“A função da escola no século XXI é a de ensinar a ler o mundo.”
Paulo Freire
Há algum tempo "Veja" publicou uma
tentativa de desmerecer as disciplinas de sociologia e filosofia no ensino
médio.Seus argumentos ocultavam interesses conservadores da sociedade
brasileira e também atendia às necessidades da bancada das mantenedoras particulares
no congresso nacional.
Depois da obrigatoriedade do
ensino de Filosofia e Sociologia no ensino médio,boa parte da rede particular
ainda resiste a ideia de promover em suas grades as disciplinas escolares.
Não é sem tempo lembrar,que “Veja”
desfere ataques recorrentes ao ENEM,que possui problemas na sua concepção e
organização,é certo,mas que passou a existir como processo de transição para o
fim dos vestibulares,funil social que atende a exclusão necessária paras as
classes dominantes brasileiras da autonomia do pensar que pode ser desenvolvida
pelo acesso a universidade.Muitos falam sobre como algumas nações tiveram um
incrível aumento da produção de riquezas quando investiram de forma maciça em
educação.Não vou falar sobre isso,já que no Brasil,crescimento econômico não
significa distribuição de renda.
Não vou falar sobre a necessidade
de dessacralização das ciências,do atrelamento do conhecimento à técnica e as
necessidades do mercado,questões que são de suma importância e que estão
escondidas em algum lugar.
Estou falando da necessidade da
educação provocar nos dias de hoje na juventude ,o ESTRANHAMENTO e a
DESNATURALIZAÇÃO de uma realidade que está oculta e que os currículos escolares
contribuem para isso,na medida em que não passam de mera reprodução ideológica
daqueles que comandam o poder institucional e econômico.
O capitalismo transformou a
educação em mero aparato do mercado,transformou o conhecimento em instrumental
técnico para operacionalidade da indústria,vendando consciências a acreditarem
que a função da escola é tão somente a de valorizar a mão de obra,para o
alcance da mobilidade social.
Em todo o tempo de existência
deste sistema,a humanidade pode comemorar o avanço técnico,as tecnologias nos
permitem ações fabulosas,e não podemos negar sua importância ,embora este
controle total do homem sobre a natureza tenha condenado o futuro do planeta e
o acesso à tecnologia na área de saúde não signifique muito para os
marginalizados do sistema,que mal conseguem ter uma consulta marcada ou faltam
elementos básicos como esparadrapo e gesso.
Mas enquanto as tecnologias
florescem e se desenvolvem, se perdeu o sentido da humanidade no
conhecimento,onde a escola se transformou em aparelho reprodutor de ciência
acumulada historicamente,dispensando o caráter reflexivo e de alargamento das
consciências que poderia permitir amplas transformações sociais através do estímulo
à cidadania plena,no mínimo.
Vemos que o não funcionamento de
uma escola voltada para a superação dos problemas éticos e filosóficos da
humanidade,tem nos feito presenciar problemas persistentes,como a fome,doenças
tropicais ,a utilização das drogas como meio de superação das frustrações
criadas pela indústria cultural e a publicidade do Capital que promete
felicidade na quantidade de coisas que se possam comprar e tantos outros
problemas objetivos e subjetivos intrínsecos a existência da hegemonia do
Capital.
Ao analisarmos uma avaliação
pré-universitária como o ENEM,percebemos uma grande quantidade de questões(de
20 a 24 questões de 45 no total) que
pertencem ao universo de discussões das ciências sociais(sociologia) e
filosofia e que no entanto não merecem o reconhecimento de grande parte da rede
particular e pública do país,que em alguns casos,como na rede pública do estado
do RJ,teve sua carga horária diminuída.Na rede particular,muitas escolas
ignoram em suas grades a existência das disciplinas sociologia e filosofia.
A minha pergunta agora é, para
onde vamos?Na medida em que a principal avaliação do país integra em sua prova
boa parte de questões ligadas a estas disciplinas.Será que “Veja” publicará
mais ataques para atender interesses dos proprietários de escolas e governos
que não veem com bons olhos o despertar das consciências?Será que vão propor
uma reforma curricular regressiva e reacionária? Ou será que entenderão que o
século XXI exige a reelaboração de todas as instituições,inclusive a escola?Com
a palavra ,a sociedade brasileira que,ou avançará ou estará contribuindo para a
Barbárie.
Um comentário:
Uma bela reflexão.Parecemos estar chegando bem próximo à barbárie caro colega.
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