01 janeiro 2022

Senso comum e fascismo.

 Quando Platão identificou em seu dualismo a relação entre Senso Comum e Bom Senso, queria afirmar o conhecimento contra os sentidos, segundo o qual, falha ao não conceber a verdade por tão somente as impressões que os sentidos fornecem.

A Era Moderna, o processo civilizatório que  inaugura a ciência como padrão para os debates, coloca referências, não só como o alcance da verdade, com parâmetros epistemológicos e metodológicos, mas referências éticas para o questionamento daquilo que se apresenta como verdadeiro possa ser questionado de acordo com parâmetros pré-estabelecidos. Óbvio que a ciência não é neutra quando envolve os desejos de classes poderosas economicamente, mas a partir daí também estariam estabelecidos padrões que regulassem os debates, que superariam a hegemonia da verdade por meio religioso e político que dominava a Idade Média.

No século XVIII, o grande filósofo iluminista, Emanuel Kant, estabelece o debate sobre a verdade a partir daquilo que chamou de Imperativo Categórico, referência Ética que estaria acima das culturas e seus valores morais que iniciariam padrões que valorizasse aquilo que a humanidade ,por suas tradições sacralizariam enquanto verdadeiro. A ética, seria referência de princípios para que os valores morais seguissem o caminho com determinada uniformidade.

De Platão à Modernidade, a opinião deixou de ser referência para ações políticas. A opinião(Doxa)  ou Senso Comum seria um engano e não necessariamente corresponderia a verdade. Os olhos que enxergam o Sol, faltariam ao dimensionar o tamanho  do grande astro.

A História recente, pós 2ª guerra mundial reforçou os valores da integridade do Ser humano, acima de qualquer outro valor, baseado nas referências iluministas(século XVIII) quando os direitos humanos ,garantiriam a existência da diversidade, por mais que os princípios iluministas e burgueses pudessem, como foram, serem questionados, principalmente  a partir do Século XIX.

A igualdade iluminista não é a igualdade econômica é uma igualdade jurídica, que permitiria minimamente que o diverso se manifeste. Não resolve, mas garante o alcance à conquistas sociais. 

Nietzsche, talvez, com seu relativismo radical, pudesse justificar o que não fosse, ciência, filosofia e religião/moral, base da pós-modernidade, mas de maneira alguma usou o senso-comum como referência para isso, pelo contrário.

Os argumentos de valorização da “opinião” em detrimento do conhecimento acumulado também foram questionados por pensadores fundamentais do Liberalismo político, (contratualistas)Hobbes e Rousseau, que expressam a necessidade de que os indivíduos “abrissem mão” da liberdade absoluta em torno de um “Contrato Social” que garantisse a integridade do indivíduo(Rousseau) e a segurança(Hobbes).

Tudo isso citado, significa que se a “opinião”  ( Senso Comum) violar padrões civilizatórios, se imputar ao indivíduo maior força que a própria sociedade, estaria colocada aí, antes de tudo uma violação Ética.

Se a força do conhecimento humano tiver que se submeter à vontade de indivíduos ou grupos, esse conhecimento deixa de ter importância. O acúmulo político, dos Utilitaristas(liberais) aos marxistas, trouxe a ética para as ações públicas, a proteção da integridade de minorias, principalmente aquelas que tivessem em risco da viabilidade da existência, o que ficou conhecido como direitos humanos, que é uma criação liberal,de defesa dos direitos “naturais” do indivíduo e da propriedade.

Se alguém afirma sua opinião, contra o direito de existência do outro, está violando princípios éticos e não só manifestando opiniões políticas.

Negacionistas são aqueles que antes de tudo, são antiéticos e até imorais e se travestem de portadores de opiniões políticas.

Submeter a vacinação, avanço da humanidade, a qualquer opinião significa abrir mão de referências históricas que salvaram vidas durante boa parte do século XX e XXI.

E mesmo, defender doutrinas de ódio à diferença não é uma “opção”, nem mesmo uma opinião que valha ser reconhecida.

Portanto, se você despreza parâmetros do conhecimento acumulado, onde a própria Ciência é passível de questionamento, você está violando a Ética. Ser defensor do ódio não é tolerável, ser anti-ciência, não é tolerável, simplesmente é se tornar alguém que é capaz de tudo para conseguir seus desejos. O fascismo, dentre tantas caracterizações, confere o uso da força e da falsa consciência da realidade.

O fascista é o senso comum, é  anticivilizatório, desenterra o que a humanidade havia descartado, e a visão contemporânea deste fascismo renega bases de negociação, debate e parâmetros que norteiam o alcance do bom senso.


05 fevereiro 2021

PT e a auto-crítica

 https://youtu.be/Fo1pt5rOAKw

Genuíno, com a consciência do que ele e o PT representam, dá um grande passo a construção de uma frente de esquerda, em busca das bases perdidas. É a primeira grande auto-crítica do PT desde o golpe de 16. 

As derrotas recentes mostram que, o programa da esquerda que entendeu  a classe dominante como aliada não cabe mais,diante da conjuntura de crise de acumulação do capital. Sua fala é de alguém que consegue ler a realidade como ela é, e a exigência da radicalidade em um Brasil onde o escravismo ainda dita as formas políticas de ação das classes dominantes em pleno século XXI. 



No passado, Genuíno e Dirceu foram os principais responsáveis pelo expurgo

de parte da esquerda socialista, no início dos anos 90, momento em que deixei o PT também. 

Com décadas de atraso, Genuíno faz sua auto-crítica e dá um passo importantíssimo a construção das mobilizações sociais, mesmo que eu não concorde com todos os pontos de sua fala, ele entende a urgência deste momento.

Copie o link no navegador e veja a entrevista em Opera Mundi.

