02 fevereiro 2013

"Socialistas-malabaristas":justificadores da ordem pela arte da retórica.




                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       
“A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxilio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os nomes, os gritos de guerra e as roupagens, a fim de se apresentar  nessa linguagem emprestada.” K.Marx

O que representam as eleições do jogo democrático para os socialistas?É um velho debate,que por sua importância,prevalece no campo da esquerda socialista.Em toda a história do século xx este debate se deu nas hostes de partidos socialistas e comunistas.Estes debate sangra as organizações historicamente,provocando cisões,expurgos e invariavelmente,criando crises nos movimentos sociais.Por ser uma discussão conjuntural ,entendendo que depende do momento social,político e econômico,a correlação de forças,e fundamentalmente,levando em consideração os princípios e as análises dos momentos históricos passados.Esses processos assumiram tal dramaticidade no seio da esquerda socialista,muitas das vezes por expressar a opção confortável de setores que acreditam poder se chegar ao socialismo privilegiando a democracia liberal e suas regras.

É bom que se lembre,mais do que nunca,que a superestrutura cultural da burguesia,expressa em seus meios de comunicação,assumem o papel principal de controle social e político,através da produção da falsa consciência,provocando intenso refluxo na difusão de ideias nas forças socialistas e revolucionárias.A ideologia dominante assume seu papel preponderante na manutenção da ordem do Capital.Encantados com a saída reformista/parlamentar,setores da esquerda se satisfazem com o recuo de seu programa ,ao abrir mão de reivindicações históricas em troca de alianças com setores progressistas burgueses e a aceitação das classes médias(conservadoras e sem caráter  sem caráter cultural  e sem consciência de classes)fatigada por lutar para manter suas conquistas materiais.

É óbvio que os processos eleitorais não devem ser desprezados pelos socialistas,nem a importância de suas bancadas em se transformarem em trincheiras de lutas dos movimentos sociais e marginalizados.Mas daí  a se transformarem em ponta de lança das atuações das ações da esquerda,é onde se desenvolve o problema.Abrir mão do programa socialista em uma eleição,é abrir mão do papel pedagógico que o espaço eleitoral permite,papel este,fundamental para  a construção de um projeto de poder que vá além das apropriações de espaços de governo e legislatórios,que visam reformar por dentro estruturas políticas esgotadas.É a esquerda socialista cumprindo o papel de salvação do esgotado sistema liberal burguês,que ainda sobrevive graças às máquinas ideológicas de reprodução e manutenção da ordem democrárico-burguesa.

As argumentações para a defesa deste canal institucionalista(que já recebeu alcunhas como,socialismo jurídico,reformismo...)são manobras retóricas muitas vezes convincentes,levando em consideração a maior complexidade do momento global atual do sistema,mas não nos tem mostrado historicamente avanços na conquista do socialismo.O jogo democrático possui regras que não permitem avanços grandiosos em direção à derrocada do sistema,a não ser que ao mesmo tempo,a esquerda no poder signifique avanços sociais e principalmente, a organização popular para a sustentação hegemônica das lutas que se dão em todos os espaços políticos e culturais,permitindo a cogerência dos processos de lutas pelas organizações populares,algo bastante parecido com que acontece na Venezuela neste momento.

No passado,as “Frentes Populares”,que compunham partidos progressistas liberais e socialistas institucionalistas foram sempre uma alternativa importante para a participação no processo eleitoral de socialistas e revolucionários.E as “Frentes de Esquerda” sempre foram bons remédios para as disputas fracionistas,que desmantelam os movimentos.

