes, as formas também. Impossível de explicar, só sentindo. Eu contra o vento cada vez mais, ele tentava me desestabilizar e eu o cortava. Uma briga silenciosa e cansativa.

O vento batia gélido em meu rosto como se quisesse me acordar de um sonho. Mas o céu cinza me confortava, e eu continuava. Só ia parar no mar.

 Os outros pássaros iam no sentido oposto, me olhavam com ar de duvida, mas como todos os outros pássaros são pássaros, seguiram com o seu voo. E eu continuei.

A autora é estudante do último ano do ensino médio,tem 17 anos e mora no Rio de Janeiro.