https://youtu.be/Fo1pt5rOAKw


11 julho 2020

Um sistema pós-democrático

 Por
Pierre Dardot e Christian Laval.
O neoliberalismo tem uma história e uma coerência. Combatê-lo exige não se deixar iludir, fazer uma análise lúcida dele. O conhecimento e a crítica do neoliberalismo são indispensáveis. A esquerda radical e alternativa não pode contentar-se com denúncias e slogans, muitas vezes confusos, parciais ou atemporais. Assim, é errado dizer que estamos lidando com o “capitalismo”, sempre igual a ele mesmo, e com suas contradições, que inevitavelmente levariam à ruína final. Eficácia política pressupõe uma análise precisa, documentada, circunstanciada e atualizada da situação. O capitalismo é indissociável da história de suas metamorfoses, de seus descarrilhamentos, das lutas que o transformam, das estratégias que o renovam. O neoliberalismo transformou profundamente o capitalismo, transformando profundamente as sociedades. Nesse sentido, o neoliberalismo não é apenas uma ideologia, um tipo de política econômica. É um sistema normativo que ampliou sua influência ao mundo inteiro, estendendo a lógica do capital a todas as relações sociais e a todas as esferas da vida. A obra que você lerá, e que finalmente está disponível em português graças à editora Boitempo, foi escrita no período de gestação da crise financeira mundial de 2008. Foi publicada no momento em que se podia constatar a amplidão dos estragos causados pelo neoliberalismo. A convicção que tínhamos ao escrevê-lapossuía fundamento: a crise não foi suficiente para fazer o neoliberalismo desaparecer. Muito pelo contrário, a crise apareceu para as classes dominantes como uma oportunidade inesperada. Melhor, como um modo de governo. Ficou demonstrado que o neoliberalismo, apesar dos desastres que engendra, possui uma notável capacidade de autofortalecimento. Ele fez surgir um sistema de normas e instituições que comprime as sociedades como um nó de forca. As crises não são para ele uma ocasião para limitar-se, como aconteceu em meados do século XX, mas um meio de prosseguir cada vez com mais vigor sua trajetória de ilimitação. O capitalismo, com ele, não parece mais capaz de encontrar compensações, contrapartidas, compromissos. A maneira como a crise de 2008 foi provisoriamente superada com uma inundação de moeda especulativa emitida pelos bancos centrais, mostra que a lógica neoliberal escapa de maneira extraordinariamente perigosa. O acúmulo de tensões e problemas não resolvidos, o reforço de tendências desigualitárias e desequilíbrios especulativos preparam dias cada vez mais difíceis para as populações. No entanto, o caráter sistêmico do dispositivo neoliberal torna qualquer inflexão das políticas conduzidas muito difícil, ou mesmo impossível, no próprio âmbito do sistema. Compreender politicamente o neoliberalismo pressupõe que se compreenda a natureza do projeto social e político que ele representa e promove desde os anos 1930. Ele traz em si uma ideia muito particular da democracia, que, sob muitos aspectos, deriva de um antidemocratismo: o direito privado deveria ser isentado de qualquer deliberação e qualquer controle, mesmo sob a forma do sufrágio universal. Essa é a razão pela qual a lógica não controlada de autofortalecimento e radicalização do neoliberalismo obedece, hoje, a um cenário histórico que não é o dos anos 1930, quando ocorreu uma revisão das doutrinas e das políticas do “laissez-faire”. Esse sistema fechado impede qualquer autocorreção de trajetória, em particular em razão da desativação do jogo democrático e até mesmo, sob certos aspectos, da política como atividade. O sistema neoliberal está nos fazendo entrar na era pós-democrática. Na ausência de margens de manobra, o confronto político com o sistema neoliberal enquanto tal é inevitável. Mas esse confronto também é problemático, porque é difícil reunir as condições em que ele se dá. O sistema neoliberal é instaurado por forças e poderes que se apoiam uns nos outros em nível nacional e internacional. Oligarquias burocráticas e políticas, multinacionais, atores financeiros e grandes organismos econômicos internacionais formam uma coalização de poderes concretos que exercem certa função política em escala mundial. Hoje, a relação de forças pende inegavelmente a favor desse bloco oligárquico. Além dos fatores sociológicos e políticos, os próprios móbeis subjetivos da mobilização são enfraquecidos pelo sistema neoliberal: a ação coletiva se tornou mais difícil, porque os indivíduos são submetidos a um regime de concorrência em todos os níveis. As formas de gestão na empresa, o desemprego e a precariedade, a dívida e a avaliação, são poderosas alavancas de concorrência interindividual e definem novos modos de subjetivação. A polarização entre os que desistem e os que são bem-sucedidos mina a solidariedade e a cidadania. Abstenção eleitoral, dessindicalização, racismo, tudo parece conduzir à destruição das condições do coletivo e, por consequência, ao enfraquecimento da capacidade de agir contra o neoliberalismo. O sofrimento causado por essa subjetivação neoliberal, a mutilação que ela opera na vida comum, no trabalho e fora dele, são tais que não podemos excluir a possibilidade de uma revolta antineoliberal de grande amplitude em muitos países. Mas não devemos ignorar as mutações subjetivas provocadas pelo neoliberalismo que operam no sentido do egoísmo social, da negação da solidariedade e da redistribuição e que podem desembocar em movimentos reacionários ou até mesmo neofascistas. As condições de um confronto de grande amplitude entre lógicas contrárias e forças adversas em escala mundial estão se avolumando. A esquerda somente poderá tirar partido disso se souber remediar a pane de imaginação que vem sofrendo. A falência histórica do comunismo de Estado contribuiu em muito para sua ruína. Se quisermos ultrapassar o neoliberalismo, abrindo uma alternativa positiva, temos de desenvolver uma capacidade coletiva que ponha a imaginação política para trabalhar a partir das experimentações e das lutas do presente. O princípio do comum que emana hoje dos movimentos, das lutas e das experiências remete a um sistema de práticas diretamente contrárias à racionalidade neoliberal e capazes de revolucionar o conjunto das relações sociais. Essa nova razão que emerge das práticas faz prevalecer o uso comum sobre a propriedade privada exclusiva, o autogoverno democrático sobre o comando hierárquico e, acima de tudo, torna a coatividade indissociável da codecisão – não há obrigação política sem participação em uma mesma atividade. Como escrevemos nas últimas linhas deste livro, precisamos trabalhar por uma outra razão do mundo.

Fevereiro de 2016
Prefácio do livro "A nova razão do mundo" editora Boitempo
Pierre Dardot e Christian Laval

02 maio 2020

Médico ou o Estado deve ter o direito de escolher quem viverá?

Entre tantas discussões que se dão neste momento de pandemia, me chama a atenção a da tentativa de racionalizar a escolha do médico entre os que viverão ,por ter acesso à ferramentas de ventilação pulmonar e os que não viverão, por escolha do médico(covarde atribuição a este profissional) ou do Estado, representado pela determinação da secretaria de saúde do município do RJ.
Ao tratarmos o médico como um técnico, retiramos dele a possibilidade de decisão, mas o mais escandaloso, é não entender o que está oculto neste debate, se é o médico ou o município de RJ quem determina quem continuará vivo ou não.
O primeiro argumento a ser pensado é a questão ética que faz com que haja uma suposta objetividade científica ou neutralidade sobre um discussão que é essencialmente filosófica e política.
A primeira questão é entendermos que a violação ética está apoiada no Estado que não cumpre, e não cumpria anteriormente ao advento do Covid19, sua tarefa que é de fazer do SUS universal, com atendimento de qualidade independente de idade ,raça, cor ,comorbidades e etc. Levemos em consideração que o SUS atende primordialmente aos mais pobres, e que o Estado e sua necropolítica, deseja escolher quem deve viver ou morrer, graças a falta de investimentos, ou corte de milhões de reais no ano passado praticado pelo governo federal, ou as desvinculações de receitas do SUS, nas últimas duas décadas.
A ética é violada quando o que se discute em quem tem autonomia ou não de escolher quem irá continuar a viver, penso que a raiz do problema está na destruição do Estado praticado por este governo, onde o paciente, cidadão,mais pobre, terá seu direito de viver julgado por um sistema capitalista mesquinho e cruel.
Há recursos disponíveis, quando pensamos em uma dívida pública que sangra milhões de dinheiro público,e que nunca foi auditada, ou a própria emissão de dinheiro, que não faz dívida do Estado, nem produz inflação em momento em que não há consumo,  usando da própria lógica dos economistas , seguranças de plantão do mercado.
O grande problema ético que se discute é o papel do Estado, se ele continuará a ter como prioridade o mercado ou se ele recuperará, como em outros tempos de crise capitalista, sua capacidade de investimentos sociais.
Que médicos tenham o direito de tratar a todos e não seja dado a ele ou ao Estado a fazer a escolha de quem não continuará vivendo.

09 março 2020

Epicuro, que causou boa impressão à Marx,pelo seu projeto de autonomia desalienante ensina que em tempos de obscuridade é possível o desvio. A vida em Epicuro é projeto de liberdade e expectativa ,possibilidade de mudança,porque,ela, a vida, não está dada, ela é projeto autônomo que impede as crendices e põe o ser humano ao alcance da transformação.

02 março 2020

Além de radical político(nunca sectário)também pratico religiosidade. Mas entre os tais prevalece a cegueira política. O dogma conforta as dores,mas não as elimina. A insegurança dos "tempos líquidos" alimenta preconceitos. No desespero dos mares revoltos,as massas doloridas se agarram em antigas e enferrujadas âncoras como se o passado e seus resultados ruins fossem mais seguros,suas éticas deterioradas soam como ancoradouros que esvaziariam riscos e frustrações. Os Homens fazem suas próprias histórias,e é verdade que não a fazem como querem,dizia o velho e atual Marx,nada mais referencial contra uma cultura capitalista frágil e efêmera que prevalece hoje. O indivíduo não existe,somos o resultado do esforço criativo do coletivo,e também não existe a liberdade e a "minha opinião", isso nada mais é do que a interação histórica,assim nos tornamos seres humanos. A ilusão da existência do indivíduo autônomo é uma das mais fortes ideologias, capazes de freiar a ruptura com o modelo de sociedade carcomida e mesquinha. Nenhuma palavra é tão atual quanto "Revolução", ato histórico coletivo e transformador que desfaz as amarras e correntes do individualismo que aparta,separa e produz sofrimento humano. O "não soltar a mão do outro" é uma das insígnas mais importantes para o este momento,significa que reconheço no outro a diferença que falta em mim,e aí vamos nos fazendo diariamente,produzimos rupturas,avançando e descartando em movimento permanente de acertos e erros,dialeticamente purgando-nos de correntes que nos fazem cordeiros da lógica do capital que quantifica e sacraliza prazeres temporários e nos afunda no consumismo afastando o espírito de solidariedade.
Quando um exército decide tomar parte no processo político, deixa de ser nacional para ser de uma facção." José Sócrates.

Aliás,a História do exército brasileiro é de condução da "Modernização conservadora",ao promover interesses do capital,desde sua fundação.

 Está na formação da própria instituição o papel de direção política. Nada há de neutro a quem deseja a conservação da ordem política injusta e desigual.

15 julho 2019

TERRA PLANA,ÉTICA EM DESCONSTRUÇÃO.

Pesquisa do Datafolha indica que 7%(14 de junho de 2019) dos entrevistados acreditam que a terra é plana. A gravidade desta afirmação não está aparente. 
Ela se esconde na negação das evidências, na negação de Newton, Einstein e Kepler, na negação da ciência e do conhecimento acumulado pela humanidade. 

Esta é uma característica da chamada pós modernidade ao negar o passado,nego com ele o que foi construído como referencial de verdade e também como referencial ético. Se perco os referenciais de ação verdadeira, perco o referencial de moralidade. 

