"Os principais atores do documentário (cerca de 200 pessoas) assinam um
pedido de criação de uma comissão internacional de auditoria, que teria
por missão especificar os motivos da acumulação da dívida soberana e
condenar os responsáveis. No caso vertente, a Grécia tem direito a
recusar o reembolso da sua "dívida injustificada", ou seja, da dívida
criada através de atos de corrupção contra o interesse da sociedade.
"Debtocracy"
é uma ação política. Apresenta um ponto de vista sobre a análise dos
acontecimentos que arrastaram a Grécia para uma situação preocupante. As
opiniões vão todas no mesmo sentido, sem contraponto. Foi essa a opção
dos autores, que apresentam a sua maneira de ver as coisas, logo nos
primeiros minutos: "Em cerca de 40 anos, dois partidos, três famílias
políticas e alguns grandes patrões levaram a Grécia à falência. Deixaram
de pagar aos cidadãos para salvar os credores".
Os "cúmplices" da falência perderam o direito à palavra.
Os
autores do documentário não dão a palavra àqueles que consideram
"cúmplices" da falência. Os primeiros-ministros e ministros das Finanças
gregos dos últimos dez anos são apresentados como elos de uma cadeia de
cúmplices que arrastaram o país para o abismo.
O diretor-geral
do FMI, Dominique Strauss-Kahn, que se apresentou aos gregos como o
médico do país, é comparado ao ditador Georges Papadopoulos
[primeiro-ministro sob o regime dos coronéis, de 1967 a 1974]. O
paralelo é estabelecido com uma facilidade notável desde o início do
documentário mas não é dado ao personagem relevante (DSK) o direito a
usar da palavra.
À pergunta "Porque não fazer intervir as pessoas
apontadas a dedo", um dos autores, Kateina Kitidi, responde que se
trata de "uma pergunta que deve ser feita a muitos órgãos de comunicação
que, nos últimos tempos, difundem permanentemente um único ponto de
vista sobre a situação. Nós consideramos que estamos a apresentar uma
abordagem diferente, que faz falta há muito tempo". O público garante a
independência do filme.
Para o seu colega Aris Hatzistefanou, o
que conta é a independência do documentário. "Não tínhamos outra
hipótese", explica. "Para evitar as limitações quanto ao conteúdo do
filme, que as empresas [de produção], as instituições ou os partidos
teriam imposto, apelámos ao público para garantir as despesas de
produção. Portanto, o documentário pertence aos nossos 'produtores
associados', que fizeram donativos na Internet e é por isso que não há
problemas de direitos. De qualquer modo, o nosso objetivo é difundi-lo o
mais amplamente possível."
O documentário utiliza os exemplos do
Equador e da Argentina para suportar o argumento segundo o qual o
relatório de uma comissão de auditoria pode ser utilizado como
instrumento de negociação, para eliminar uma parte da dívida e do
congelamento dos salários e pensões de reforma.
"Tentamos pegar
em exemplos de países como a Argentina e o Equador, que disseram não ao
FMI e aos credores estrangeiros que, ainda que parcialmente, puseram de
joelhos os cidadãos. Para tal, falámos com as pessoas que realizaram uma
auditoria no Equador e provaram que uma grande parte da dívida era
ilegal", acrescenta Katerina Kitidi. Contudo, "Debtocracy" evita
sublinhar algumas diferenças de peso e evidentes entre o Equador e a
Grécia. Entre elas, o facto de o Equador ter petróleo."
Fonte original do vídeo:
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