15 abril 2011

LIXO (ou A arte de me lixar pra vida do planeta).


A corrida espacial, característica do período da guerra fria, fez com que agências espaciais de USA e URSS projetassem em grande velocidade elementos eletrônicos para atender às demandas da concorrência espacial. Mais do que nunca, esta corrida era fundamental para propagandear a excelência do sistema.

A NASA então descobre que boa parte de suas descobertas serviria ao mercado, a internet é uma delas,e a descoberta mais importante seria a vida curta dos objetos e tecnologias inventadas.Este processo ficou conhecido como “obsolescência programada” e “obsolescência planejada”.

Desde então o mercado se lambuza com os altos lucros com cada vez menos custos, aliados ao espaço conquistado pela tecnologia sobre os postos de trabalho. Estava pronta a receita para a expansão global do Capital.
O resultado é a obsolescência absurdamente rápida dos produtos consumidos nos dias de hoje, graças a pouca durabilidade e principalmente, um elemento advindo da cultura de massa, a moda.
Mesmo que o produto dure mais tempo, a moda é capaz de enterrar em definitivo a vida útil de produtos ainda em funcionamento.

O fenômeno da descartabilidade do produto em busca de outros que atendam as expectativas de maior tecnologia ou potência é o mais cruel dos elementos da Globalização econômica.
O Status da posse de um produto recém lançado é o maior incentivo para trocar um produto por um mais novo.

Empresas de tecnologia nem precisam se preocupar em que os produtos quebrem com rapidez.Basta que se criem novos softwares(programas) que não se adaptem aos “velhos” hardwares,para decretar o enterro das máquinas.

Todo este planejamento do Capital faz surgir um problema crucial que é o lixo produzido.Sem a devida importância dada a este problema,o planeta é incapaz de absorver com a mesma velocidade com que se descarta,tanto quanto a velocidade com que se retira do meio ambiente a matéria prima para se produzir a partir das demandas colocadas pela moda,pelas obsolescências planejadas e programadas.

A capacidade de adaptação e manipulação do Capital e seu aliado imediato,os meios de comunicação, é grande.Aí inventaram a expressão “Desenvolvimento sustentável”.Retirar matérias primas da natureza  de forma sustentável passou a ser a palavra de ordem dos defensores do sistema e até mesmo de forças progressistas reformistas.  

Há uma incompatibilidade entre “desenvolvimento sustentável” e a expropriação do planeta na escala em que se verifica.

A cultura do consumismo é construída desde a infância pelos meios de comunicação.Existem pesquisas que demonstram que se tenta através da propaganda ,através da erotização da infância,diminuir a infância para que se alcance a adolescência com maior velocidade,visto que, é a faixa de consumo maior na vida de um ser humano,faixa de idade que atende mais facilmente aos apelos do consumismo.Da mesma forma,a programação das televisões sem qualidade(de qualidade rasteira) tendem a “emburrecer” os telespectadores que por conta disso, sem perspectivas culturais interessantes se debruçam sobre o consumo como forma de esvaziar frustrações e permitir o status recorrente da competitividade, onde eu me apresento ao mundo como alguém bem sucedido a partir das coisas que posso adquirir. 

A obsolescência do SER é o problema maior em um sistema da descartabilidade dos produtos. A pós-modernidade ao mesmo tempo nos apresenta o hedonismo, prazer máximo em mínimo tempo, e o abandono do passado e do futuro para decretar o deus-prazer da sociedade do espetáculo.As vitrines de Shopping Center se tornaram o altar das novas orações.

O SER é determinado pelo TER, e o ser também pode ser descartado. Posso matar com a legitimidade da sociedade aquele que impede que goze do prazer de usufruir da minha mercadoria. Quanto vale a vida? Depende de quanto vale a propriedade que  perdi. Quanto  vale o conforto que o descartável me proporciona? A continuidade da vida do planeta que agoniza neste processo.

A saída seria o estímulo à educação que busque a construção de novos valores, alternativos aos valores do grande Capital que desconstrói nossa morada e nossa existência. O apelo à cultura e ao conhecimento como valor universal colocará novas perspectivas para existência humana.

O lixo do Capital é o maior problema da humanidade. Ao se tornar a lixeira do universo, o planeta terra pede socorro.

12 comentários:

Anônimo disse...
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Daniela disse...

Lindo artigo meu querido mestre!
saudades!!!

Wallace Camargo disse...

Perdoe-me querida Daniele! Por descuido,deletei seu outro comentário.Mestre em se relacionar mal com tecnologias.Beijo grande!

Anônimo disse...

Artigo para colocar "pulgas' atrás das orelhas de todos nós.Como ficamos nessa?estou teclando em meu novo "brinquedinho" e já estou angustiado.De qualquer maneira,nunca li artigo tão completo sobre o assunto.Parabéns pelo blog!
Professor Antônio Liberatti

Anônimo disse...

Uma beleza de texto.Abordagem super completa.Parabéns professor.

Anônimo disse...

A saída que vc apontou("valorização da cultura e conhecimento") ainda sim seria insuficiente se o sistema não for derrubado.Intríssico valor ao capitalismo é o consumismo.

O processo de erotização da infãncia é assutador,as vezes penso que é uma verdade,outras vezes penso que é só mais uma teoria da conspiração.mesmo assim vale o alerta!

Anônimo disse...

Tecnologia é muito bom e não abro mão

Anônimo disse...

Oi "bichinho"! Venho aqui pra dizer que suas aulas me marcaram profundamente.Sou mais feliz vendo o mundo da forma original que vc me revelou.Obrigada por tudo e saudades.

Maria Helena Santos Silva

Anônimo disse...

eles fazem das riquezas da terra o veneno da terra.

Alicia Zeita disse...

Espetacular artigo meu Mestre!

Anônimo disse...

Obsolescência planejada!Aprendi com você mestre wallace!

Francisco Pereira

Anônimo disse...

Talvez muitos não gostem do que você escreveu.A lógica é esta mesmo na medida que é algo que incomoda a todos que estão se sentindo muito bem em poder consumir desenfreadamente.è uma excelente reflexão proposta por você professor.Estarei sempre atento ao seu blog.
Marcio Frenandes Castro