Se por um lado a crise da modernidade deu vez e voz, mais voz do que vez,objetivamente,aos que sempre foram os condenados da terra, inclusive pela ciência do século XIX, legitimando ações políticas racistas e justificando o neocolonialismo, também perco princípios mínimos de sociabilidade e civilidade, incorrendo na crise das relações sociais, no individualismo, que são alguns elementos que nos permitem entender as crises nas interações sociais e o sectarismo que impede o diálogo. 

É certo que o Iluminismo inaugurou parâmetros filosóficos aceitáveis universalmente, mas o capitalismo que caminha junto às afirmativas iluministas é o contraponto ético a qualquer aceitação da moralidade nas relações. 
O que quero dizer é que o sistema econômico que se desenvolveu a partir da expansão do capital, das grandes navegações, das reformas protestantes,mercantilismo,renascimento cultural...(elementos da formação do Moderno), se mostra falido quanto a emancipação do Ser, às condições mínimas de sobrevivência material e chega à negação da própria vida se esta for uma “vida” vendedora de força de trabalho e não uma "vida" de proprietário. 

É certo que a pós modernidade nos aflige por negar núcleos referenciais éticos universais, desconstruindo "verdades" aceitas, mas esta crise das "grandes narrativas" Modernas é a ponta de uma "crônica de uma morte anunciada", graças principalmente a um sistema que exclui da festa da riqueza a grande maioria dos sobreviventes do regime do capital. 

A selvagem defesa do “terraplanismo” é a selvagem condição humana que o capitalismo produziu. 

27 maio 2019

O desmonte do Estado por Bolsonaro

As "reformas" do presidente são as "reformas" do grande capital especulativo que já passaram por diversos lugares do mundo e que se mostraram como fracasso. E porque o fracasso? Estas medidas aprofundam a precarização dos trabalhadores quando lhes retira direitos e os joga covardemente na informalidade. Esta informalidade também gera redução de arrecadação e menos investimentos públicos em saúde,educação,saneamento e etc. Estes "sem direitos" e sem aposentadoria terão menos recursos para o consumo,o que levará certamente a quebradeira de microempresas. As grandes continuarão sendo sustentadas com o dinheiro público,e o objetivo na área da produção é a exportação,mas isto não significará mais empregos,pois as reestruturações e avanços tecnológicos já demonstram que se aprofundará o desemprego estrutural e que o objetivo é o aumento dos lucros com a redução dos custos da produção que a desregulação de direitos favorece, além destes podres poderes controlarem os Estados periféricos obtendo subsídios e benefícios que inviabilizam a estabilidade econômica e aprofunda as desigualdades sociais. O projeto é este,e basta o mínimo de lucidez para perceber como a reforma trabalhista não permitiu o aumento dos postos de trabalho. Bolsonaro e seus seguidores amarelos reduziram de tamanho,não foi um fracasso, pois os mais ricos de São Paulo e Rio de Janeiro atestaram o fanatismo cego da deficiência cognitiva de setores da classe média. Mas os números mostram que as "minifestações" de hoje foram muito menores do que as anteriores, e que darão ainda mais fôlego aos descontentes. Bolsonaro não capitalizará forças com o que aconteceu hoje nas ruas. Trabalhadores brasileiros são contra os cortes na educação e saúde(contando com o congelamento dos investimentos sociais em 20 anos), são contrários a eliminação de seus direitos,mesmo havendo forte campanha mentirosa. Fora isto tudo, a própria classe dominante,dividida, está preocupada que o desgaste de sua marionete impeça a velocidade de seu projeto de desmonte do Estado brasileiro. Dia 30 vai ser ainda maior!

09 dezembro 2018

Paris é uma festa?


Macron segue em sua sanha neoliberal de fazer do Estado  francês a sala de estar dos mais ricos.Retirar impostos de grandes fortunas, reduzir direitos,destruir o sistema de seguridade social,cobrar impostos dos de baixo,lá como aqui,o pobre que votou em Macron e Bolsonaro é o inimigo.Aqui a classe média entenderá que continuará a sustentar a quermesse de banqueiros e os trabalhadores e excluídos perderão o que conquistaram em mais de um século de  lutas.Se "Paris é uma festa" ,título de livro de Hemingway,lá como cá há multidões de barrados nos banquetes dos banqueiros.
Que os "coletes amarelos" nos informem para onde e até onde vão,que os coletes amarelos nos ensinem a saída,sem o desfecho de 2013 no Brasil,quando não soubemos universalizar as bandeiras do repúdio ao mesquinho e selvagem capitalismo.
1968 é logo ali,aqui e lá.

Feliz ano velho versus Feliz ano novo.O que esperar de 2019.

A burguesia brasileira e seus patrões finaceiros não estarão dispostos a reconhecer um governo criminoso desde que este garanta seu regime.O ralo do Estado aberto fluindo seus recursos às mãos do agronegócio e do mercado financeiro não constrangerá quem quer que seja que esteja sendo beneficiado.Óbvio que a ideologia dominante está introjetada pelos setores médios ávidos por desobstruir suas costas de impostos, decidiu eleger o mais pobre à pagar a conta da crise de acumulação capitalista.
O pequeno proprietário não possui um caráter de classe,se enxerga como se fosse grande proprietário e colabora com seus interesses mais mesquinhos pensando fazer parte dos interesses poderosos e globais.
Como "O herói sem caráter",o "Macunaína", as classes médias destituídas de escrúpulos se já não aceitavam a direção do poder do Estado nas mãos das classes populares, mesmo com caráter assistencial, rejeitam qualquer forma de "empoderamento" identitário por associar a visibilidade dos vulneráveis à emancipação popular.
Não distinguiram um PT servil aos interesses de banqueiros do modelo ganha-ganha(onde trabalhadores ganhariam na medida que ricos ganhassem)das formas de lutas de ampliação de direitos que realizasse  distribuição de renda por políticas públicas que garantisse ascensão de classe, o qual o lulismo confundiu com mero acesso ao consumo.
Classes médias com seus pequenos negócios e profissionais liberais sucumbem ao projeto de terra arrasada burguês,que em sua crise, não se abstém de fazer os pobres a pagarem suas contas.
A dúvida é se atentarão cedo para farsa que elegeram. Sabemos que a ideologia é ferramenta poderosa das classes dominantes para reproduzir e manter o sistema capitalista em crise.O projeto ideológico burguês é o que tem sustentado o sistema do capital em esgotamento de acumulação.Esse processo de controle social é exercido com maestria, por vezes com a colaboração de reformistas progressistas, como o PT.
E não será diferente agora.
Não acredito no propalado desgaste rápido do proto-fascismo no governo.
Em regimes autoritários de exceção  as massas são empurradas para anti-participação,em uma anti-cidadania,de silenciamento da sociedade. Em regimes fascistas as massas são organizadas politicamente,manobradas pelo poder dominante e muitas vezes em formas de milícias da classe média, substituindo o Estado na repressão aos movimentos populares, aliado a uma forte propaganda de que "tudo está indo bem",ou iria bem se não fossem os movimentos sociais e a esquerda. Uma forma de criminalizar a resistência a um processo autoritário.
O campo da legalidade é alargado para as peripécias do poder constituído e o judiciário, fazendo do Direito mera ideologia dominante para dar conta da aparência de normalidade democrática, processo iniciado desde a destituição de Dilma.
Claro é também, que depois das eleições, será impossível que as classes dominantes unidas não se desmanchem em frações que reivindicarão seus privilégios. Já podemos perceber que a base do governo já se digladia por espaços privilegiados no governo.
Ainda pesa sobre o governo eleito algumas denúncias de corrupção.
 A imprensa pressiona para que se vejam fortes a reivindicar seus nacos de privilégios e benesses. Não confiemos , eles estão somente tentando demonstrar alguma força que lhe favoreça na queda de braço da disputa de poder,visando fortalecer suas "narrativas" que lhe beneficiarão.
O governo eleito em sua ignorância real tem qualidade para se comunicar de forma simples e simplista com o povo,usará deste recurso que,não resistirá à continuidade do desemprego e de rebaixamento da renda média, o que sem dúvida afetará o humor social. Mas as contrarreformas, se passarem, serão suficientes ao poder financeiro e ao agronegócio para continuarem a sustentar o governo, até que então, ele também possa ser descartado.
Duríssimos ataques se espera contra os trabalhadores da educação que visam modelar a sociedade à imagem e semelhança ao projeto de poder conservador e reacionário.
Igrejas desempenharam bem este processo nas eleições e continuarão "batendo",isto os fortalece,na medida que organiza a "fala" do precariado para justificar o poder.BNCC, reforma do ensino médio,terceirizações,privatizações,Escola"sem partido"...são recursos já utilizados e que reafirma a ofensiva à educação como meio de desmobilização dos servidores públicos bem como do enfraquecimento do serviço público para o corte de gastos,viabilizando o neoliberalismo associado à politica de costumes reacionária.
2019 será um cenário de naturalização da malvadeza neoliberal,a resistência será a da denúncia e organização de bases sociais mais sólidas,tarefa difícil diante da desmobilização e controle praticado pelo petismo por mais de uma década.