Hoje,com o refluxo das organizações socialistas e de movimentos sociais(que não se pode confundir com a efemeridade dos” movimentos societais” ou processos de revoluções políticas sem transformações sociais que atinjam a desconstrução do Capital),com os ataques cada vez mais veementes da burguesia internacional aos direitos conquistados pelos trabalhadores do mundo inteiro,graças às diminuições nas escalas das taxas de lucros,e mesmo a falência do modelo econômico insustentável ecologicamente e falido economicamente - só mantido,como já citado anteriormente pela capacidade de manipulação ideológica dos  meios de comunicação de massa e o barateamento dos produtos,visto haver uma superexploração do capital sobre o trabalho,baixando o valor de mercadorias,inserindo parcelas significativas ao consumo( não confundir com o falso entendimento sobre a ascensão de novas classes sociais,que não se sustentarão diante de uma crise de caráter mundial e pelo fato de não possuírem,estes novos consumidores, base educacional)- vemos estes setores ,os chamados reformistas,se reencantarem com as liberdades políticas que não alcançam a igualdade econômica.Fragmentando o programa socialista em troca dos avanços hegemônicos conquistados no varejo da política democrática.

É importante que se diga e repita, que os processos eleitorais e as lutas intestinas que se dão dentro das instituições burguesas não podem ser abandonados.A liberdade democrática é o espaço de disputa do programa da esquerda socialista,não só no âmbito político,tanto quanto nas disputas culturais que se dão nos micro-processos políticos,nos clubes ,ruas,escolas,igrejas,famílias e etc. São mares que não devem deixar de ser navegados por todos aqueles lutadores que almejam a alternativa ao capitalismo.As lutas pelos direitos humanos,campanhas contra a fome, políticas afirmativas de correção histórica,por exemplo,são lutas essenciais para a construção da consciência política dos envolvidos,permitindo aos socialistas,à aproximação de setores da sociedade civil.

São os fantasmas do passado oprimindo os homens do presente,repetindo as fórmulas equivocadas das pretéritas derrotas.São as lideranças atuais embriagadas com os aparatos do Estado.São honestos nas crenças,mas equivocados ao desprezar a História.Acreditam que as instituições avançam evolutivamente como os corpos da natureza.Confundem o funcionamento biológico com o funcionamento sociológico.Os métodos não são os mesmos.As relações causais da Física não são semelhantes à complexidade das variáveis de respostas culturais e sociais.São Neo-darwinistas de esquerda.São ingênuos,apesar de conter beleza em seus discursos inflamados e moralistas.A corrupção é a Gênese das instituições capitalistas,estas não se reformam.

Reformistas acreditam em “choques éticos” provocados pelo inflamado discurso da moral e dos bons costumes.São sim uma variável pós-moderna da UDN do passado.Acreditam que as etapas reformistas desembocarão em uma cascata revolucionária,os de boa fé,os oportunistas desejam tão somente submeter os movimentos sociais às sua decisões “revolucionárias de ar-condicionado” regadas a bons salários, sofisticados no uso do idioma e comportamento ético que levem ao delírio às classes médias horrorizadas frente a possibilidade de perder alguma propriedade ou conquista com os avanços  sociais dos marginalizados.Não sabem os reformistas que as estruturas destas instituições estão pautadas em pilares filosóficos liberais,irremediavelmente condenadas a reproduzir os valores do “Status quo”.

Este é um tipo de debate que deve ser travado fraternalmente(apesar das ironias que me provocam), e não esperemos que jornalistas de “Vejas” e etc consigam entendê-lo.São meros cachorrinhos de madame a abanar seus rabos sujos por promoção e dinheiro.

Nas lutas conjuntas,o debate fraterno e plural,não significa a invasão da lógica burguesa na política,que é um bem precioso dos explorados e oprimidos.Os partidos da esquerda,PCB,PSOL e PSTU,devem travar este debate para que se fortaleçam as ferramentas de transformação social que são os partidos políticos,no cotidiano e também nas eleições.

Ao defender a imensa importância do debate ecológico,submetido à dialética,ao projeto socialista,não incluo aí as representações liberais do “campo verde’,como Marinas e Gabeiras,que tem suas histórias marcadas por alianças com “Sarneys” e “PSDBs” bem como a crença em um PT vergonhoso,que até as bandeiras reformistas abandonou.




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