“A tradição de todas as gerações
mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem
empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais
existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens
conjuram ansiosamente em seu auxilio os espíritos do passado, tomando-lhes
emprestado os nomes, os gritos de guerra e as roupagens, a fim de se apresentar
nessa linguagem emprestada.” K.Marx
O que representam as eleições do
jogo democrático para os socialistas?É um velho debate,que por sua
importância,prevalece no campo da esquerda socialista.Em toda a história do
século xx este debate se deu nas hostes de partidos socialistas e
comunistas.Estes debate sangra as organizações historicamente,provocando
cisões,expurgos e invariavelmente,criando crises nos movimentos sociais.Por ser
uma discussão conjuntural ,entendendo que depende do momento social,político e
econômico,a correlação de forças,e fundamentalmente,levando em consideração os
princípios e as análises dos momentos históricos passados.Esses processos
assumiram tal dramaticidade no seio da esquerda socialista,muitas das vezes por
expressar a opção confortável de setores que acreditam poder se chegar ao
socialismo privilegiando a democracia liberal e suas regras.
É bom que se lembre,mais do que
nunca,que a superestrutura cultural da burguesia,expressa em seus meios de
comunicação,assumem o papel principal de controle social e político,através da produção
da falsa consciência,provocando intenso refluxo na difusão de ideias nas forças
socialistas e revolucionárias.A ideologia dominante assume seu papel
preponderante na manutenção da ordem do Capital.Encantados com a saída
reformista/parlamentar,setores da esquerda se satisfazem com o recuo de seu
programa ,ao abrir mão de reivindicações históricas em troca de alianças com
setores progressistas burgueses e a aceitação das classes médias(conservadoras
e sem caráter sem caráter cultural e sem consciência de
classes)fatigada por lutar para manter suas conquistas materiais.
É óbvio que os processos
eleitorais não devem ser desprezados pelos socialistas,nem a importância de
suas bancadas em se transformarem em trincheiras de lutas dos movimentos
sociais e marginalizados.Mas daí a se
transformarem em ponta de lança das atuações das ações da esquerda,é onde se
desenvolve o problema.Abrir mão do programa socialista em uma eleição,é abrir
mão do papel pedagógico que o espaço eleitoral permite,papel este,fundamental para
a construção de um projeto de poder que vá além das apropriações de espaços de
governo e legislatórios,que visam reformar por dentro estruturas políticas
esgotadas.É a esquerda socialista cumprindo o papel de salvação do esgotado
sistema liberal burguês,que ainda sobrevive graças às máquinas ideológicas de
reprodução e manutenção da ordem democrárico-burguesa.
As argumentações para a defesa
deste canal institucionalista(que já recebeu alcunhas como,socialismo
jurídico,reformismo...)são manobras retóricas muitas vezes convincentes,levando
em consideração a maior complexidade do momento global atual do sistema,mas não
nos tem mostrado historicamente avanços na conquista do socialismo.O jogo
democrático possui regras que não permitem avanços grandiosos em direção à derrocada
do sistema,a não ser que ao mesmo tempo,a esquerda no poder signifique avanços
sociais e principalmente, a organização popular para a sustentação hegemônica
das lutas que se dão em todos os espaços políticos e culturais,permitindo a
cogerência dos processos de lutas pelas organizações populares,algo bastante
parecido com que acontece na Venezuela neste momento.
No passado,as “Frentes Populares”,que
compunham partidos progressistas liberais e socialistas institucionalistas
foram sempre uma alternativa importante para a participação no processo
eleitoral de socialistas e revolucionários.E as “Frentes de Esquerda” sempre
foram bons remédios para as disputas fracionistas,que desmantelam os
movimentos.