24 novembro 2018

REPÚBLICA FUNDAMENTALISTA - por Vladimir Safatle



Não consta momento algum da história da República brasileira no qual representantes do poder religioso tiveram força suficiente para vetar o nome de um possível ocupante do ministério da Educação.

O que aconteceu nesta semana é fato inédito. Ele indica quão longe estão dispostos a ir os membros do futuro desgoverno em seu uso explícito da religião como elemento de justificação do poder e de mobilização na tentativa de reconfiguração cultural do país.

Nunca é demais lembrar como a democracia ocidental nasceu, entre outros, por meio do combate à religião.

Ela foi impulsionada pela criação de um espaço político no interior do qual a justificação do poder não seria mais alimentada por qualquer forma de crença em escolhas divinas, na qual o amparo produzido pelo discurso religioso não desempenharia mais papel nos modos de produção da coesão social.

A democracia moderna, como gostava de acreditar Max Weber, seria assim solidária de um processo de desencantamento do mundo vindo da perda do poder unificador dos mitos teológico-religiosos na fundamentação das esferas sociais de valores (cultura, arte, política, economia, ciência, entre outros).

Hoje, não é difícil perceber como esse projeto nunca foi completamente realizado. Há várias formas de regressão social periódica a assombrar o que conhecemos até hoje por democracia e uma delas é a regressão religiosa fundamentalista, independentemente de ela ocorrer na Turquia muçulmana, na Polônia católica ou no Brasil com seus evangélicos.

Esses três casos são interessantes por mostrarem que não estamos a tratar de sociedades que teriam vínculos orgânicos com modos de vida ancorados em alguma espécie de horizonte teológico pré-moderno.

Elas são sociedades que passaram por processos de laicização vinculados a alguma forma de modernização autoritária.

A Polônia comunista, a Turquia de Atatürk ou o Brasil com sua modernização conservadora foram incapazes de dar, a largas parcelas da população, algum sentido substantivo para a experiência de serem cidadãs e cidadãos de um estado laico.

Ao contrário, essas largas parcelas foram submetidas à violência periódica do Estado, à despossessão de sua condição de sujeitos políticos e à brutalidade econômica de crises contínuas e desagregações econômicas.

Nesse contexto, a religião pode oferecer a crença na produção de uma nova comunidade baseada na promessa de amparo e redenção. Ela coloca em circulação seu poder pastoral, prometendo amparo - seja sob a forma de uma comunidade de crentes marcada pela assistência mútua e pela promessa de solidariedade, seja sob a forma de um discurso que procura anular a contingência de fenômenos que nos desestabilizam continuamente, como o sexo, a morte e a relação à autoridade, isto é, ainda sob a forma de narrativas teleológicas de guerras e vitórias finais.

Ela ainda promete o gozo (pois não há religião sem gozo) na fusão incestuosa com o sangue e o corpo da divindade.

No começo dos anos 1970, o psicanalista Jacques Lacan podia dizer: "Vocês ainda não têm ideia do que será o retorno da religião".

Ele podia dar declarações dessa natureza por perceber como a política moderna mobilizava os mesmos afetos do discurso religioso, como o desejo de amparo e a produção contínua do medo. Contra a religião, só haveria uma saída, mas ela não seria utilizada pelo discurso político.

Pois, do ponto de vista da circulação dos afetos, só se quebra a força da religião pela afirmação do desemparo, ou seja, por meio da afirmação da recusa a todo amparo vindo de um Outro, como se do desamparo pudesse nascer uma certa coragem cuja consequência política maior seria a produção de sujeitos que não querem mais ser governados.

Sujeitos que sabem que sua ausência de lugar natural não é uma falha que deve ser superada, mas uma condição para a produtividade da liberdade. Sujeitos que afirmam a contingência de sua existência e de seus caminhos. Mas sempre haverá um poder político a se alimentar dos nossos afetos mais regressivos e amedrontados.

26 julho 2018

Chet Baker,poeta do jazz.

←Os 85 anos de Chet Baker, uma lenda do jazz
TATIANE CORREIA



Publicado originalmente em 2014
https://jornalggn.com.br/

85 anos de Chesney Henry "Chet" Baker, Jr. (Yale, Oklahoma, 23 de dezembro de 1929 – Amsterdã, 13 de maio de 1988)

Nascido Chesney Henry Baker Jr. em 23 de dezembro de 1929, em Yale, Oklahoma, Chet Baker era filho de Vera Baker e Chesney Henry Baker.

Baker nasceu e foi criado em uma família musical. Seu pai, Chesney Baker, Sr., era um guitarrista profissional, e sua mãe, Vera, era uma pianista talentosa que trabalhava em uma fábrica de perfumes. Baker começou sua carreira musical cantando em coro de igreja. Seu pai o apresentou a instrumentos de metal como um trombone, que foi substituído por um trompete quando o trombone revelou-se demasiado grande.

“Quando eu tinha treze anos, papai chegou em casa com um trombone. Tentei tocá-lo durante umas duas semanas, sem muito sucesso. Eu era pequeno para minha idade e não conseguia alongar até o fim a vara do trombone. Além disso, o bocal era muito grande para os meus lábios. Depois de umas semanas, o trombone acabou desaparecendo, e em seu lugar surgiu um trompete, que era muito mais apropriado para o meu tamanho”.

Desde o primeiro momento com seu instrumento o talento era visível. Dominou rapidamente o modo de soprar no trompete e desenvolvia sua habilidade mais rápido do que assimilava a teoria musical. Talvez este tenha sido o fator decisivo para que Chet Baker preferisse tocar de ouvido, um hábito que o acompanhou durante toda a sua carreira.

Baker recebeu alguma educação musical em Glendale Junior High School, mas deixou a escola em 1946, para se juntar ao exército dos Estados Unidos. Ele foi enviado para Berlim, onde se juntou à banda Army 298. É nesse período que ouve jazz pela primeira vez, pela rádio do exército.

Quando Baker retornou à vida civil começa a estudar teoria musical no El Camino College, na Califórnia. Logo ele estaria conduzindo seu próprio grupo. Ele gravou muito durante a década de 1950 - muitas vezes cantando com uma voz sedutora que complementou sua boa aparência - bem como tocando.

Sem motivo aparente decide se realistar no exército e  volta a tocar na banda militar. Entediado, deserta e volta para Los Angeles

Iniciou, com apenas 22 anos,  a sua carreira de sucesso com Charlie Parker quando este estava à procura de um trompetista para acompanhá-lo em sua turnê pelos Estados Unidos e Canadá. Baker tinha grande afeição por Charlie Parker, por sua gentileza, honestidade e pela maneira como protegia os músicos da banda, tentando mantê-los longe da heroína que tanto lhe corroía.



Em 1952, quando Gerry Mulligan começou a formar seu famoso quarteto sem piano - chamado de pianoless jazz (a importância dessa inovação é grande pelo fato de ser o piano o instrumento que geralmente conduz a harmonia das canções), escolheu Baker, com quem já havia tocado em jam sessions, para dividir a frente do palco. Gerry Mulligan criou o estilo ‘west coast’, um estilo de jazz mais calmo, menos frenético cujas músicas caracterizavam-se por composições mais elaboradas. Sua versão de 'My Funny Valentine' com Mulligan é clássica.


Amante do jazz, Baker não tardou em conquistar o sucesso, sendo apontado como um dos melhores trompetistas do gênero. Rapidamente se tornou uma estrela.

Quando Mulligan se afastou do conjunto por motivos diversos - seu envolvimento com drogas era o maior deles - Chet Baker tomou pra si a liderança e rearranjou o quarteto adicionando o pianista Russ Freeman, um de seus mais notórios parceiros durante toda a sua carreira.

Chet conquistou um novo público ao lançar-se como cantor, à frente do próprio quarteto. Viajaram pelos EUA com grande sucesso, e nessa época Chet Baker começou a ganhar prêmios nas revistas especializadas. Após desentendimentos o quarteto se desfez e Baker seguiu para a Europa. Sozinho, permaneceu na Europa tocando com músicos de todos os níveis.

