Belo
Monte está inscrito sobre dois aspectos.O primeiro atende ao espectro
histórico-cultural de submissão dos povos da floresta,imersos em
tradições que não compactuam com o modelo econômico de desenvolvimento.O
segundo ponto,se refere ao momento do capitalismo global que necessita de
geração de energia para a consolidação da expansão global do Capital.
Não
é difícil perceber que o projeto civilizatório do Capital vai de encontro às
necessidades dos povos originários,ou da preservação ambiental.
Desde
o início das expansões marítimas,os povos originários americanos são um
empecilho ao progresso,palavra utilizada a partir do século XIX que expressa os
ideais positivistas e evolutivos,que se coloca dentro da perspectiva
etnocêntrica.
Guardadas
as devidas proporções do tempo histórico,povos ribeirinhos e das florestas não se
inserem nas perspectivas atuais de crescimento econômico,ou seja,o padrão
civilizatório do Capital deve procurar justificativas para “varrer” os entraves
culturais que neguem o avanço do “consenso” hegemônico do pensamento liberal.E
o que fazem para justificar este modelo, é afirmar que instalações de usinas gerarão
empregos,impostos e um suposto
desenvolvimento social .
Segundo
o movimento “Cúpula dos povos”,que associa defesa da natureza à inclusão
social,a “Rio +20” não está credenciada para a defesa do meio ambiente,na
medida em que submete a defesa do planeta à lógica do mercado.Há um processo de
submissão do ambientalismo ao mercado
financeiro,bem como as decisões políticas(como forma de articulação de vontades
e necessidades) estariam submetidas aos desejos de acumulação do Capital sob os
mesmos parâmetros estabelecidos nos últimos vinte anos.
Sob
a capa da expressão “Economia verde” está o desejo de articular as causas da
natureza à acumulação do Capital ,mercantilizando as ações ambientais.As
propostas eunucas que permearão o encontro “Rio +20”,são as mesmas que submetem
as nações européias em crise,que
estariam divididas entre “desenvolvimentismo e consumismo” contra
“austeridade e recessão”,ambas estariam fora das necessidades reais de defesa
do planeta atendendo às expectativas dos grandes conglomerados
capitalistas.Seria uma falsa polêmica estabelecida como manto que cobre as
reais necessidades da defesa da natureza.
Submetido
a este debate, que não visa a superação dos problemas em suas raízes,está o
governo brasileiro.
O
pensamento crítico presente dentro desta mesma ordem levanta a bandeira do
desenvolvimento sustentável,que se mostra como mera maquiagem da voraz exploração
capitalistal.
“Bárbaros”
e” incivilizados”,os povos das florestas e ribeirinhos resistem ao discurso e as ações de
técnicos do sistema que nos remonta ao século XIX,quando,a pretexto da ocupação
territorial “para o bem do progresso”,era levado à cabo o processo de
aculturação e de violência para garantir
a passagem do trator expansionista ,o trator do Capital.
O
governo brasileiro empunha a bravata do crescimento, tenta dissimular o velho desejo de impor à
maioria,a ética capitalista.Produz a falsa consciência da realidade de que o
crescimento econômico gerará bem estar,na medida em que proporcionará aos
excluídos do sistema,o acesso ao consumo,como se realmente fosse possível fazer
do mundo uma grande classe média.Como se um antigo integrante das culturas
resistentes,pudesse olhar com orgulho para seu forno de micro-ondas ,suas antenas e seu computador ,comprados em
dezenas de prestações e dissesse:”finalmente cheguei lá,me tornei um civilizado,participante e construtor da
nova ordem mundial.”
Alertemo-nos
de que a história se repete agora,como farsa e tragédia .Renomearam o etnocentrismo,reescrevem a opressão aos
povos originários,agora o nome que carrega esta destruição chama-se crescimento
econômico,que antes atendia pelo nome de progresso e desenvolvimento.
A
força opressora da “razão iluminista e tecnocrata sobre a natureza e sobre à
humanidade deve ser estancada.Os ouvidos precisam ser apurados para ouvir o
grito do planeta e o lamento dos oprimidos.O silêncio ensurdecedor cala a voz
das maiorias diante do descalabro, e nos faz pensar que neste silêncio está
sendo gestado o futuro da escassez,o futuro da barbárie.
Um comentário:
Mais um belo artigo do meu querido irmão. Realmente "desenvolvimento sustentável" tem sido discurso desde a década de 1940 aqui no Brasil. Nunca foi posto em prática nada parecido com "sustentável", apenas o desenvolvimento capitalista, que continua a excluir antes uma parte do mundo e agora, o mundo todo? Ou chegou a hora dos povos sim, se tornarem cúpula? O Brasil não deve vender a raríssima reserva do planeta...Os governantes ainda agem de forma vergonhosa e engolirão tudo o que tem plantado...
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