Hoje,com o refluxo das
organizações socialistas e de movimentos sociais(que não se pode confundir com
a efemeridade dos” movimentos societais” ou processos de revoluções políticas
sem transformações sociais que atinjam a desconstrução do Capital),com os
ataques cada vez mais veementes da burguesia internacional aos direitos
conquistados pelos trabalhadores do mundo inteiro,graças às diminuições nas
escalas das taxas de lucros,e mesmo a falência do modelo econômico insustentável
ecologicamente e falido economicamente - só mantido,como já citado
anteriormente pela capacidade de manipulação ideológica dos meios de comunicação de massa e o barateamento
dos produtos,visto haver uma superexploração do capital sobre o trabalho,baixando
o valor de mercadorias,inserindo parcelas significativas ao consumo( não
confundir com o falso entendimento sobre a ascensão de novas classes sociais,que
não se sustentarão diante de uma crise de caráter mundial e pelo fato de não possuírem,estes
novos consumidores, base educacional)- vemos estes setores ,os chamados
reformistas,se reencantarem com as liberdades políticas que não alcançam a
igualdade econômica.Fragmentando o programa socialista em troca dos avanços
hegemônicos conquistados no varejo da política democrática.
É importante que se diga e repita,
que os processos eleitorais e as lutas intestinas que se dão dentro das
instituições burguesas não podem ser abandonados.A liberdade democrática é o
espaço de disputa do programa da esquerda socialista,não só no âmbito
político,tanto quanto nas disputas culturais que se dão nos micro-processos
políticos,nos clubes ,ruas,escolas,igrejas,famílias e etc. São mares que não
devem deixar de ser navegados por todos aqueles lutadores que almejam a alternativa
ao capitalismo.As lutas pelos direitos humanos,campanhas contra a fome, políticas
afirmativas de correção histórica,por exemplo,são lutas essenciais para a
construção da consciência política dos envolvidos,permitindo aos socialistas,à
aproximação de setores da sociedade civil.
São os fantasmas do passado
oprimindo os homens do presente,repetindo as fórmulas equivocadas das
pretéritas derrotas.São as lideranças atuais embriagadas com os aparatos do
Estado.São honestos nas crenças,mas equivocados ao desprezar a História.Acreditam
que as instituições avançam evolutivamente como os corpos da natureza.Confundem
o funcionamento biológico com o funcionamento sociológico.Os métodos não são os
mesmos.As relações causais da Física não são semelhantes à complexidade das
variáveis de respostas culturais e sociais.São Neo-darwinistas de esquerda.São
ingênuos,apesar de conter beleza em seus discursos inflamados e moralistas.A
corrupção é a Gênese das instituições capitalistas,estas não se reformam.
Reformistas acreditam em “choques
éticos” provocados pelo inflamado discurso da moral e dos bons costumes.São sim
uma variável pós-moderna da UDN do passado.Acreditam que as etapas reformistas
desembocarão em uma cascata revolucionária,os de boa fé,os oportunistas desejam
tão somente submeter os movimentos sociais às sua decisões “revolucionárias de
ar-condicionado” regadas a bons salários, sofisticados no uso do idioma e
comportamento ético que levem ao delírio às classes médias horrorizadas frente
a possibilidade de perder alguma propriedade ou conquista com os avanços sociais dos marginalizados.Não sabem os
reformistas que as estruturas destas instituições estão pautadas em pilares
filosóficos liberais,irremediavelmente condenadas a reproduzir os valores do “Status
quo”.
Este é um tipo de debate que deve
ser travado fraternalmente(apesar das ironias que me provocam), e não esperemos
que jornalistas de “Vejas” e etc consigam entendê-lo.São meros cachorrinhos de
madame a abanar seus rabos sujos por promoção e dinheiro.
Nas lutas conjuntas,o debate fraterno
e plural,não significa a invasão da lógica burguesa na política,que é um bem
precioso dos explorados e oprimidos.Os partidos da esquerda,PCB,PSOL e PSTU,devem
travar este debate para que se fortaleçam as ferramentas de transformação
social que são os partidos políticos,no cotidiano e também nas eleições.
Ao defender a imensa importância
do debate ecológico,submetido à dialética,ao projeto socialista,não incluo aí
as representações liberais do “campo verde’,como Marinas e Gabeiras,que tem suas
histórias marcadas por alianças com “Sarneys” e “PSDBs” bem como a crença em um
PT vergonhoso,que até as bandeiras reformistas abandonou.
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