Em 1950 foi preso pela primeira vez por porte de drogas e quando voltou aos EUA começou a consumir drogas pesadas por volta de 1956. Com isso, se envolveu em diversos problemas tendo sido internado no Hospital de Lexington e preso em Riker's Island por porte ilegal de drogas. Sem uma autorização para tocar em lugares que servissem bebidas, resolveu voltar para a Europa. Vive e toca na Europa pelos próximos quatro anos, sediado na Itália, onde também é preso por drogas.

Em 1954 Baker venceu o Downbeat Jazz Poll.

Por causa de sua beleza, Hollywood se aproximou de Baker e ele fez sua estreia como ator no filme Hell’s Horizon, lançado no outono de 1955.


Em 1956 ele se casou com Halema, uma bela mulher paquistanesa que aparece em algumas das famosas fotografias de Baker tomadas por William Claxton. Eles tiveram um filho, Chesney Aftab Baker, em 1957 ("Aftab" é mais ou menos equivalente a "júnior" na pátria de Halema). Em 1959, Baker saiu para fazer um show e deixou Halema e Chesney Aftab com o escultor americano Peter Broome em Paris. Broome e Halema começaram um relacionamento e, posteriormente, o escultor adotou a criança.



Em 1961, Baker conheceu uma atriz Inglesa, Carol, na Itália. Eles se casaram em 1964 e tiveram três filhos: Dean,  Paul e Melissa

Ele foi um dos músicos mais importantes da sua geração e esteve sempre à frente do seu tempo. Além de tocar seu instrumento como poucos e com absoluta suavidade, Chet Baker também inovou ao colocar sua voz pequena, porém sempre bem colocada e muito afinada, inaugurando um estilo único, que influenciou vários artistas. Ele ajudou a estabelecer o que viria a ser identificado como “cool jazz”: uma música econômica, de poucas notas, mais tranquila e fria, oposta ao bebop incendiário de Charlie Parker, Dizzy Gillespie e Bud Powell, cujos temas tinham ritmo veloz e fraseados cheios de notas.

A vida pessoal de Baker muitas vezes ofuscou a profissional. Ele era extremamente talentoso, mas sua dependência de drogas arruinou sua reputação nos EUA, mas valeu-lhe grande de simpatia entre muitos europeus. Esta simpatia não foi compartilhada, no entanto, por parte das autoridades na Europa, e ele foi banido de vários países durante a década de 1960, só sendo permitido retornar no final de 1970.

A maior crise, entre tantas, em sua vida foi um agressão física por traficantes no final dos anos 1960 que destruiu seus dentes. Em consequência da agressão sofrida, Chet teve que tirar todos os dentes da arcada superior, fato desastroso para um trompetista, que mudou toda a sonoridade das suas canções e até da sua voz quando cantava. Na fase em que teve mais problemas com drogas, vagou pela Europa e chegou a trabalhar como frentista em um posto de gasolina.

O músico foi preso várias vezes em função do vício, sua vida, no geral, foi nômade e desorganizada. Sempre precisando de dinheiro, aceitou propostas duvidosas de gravadoras precárias, nas quais não ficava muito tempo. O resultado disso tudo foi uma discografia extensa e de alguns itens descartáveis.

Existem diferenças de opinião sobre os altos e baixos na qualidade do seu trabalho , mas todos concordam que a década de 1950 - especialmente a parte inicial da década - fosse seu apogeu. A avaliação geral é que pouco do que ele gravou em 1960 foi particularmente bom; No entanto, enquanto alguns pensam que ele nunca se recuperou, muitos aficionados sustentam que ele realmente melhorou durante seus últimos 14 anos de vida, quando ele voltou após a perda de seus dentes.

Em 13 de maio de 1988, Baker caiu de uma janela de quarto de hotel em Amsterdã. Até os dias de hoje as circunstâncias da sua morte são imprecisas, deixando dúvidas e várias versões foram sugeridas sobre o que realmente aconteceu. Suicídio, acidente, assassinato são algumas das hipóteses possíveis, pois ele despencou estranhamente do 2º andar do hotel, com apenas 58 anos de idade, mas com aparência de mais de 80 anos, principalmente em razão da sua dependência às drogas pesadas.

A heroína foi encontrada  em sua corrente sanguínea, e tanto a heroína como a cocaína foram encontradas em seu quarto, que estava trancada por dentro. Seu corpo foi enviado de volta para a Califórnia e enterrado ao lado de seu pai. Ele foi socorrido por sua mãe Vera, a esposa Carol e quatro filhos.

Em Oklahoma, funciona a Chet Baker Foundation, sem fins lucrativos, que preserva sua memória. Seu filho Paul Backer é o diretor executivo e responsável pelo acervo do artista, acompanhado de perto por vários conselheiros, que inclui a atriz Sharon Stone.

Em 1985, Chet esteve no Brasil em duas apresentações no primeiro Free Jazz. Acompanhado por uma banda liderada pelo pianista Rique Pantoja, com quem já havia gravado dois discos, o show carioca, segundo alguns, foi decepcionante, mas em compensação, o paulista foi um arraso.

Na sua cola, a organização contratou um médico que ministrava doses de metadona no combate a seu vício em heroína. Porém, Chet driblou a todos, conseguiu drogas e quase morreu de overdose em uma suíte do Hotel Maksoud Plaza.

Homenagens:

Ganhou o prêmio New Star para trompete no prestigiado Critics Poll Downbeat, em 1953.

O filme All The Fine Young Cannibals (1960), é uma produção levemente inspirada na sua vida (o personagem chama-se Chad Bixby)

Introduzido no Big Band e Jazz Hall of Fame em 1987.

Em 1991, o cantor / compositor David Wilcox gravou a canção "Unsung Swan Song de Chet Baker" em seu álbum Home Again , especulando sobre o que poderia ter sido os últimos pensamentos de Baker, antes de cair para a morte. A canção foi coberta por kd lang como "My Old Addiction" em seu álbum de 1997.


Em 1991, ele foi introduzido no Oklahoma Jazz Hall of Fame .

Foi homenageado no documentário “Let’s Get Lost”, dirigido pelo fotógrafo americano Bruce Weber, feito com a colaboração do próprio Chet e que estreou alguns meses depois da sua morte, ocorrida no ano de 1988. Todo gravado em preto e branco, apresenta trechos de programas de TV e fotos do início da carreira, onde era comparado ao astro James Dean. A trilha sonora do documentário foi lançada também em CD.

Em 2013, com o álbum I Thought about you, a pianista e cantora brasileira Eliane Elias presta tributo  a Chet Baker, interpretando temas do repertório do saudoso trompetista. Vieram ao estúdio Randy Brecker, ao trompete, Oscar Castro Neves e Steve Cárdenas nas guitarras, Marc Johnson ao contrabaixo, Victor Lewis e Rafael Barata se revezando na bateria e mais o percussionista Marivaldo dos Santos.


Fontes:

Candelabro aceso para Chet Baker(1929 - 1988)

Chet Baker na Wikipédia

Chet Baker na Wikipédia , em inglês

Chet Baker no IMDb

Chet Baker (1929-1988), por V.A. Bezerra

Chet Baker, a atuação que mudou a vida de João Gilberto, por Alfeu

 Chet Baker: o gênio branco do jazz , por Fernando do Valle

Chet Baker: o poeta do jazz, por Marcelo Lopes Vieira

Conheça as músicas essenciais de Chet Baker

O disco que João Donato não gravou com Chet Baker

Gigantes do jazz: Chet Baker

 Livro revela as memórias de Chet Baker

Sobre Chet Baker: uma divagação apaixonada, por Andreza Spinelli Balln        

Toda vez que dizemos adeus, por Sergio

A tragédia do esfolado vivo, por Antonio Gonçalves Filho

Livros:

Funny Valentine – The Story Of Chet Baker, por Mathew Ruddick

Memórias Perdidas

No fundo de um sonho: a longa noite de Chet Baker, por James Gavin

No rastro de Chet Baker: um caso,de Evan Horne

https://youtu.be/2Ynn3mzC2E4
Coletânea









































15 julho 2018

Futebol e um outro mundo possível.


Tenho acompanhado com atenção as discussões pela rede sobre apoio ou não apoio às seleções, como França com seleção de origem africana ou Croácia, que possui torcedores e jogadores fascistas(alguns deles),principalmente por questões históricas.
Isso é longo em minha vida, quando a seleção brasileira é usada politicamente para a afirmação da filosofia da ditadura civil-militar no Brasil ou, quando nas vésperas da copa de 2014 já se apontava a corrupção generalizada e uso dos recursos públicos para o benefício do capital, que escolheu países dos Brics,nas últimas copas para sugar os Estados nacionais de África do Sul, Brasil e Rússia.

É muito triste ver que o futebol como identidade das culturas brasileiras possa ser absorvido pela sanha do capital.
No entanto, trago outros pontos que seriam importantes nesta discussão.

