Por Lara Berruezo.
No dia depois de ontem o céu está cinza. Não me canso
de olhá-lo.
Sai do meu mundo cautelosamente, para ninguém ouvir.
Pé ante pé segui a estreita bancada, até ficar de frente para o céu.
Abri minhas asas, adormecidas, alongando-as. Não me
atrevi a olhar para baixo. De olhos fechados senti o vento mover minhas penas.
Dia perigoso para voar, o dia depois de ontem. Abri os olhos lentamente e
deixei-los seguir a linha do horizonte.
Depois dos morros estava o mar, tinha certeza. Ninguém
me dissera, mas eu tinha certeza. Encurvei meu corpo e com minhas patas dei o impulso
para conseguir saltar. No ar alonguei o bico, em uma postura aerodinâmica. Bati
algumas vezes as asas para estabilizar e planei sobre as mangueiras.
De cima
tudo é diferente, as cores são diferentes, as formas também. Impossível de
explicar, só sentindo. Eu contra o vento cada vez mais, ele tentava me desestabilizar
e eu o cortava. Uma briga silenciosa e cansativa.
O vento batia gélido em meu rosto como se quisesse me
acordar de um sonho. Mas o céu cinza me confortava, e eu continuava. Só ia
parar no mar.
Os outros pássaros
iam no sentido oposto, me olhavam com ar de duvida, mas como todos os outros
pássaros são pássaros, seguiram com o seu voo. E eu continuei.
A autora é estudante do último ano do ensino médio,tem 17 anos e mora no Rio de Janeiro.
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