O primeiro deles, observados no debate sobre as seleções desta Copa é perceber a "Questão nacional" como referência. Como a torcida por uma ou outra seleção, dentro das esquerdas foi muito além do futebol.

Aqueles que veem na esquerda socialista referência na tática de alianças com países que enfrentam o imperialismo estadunidense,como a Rússia,e que tem a ver com posicionamentos políticos diante da questão da Síria e o governo de Assad,aliado russo frente aos EUA.A mesma questão aparece no debate que envolve as questões nacionais de Croácia,a antiga Iugoslávia,Ucrânia e Rússia,que envolvem a influência fascista   na formação da nação croata,a aliança sérvia com a rússia e etc etc..
Por outro lado,outros setores socialistas que não identificam a questão nacional como parâmetro,ou seja,identificam os setores populares,suas aspirações e demandas independente de governos e Estados,acabam se aproximando mais do marxismo original(e também em Weber),quando caracteriza o Estado como viabilizador da dominação burguesa,ferramenta de repressão política,onde trabalhadores não deveriam ter referências em nações,que mesmo reconhecendo a autodeterminação dos povos ,engrossariam o caldo da dominação política do capital.
A segunda questão a tratar, é a questão da Identidade cultural.

É fato que a questão da cultura é ponto importante nos debates intestinos às esquerdas socialistas, principalmente quanto a ideia de a cultura e a identidade são ou não prioridades aos marxistas originais ou seu desenvolvimento,quando podemos identificar que a agenda da esquerda hoje tem como pontos importantes questões específicas relativas ao indivíduo e sua autonomia diante de questões como o racismo , a homofobia,a proteção das culturas originárias e etc, dentro do modelo capitalista de lutas de classes.

As questões de classe e afirmação da individualidade são questões ainda que carregam muitas polêmicas no campo da esquerda,que envolvem princípios das correntes políticas emancipatórias.

É duro demais perceber como o Futebol, forma cultural que permite a caracterização do brasileiro  foi e é,e não só aqui, fator de alienação e manipulação política,meio de controle social e dominação.

O capitalismo se apropria de todas as formas culturais como forma de obter lucro e reproduzir suas formas de dominação.
Sobre torcer ou não para tal ou qual selecionado nacional aprofunda debates que revolvem as profundezas das "almas" socialistas e comunistas.

Tenho pra mim,que assim como os meios de comunicação de massa,futebol e religiosidade são sim ferramentas de alienação e manipulação,mas vejo que todas as formas culturais são passíveis de manipulação,no entanto,não a principal.

O principal eixo de controle,alienação e dominação está centrado no currículo escolar ,sem o qual não se pode discutir os processos de "anestesiamento social" e desertificação da racionalidade e de leitura da realidade e  dos acontecimentos sociais(tema tratado em outro momento e outros textos já discutidos).

Portanto, se cada apropriação que o capital faz dos elementos culturais formos envolver nossos princípios, não sobrará nada que possa nos envolver com o mundo real, seremos meros principistas ,alienados do mundo real,portanto,incapacitados para disputar a hegemonia política na sociedade.

Torça e se envolva com a sociedade e o mundo cultural,mesmo sabendo dos propósitos da indústria cultural, pois se condenamos a religião ,o futebol ou a novela, o fazemos por sabermos a que servem e a quem serve, mas ao nos afastarmos deste mundo Real não poderemos ler e identificarmos o que pensa o senso comum, e mais ainda, a cultura popular é propriedade do povo e dos trabalhadores,ao negarmos, pensarmos e nos envolvermos com eles, mas me parece prepotência e principismo ,as vezes, auto proclamação e não passa de um sentimento de pertencimento aos grupos políticos por parte de militantes das causas, vanguardismo que aponta contradições, necessárias mas insuficientes para fazer revolução.

28 maio 2018

Não há moral em você.

Em "intervenções militares" não há manifestação ou greve, não há possibilidade de resistir aos desmandos e à corrupção,não há moral ou ética.
Fardados não são portadores da moral, se não, não fariam o que fizeram ou não fariam o que costumam fazer contra os pobres e favelados hoje.
Não há moral nem ética na ponta de uma arma ou em uma sala de torturas.
Não há moral em quem deixou,sob seus bigodes,sua época e seu governo,nascer o primeiro comando do tráfico de drogas.
Não há moral em quem tortura crianças.
Não há moral em quem é corrupto por poder estar acima da lei.
Não há moral e ética no sistema capitalista que tem como recurso uma ditadura militar.
Burguesias se apropriam do que é produto do trabalho de todos,inclusive da democracia.
Não há moral em você que prega a ditadura e corre para a igreja rezar, para sei lá o que você pede aos céus sem saber quem foi o Cristo.
No instinto que sobrepõe a razão  não há moral,só violência e medo.

12 maio 2018

Perpetuação histórica da relação Casa Grande e Senzala.

É óbvio que as correntes sofisticadas não são as mesmas de 1888,mas também é óbvio que não há o que comemorar no 13 de maio.
O fim da escravidão não libertou a população negra do racismo,não a integrou com políticas públicas.O Estado "Casa Grande" é a herança inequívoca de nossa História.As políticas "higienistas" do século XIX ainda permanecem com toda a força do ódio.
São as populações negras deste país que carregam o peso da miséria e da pobreza, alvos preferenciais da repressão policial e  maior grupo de risco de morte se tem entre 14 e 25 anos,julgados,condenados e executados cotidianamente.
É majoritariamente entre os negros onde prevalece o desemprego,a população carcerária,as moradias sem saneamento básico,a ausência de serviços públicos de qualidade... A população negra deste país carrega o emblema da exclusão racista . E se alguma política compensatória é feita,logo é massacrada pela classe dominante que universaliza suas verdades,bem presentes que estão nas cabeças de parcela da classe média.
 Por uma nova Abolição !!!

07 abril 2018

Por uma frente anti-capitalista.


A defesa de Lula é a defesa da agenda antirreformas. Em momento de tanto refluxo da esquerda,que ainda estará associada à experiência petista de conciliação, o que temos é a defesa intransigente do que ainda tínhamos a pouco tempo.

Há uma base social petista  orfã,muito tempo antes do processo de Lula.

Na esquerda socialista sonhamos grande, muitíssimo além das importantes políticas sociais e assistenciais do PT.

O governo Dilma de recuos permanentes foi terrível para todos nós,com lei antiterrorismo(para ser usada contra movimentos sociais),com o ajuste fiscal(2015), com discursos de retrocesso na educação(fala de Dilma  sobre a "reforma" da educação:"me desculpem a Filosofia e a Sociologia, mas 12 matérias não dá".),com a entrega da comissão de direitos humanos aos ultraconservadores(em troca de voto),com o silêncio aterrador enquanto éramos violentamente reprimidos nas ruas em 2013,por seus aliados, do apoio à farsa eleitoral das UPPs...

Sabemos bem que os golpes dos quais sofremos, fez parte dele o próprio PT,que cavou sua cova.
Só que esta cova também é nossa pois as derrotas são do povo humilde,dos trabalhadores dos explorados e socialistas.

O apoio à Lula se justifica,não para eleições,mas para a construção de um campo onde a esquerda possa denunciar a escalada autoritária da sociedade,de se fazer ouvir de novo por amplos setores indignados que abraçam o fascismo como voto de protesto.

O PT na oposição sempre foi responsável pela politização da sociedade e deixou de fazê-la quando se tornou governo   (sem vislumbrar as alianças com os movimentos populares para empurrar das ruas para o "Reto" do congresso conservador às necessidades dos mais humildes e da classe trabalhadora),com o objetivo de ampliar sua base política no congresso esvaziando a fala crítica de uma geração de jovens que cresceu durante os governos petistas.

No entanto precisamos dizer que parte da esquerda socialista,satisfeita em marcar posições,sem a devida  leitura da correlação de forças na sociedade,satisfeitíssima com o gueto permanente,não consegue entender nada além do que nosso "programa máximo",em uma doença surda e infantil "esquerdista"(como Lênin caracterizou).É uma esquerda que se nega a fazer política,que possui insuficiência em diferenciar tática de estratégia,que muitas das vezes se acha fortalecida apenas em um discurso acadêmico que não alcança os ouvidos da massa desesperada,que é organizada na base,pelas igrejas que se fortalecem com propósitos econômicos e eleitorais.

Estes setores precisam ler e entender a simplicidade do manifesto comunista em sua linguagem direta.

A construção de uma frente única atende à necessidade de que este campo alargado resgate nossa combatividade na luta contra-hegemônica.

A denúncia das ilegalidades golpistas com a anuência dos meios de comunicação e da Justiça passa por alcançar a todos que se encontram colocados no campo antifascista. Os liberais brasileiros são toscos,esqueceram da tradição iluministas quanto ao equilíbrio institucional, esqueceram da tradição iluminista da luta pelos direitos humanos, se aliaram aos ultraconservadores da burguesia aristocrática(Florestan Fernandes) e das classes médias com acesso ao consumo, mas sem acesso à lucidez.

A crítica ao fracasso do reformismo conciliador deve estar vivo, porém motivado por alcançar as consciências de forma mais ampla.

É preciso que o anticapitalismo seja o nosso campo, que denuncie a opção fascistizante desta burguesia latina, tradicionalmente ligada ao atraso das aristocracias do campo, geradora do capitalismo sem a sofisticação do liberalismo ilustrado de tradição europeia.

A opção pela defesa de Lula passa pelo reerguimento das vozes contidas pela própria opção da burocracia petista de se aliar ao capital financeiro e ao agronegócio quando era governo.

O nosso não desaparecimento físico depende da coragem de se erguer trincheiras de enfrentamento à radicalização do capital contra os direitos conquistados no século XX.

Há de se ter coragem,sem revisionismo,mas abraçado à História para não tombarmos abraçados ao principismo infantil.

17 dezembro 2017

Reflexão sobre ciências,universidade,política e o controle social.

"Se tivermos sorte teremos o privilégio da servidão"(Camus),mas se não contarmos com a sorte,lutemos até o fim para que não sejamos transformados em escravos do capitalismo.

Estamos bem próximos desta modalidade de mão de obra,despidos de direitos servimos como máquinas,quase sem remuneração a serviço do monstro financeiro que explora de forma incansável.

Remunerar trabalhador nunca foi objetivo do capitalismo,o justo pelo trabalho encarece o produto,mas hoje vivemos o vilipêndio,a desconstrução de conquistas trabalhistas e sociais.

Mas isso não é o pior.O pior é que esta máquina  capitalista que coisifica o ser humano é ainda mais cruel por naturalizar e banalizar esta sub-condição de vida.

Nos tornamos escravos nesta modernidade em desconstrução indecente e acatamos e nos sujeitamos como se fosse normal.

Como em Heidegger,nós próprios nos tornamos  veículos de justificação desta máquina de moer gente,nos tornamos nós mesmos capatazes do nosso corpo e de nossas mentes e enquanto torturados,sorrimos em uma esperança vil e mesquinha de superarmos a condição de miserabilidade econômica e da alma, por meio da individualização ,da busca por status e ascensão social.

Operamos cotidianamente como legitimadores deste sistema, não só porque o aceitamos docilmente,mas por agirmos como propagadores dos valores.Integrados ao modelo econômico,a educação(formal e não formal) rege nossos planos e sonhos segundo a receita de um currículo escolar feito para atender à obsolescência de nós mesmos,a descartabilidade das relações e a monetarização da vida.

Enquadrados pelos modelos alienantes(educação, comunicação,relações sociais,religiões),somos os principais agentes multiplicadores desta ordem.Nas cátedras universitárias,antes da crueldade atual dos ataques do capital,o silêncio era o verbo e a obra(majoritariamente),formando vontades e desejos em cada um dos estudantes para se dispor mais qualificadamente ao mercado.
Se outrora as nobrezas distribuiram títulos àqueles que não possuiam "sangue azul",multiplicando na sociedade seus valores,introjetando em alguns membros  a certeza da retidão das verdades monárquicas,hoje,títulos acadêmicos servem para justificar e docilizar mentes antes rebeldes.

Milhares de antigos lutadores contra este sistema cruel foram absorvidos e modelados à crença de brechas nos sistema para humanizá-lo,e não para destruí-lo.Antigos lutadores selvagens viraram moderados e mediadores do sistema.

E assim, segurando a mão do sistema carregamos com a outra os desvalidos no caminho da aceitação e da integração.A universidade pública hoje atacada com um rolo compressor, silenciou diante do massacre aos mais pobres,forjando esperanças falsas, em que por meio e pela via da "adequação" à Ordem,os portadores do conhecimento e aqueles que os aceitassem como forma de luta,seriam integrados e abraçados pelo modo de produção capitalista,teriam diminuidas as suas dores mesmo que as dores do povo pobre do país mais desigual do mundo não fossem resolvidas,senão remediadas.

Os remédios paliativos de sintomas eram receitados pela cátedra,e perceba também,que esta lógica se seguiu na política da esquerda que submeteu suas histórias de luta à domesticação do controle da rebeldia em troca de assistência do Estado aos mais degradados economicamente.

A conciliação de classes através da política de esquerda liberal, que gerou degradação às condições materiais da maioria,também foram forjadas dentro das universidades e escolas, e todos os seus membros que colaboraram,esperando a bondade do capital hoje estão atônitos,vendo que a política não funciona como no modelo darwinista de evolução permanente e inexorável.

O edifício da colaboração de classes,seja pela ciência ou pela política ruiu, e o desejo de felicidade foi controlado pela "vontade Kantiana" da racionalidade do modelo burguês que só inclui aqueles que  oferecem seus préstimos ao sistema em troca de participação na distribuição de migalhas.

04 novembro 2017

ENEM, DIREITOS HUMANOS e medida do STF.



Liberdade de expressão nada tem a ver com a possibilidade de, em nome da "livre expressão", reforçar estereótipos ,estigmas e preconceitos.
Em uma sociedade globalizada a construção de identidades são importantes tanto quanto  os "padrões culturais”, referências transformadas ao longo da história, e só atuais para os que pensam que as culturas são estáticas, não se modificam. Tradições são cimentos sociais, mas o tradicionalismo é ideologia, enquanto aparato de falsificação da realidade e universalização de valores de classes sociais dominantes sobre todas as outras.

A ministra Carmem Lúcia ao referendar medida de MBL à redação do ENEM, atenta contra princípios da legalidade democrática, da regra da boa e segura convivência entre diferenças.

Lembrando que a democracia, elenca a proteção ao indivíduo, sua segurança baseada na racionalidade da lei, de forma que venha impedir  na sua forma liberal-iluminista que a força física possa ser praticada à revelia do contrato social. Sim, um atentado à legalidade na medida que legitima a violação da "sacralidade" da lei, que por princípio e teoricamente, garante juridicamente a coexistência pacificada entre os cidadãos.

 Com sua medida, a ministra não impede que outros pontos do edital do ENEM sejam considerados na correção da redação, como, Alteridade, diversidade e multiculturalismo. Violá-los pode até não gerar um "zero" ,mas sem dúvida reforça o valor da vingança contra ato violento, característica que não faz parte da racionalidade do Estado liberal-democrático.

A violência pode ter seu caráter simbólico no discurso, afetando a vida e "esfarelando" o critério da racionalidade da lei.

Os direitos humanos fazem parte de um esforço humanitário para a garantia da dignidade humana. Uma "ética" "a priori" que deseja servir de referência à culturas e Estados que violam a vida e a integridade do ser humano, seja ela qual for.

O estado de direito se garante pela inclusão de todas as formas de existência e expressões, desde que estas formas não reforcem os discursos de ódio, ou fomente o preconceito, forma cultural onde não se busca entender o conceito, expressando pensamento pré-concebido, do senso  comum, não reflexivo, que não permite uma leitura das realidades de sociedades contemporâneas, extremamente complexas culturalmente.

Mulheres, negros, homossexuais, povos originários são massacrados historicamente por Estados que sobrevivem à revelia da justiça, inclusive o nosso.

Não sou da área jurídica, mas como sociólogo, posso afirmar   que medidas que desalojem a filosofia civilizatória da democracia, se tornam um atentado contra a humanidade.
Também não sou Liberal, nem acredito que o sistema capitalista possa promover a Alteridade e a solidariedade entre grupos sociais e povos, mas para as regras jurídicas, valem mais a segurança da razão do que a livre expressão que fortaleça o ódio e a intolerância e por consequência, a Anomia.

A educação tem como função essencial permitir o acesso à ferramentas de leitura do mundo em toda a sua complexidade, favorecendo  que cidadãos se tornem sujeitos  de suas próprias vidas, que possam fazer opções mais seguras, garantindo a liberdade, desde que esta liberdade não permita suprimir a existência do outro.

A igualdade jurídica não leva a igualdade econômica ,mas permite que as populações mais vulneráveis à violência possam ainda, recorrer à lei para a garantia da justiça.

Neste sentido, qualquer medida legal que viole os princípios democráticos pode fazer ressuscitar os monstros do nazi-fascismo que produziu milhões de mortos, fascismo que colocava alguns padrões culturais acima de outros, que faz do Estado expressão de alguns valores morais sobre os demais.
Aliás, que instituições jurídicas são estas que legitimam a própria violação da democracia?

Quando a democracia é golpeada, a derrota é dos humildes, explorados e vulneráveis econômica e socialmente.
A declaração dos direitos humanos é potencial para a garantia da reprodução das práticas democráticas. A medida do STF só pode encontrar eco na obscuridade de um regime não muito distante, onde a farda valia mais do a lei.

22 outubro 2017

"O Fascismo é o liberalismo que perdeu seus escrúpulos."



Da difícil unidade das esquerdas sabemos que qualquer tentativa de agrupamemto é sempre benvinda.No entanto os erros do passado continuam assombrando como fantasmas.
Os vícios do eleitoralismo puro,da falsa crença em um "evolucionismo" democrático no caminho da superação do capital,faz com que alianças entre esquerdas sejam feitas em torno de processos eleitorais.

A unidade não existe em torno de programas construídos pelas bases sociais.Isto é histórico e as razões estão centradas em torno do desejo de conciliar interesses de classes incompatíveis.

A História,inclusive a recente,mostra o quão irresponsáveis são as ideias que preconizam a "unidade das esquerdas" a qualquer custo.

O argumento reformista é de que devemos assegurar direitos históricos vilipendiados pelo radicalismo capitalista.Este argumento soa como estaca nos corações dos maltratados pelo sistema.

A Razão histórica é perdida diante de ataques cruéis aos trabalhadores.A História nos confirma que o jogo democrático é viciado,que as instituições do Estado burguês se voltam para a garantia da manutenção da ordem excludente e concentradora.É certo também,que no jogo democrático as conquistas sociais permitiram avanços,e que cada espaço deve ser disputado com todas as forças.Claro que quem tem fome tem pressa,mas as barrigas saciadas tem sonhos de saciar novas fomes,geralmente associadas ao consumo e à ascensão social.

É preciso que as bandeiras das utopias sejam hasteadas de novo.

A descrença na democracia é produto ,dentre tantos outros fatores ,ao fato de que trabalhadores não conseguem discernir aonde estão os "seus",cada vez mais envolvidos com opressores.

Via de regra,abandonamos programas de enfrentamento para buscar setores de uma suposta burguesia "mais humana".

Lembremos que as conquistas sociais são resultados de duras lutas sociais que empurraram a instituições democrático-liberais a ceder dedos para não perder as mãos.

Se 2018 é logo ali,perdemos tempo precioso de um século XXI onde se acreditou em corações de proprietários sensíveis à barbárie de seu sistema.

Setores da esquerda socialista e da esquerda liberal são cachorros girando em torno do rabo,não importa o quanto os erros recentes provocaram danos aterradores aos mais pobres.

Nos tornamos fragmentos de uma pós-modernidade que recortou nossos sonhos em lutas específicas importantes como o antiracismo e muitas outras lutas, ou ao afirmar "espaços de fala" e "empoderamentos".Perdemos o centro da luta contra opressores.Os próprios liberais que criaram os direitos humanos nos empurraram as lutas específicas que sobrecarregam nossas agendas.

É necessário que associemos de novo nossos ideais libertários,afirmativos de direitos e até "compensatórios",mas que mais uma vez não percamos de vista que liberais-sensíveis se apoiam até nos monstros fascistas quando seus edifícios econômicos estão desmoronando.

A História é pedagógica e nos mostra e reafirma que as escolhas estão cada vez mais esclarecidas: "Socialismo ou barbárie".

03 outubro 2017

A vida como obra de arte,a censura como morte.


A arte livre viola subjetividades, garante o debate sobre a cultura e a moral, desdenha do que foi naturalizado e banalizado.

Seja qual for o tipo de arte, os juízos de valor são submetidos a julgamento.

O caráter subversivo da arte não transforma sociedades, mas forja pessoas aptas para o pensamento autônomo e a fruição de subjetividades. A Arte impede o servilismo e a subserviência, liberta instintos vitais-criativos, promove o tensionamento com o mundo visto sob a ótica da Razão instrumental e cientificista.
São diversas as tentativas históricas de submissão da arte ao pobre moralismo religioso, às estruturas ideológicas dominantes, aos malfeitores dirigentes políticos que representam a aberração de um capitalismo que mata objetivamente e cria símbolos de morte em vida.Sistema este que condena bilhões à fome, condena à frustrações pessoais por não inclusão, ou a não obtenção de status sociais, constrói signos de submissão à ordem injusta estabelecida.

A política é o meio de libertação da opressão.Não a política institucional do liberalismo,mas a política que movimenta multidões para arrancarem seus grilhões.

A crise ética pós moderna que enfrentamos é resultado também do sufocamento da liberdade de criação e negação da apropriação da cultura pelos marginalizados,e isso é de responsabilidade da política liberal-capitalista,não culpa da arte.

Arte e Política são formas humanas de emancipação,de superação das explicações místicas que condenaram a humanidade à cega obediência do oportunismo dos "Donos do poder" econômico, de crítica aos tradicionalismos culturais(diferente de tradições culturais) que são ferramentas de reprodução de falsa consciência da realidade e manutenção da ordem perversa e desigual.

Lembro que mesmo o "realismo socialista" stalinista quisera submeter a arte livre ao rótulo de "mero desvio pequeno burguês", que recebeu resposta a altura de Breton e Trotski("Manifesto do surrealismo,por uma arte revolucionária e independente").
A arte em espaços privados possuem seus mecanismos regulatórios(as vezes não suficientes) para evitar a exposição de crianças.

O que dizer sobre os meios de comunicação de massa que expõem a obscenidade da farsa de um sistema que mata simbolicamente e concretamente?

A arte subverte a ordem  e atinge a moral e ética burguesas. Controles e patrulhas ideológicas(lembrando das personagens de Chico Buarque, onde os tribunais das  redes sociais confundem o "eu lírico" com o autor) submetem às consciências às lógicas empobrecedoras da consciência.
A arte livre é revolucionária, a barbárie tem outro nome: indústria cultural capitalista.

15 julho 2017

Público e privado,a "casa e a rua".

"Lei autoriza que moradores de vias com cancelas impeçam a entrada de carros e pessoas.Um dos artigos do texto prevê que acesso poderá ser proibido das 22h às 7h".

Lei municipal que pretende impedir a circulação de pessoas às ruas com cancelas,algo que tem sido cada vez mais comum no subúrbio do Rio de Janeiro é mais um atentado ao estado de direito.

Desta vez no varejo,este novo golpe revela a insanidade das classes médias que abandonam a luta por direitos e privatiza a proteção à propriedade particular.

Estimulados por  vereadores e deputados do RJ que tratam historicamente a política como ato patrimonialista,com seus "currais" eleitorais,exploram o medo para a obtenção de votos.Vemos isso a nível nacional,com protofascistas que exploram o temor à violência para obtenção de vantagens eleitorais.Uma visão curta da política que nos remete ao "coronelismo" ,com acordos de "chefes locais" com governos centrais para que em troca da conivência com políticas no âmbito federal,tem caminhos abertos(coronéis locais) para produzir embustes em seus currais eleitorais.

A perda de credibilidade das instituições,a falência da democracia representativa,a privatização do Estado e das políticas públicas em benefício dos proprietários são o que movem estes "toques de recolher" que atingem em cheio os mais pobres em seu livre direito de utilização dos espaços públicos.

Tal como milícias,determinam a ordem social segundo seus critérios e vontades privadas em detrimento dos sem voz e sem capacidade de organização política.

Tal como as polícias militares que julgam e executam à revelia da lei promovendo o holocausto na favela e periferia.

A vereadora que propõe tal aberração jurídica e política me lembra Montesquieu que atribuía a desorganização da democracia ao desejo da participação popular de ir além do voto.

Segundo o advogado advogado Luiz Paulo Viveiros esta lei representa um retrocesso histórico; "um retorno aos tempos do Vidigal (Miguel Nunes Vidigal, militar brasileiro), que foi chefe de polícia do Império e dizia assim: "Quem é de dentro, dentro, quem é de fora, fora!". Porque quem fosse pego na rua depois das 21h era recolhido."

Assim como abandonou a luta pela escola pública e pela saúde pública,"nossa" classe média faz isto com a segurança pública,arrota sua postura de proprietário,se pensa como burguês,odeia sua condição original de classe popular,se orgulha das suas conquistas no consumo abrindo mão de lutar por direitos para obter privilégios.

O antropólogo Roberto Damatta fala na "cidadania relacional" como característica brasileira,o abandono das lutas por conquistas de direitos em benefício da criação de "teias de relações pessoais" que lhe privilegiem no acesso aos bens públicos.Acrescentaria,que esta cultura do "jeitinho" e do "sabe com que está falando?",do "pra quem quer levar vantagem em tudo" é um produto histórico,de uma ausência do Estado brasileiro que forjou uma forma de "cidadania" do privilégio pessoal.

Não tenham dúvidas,esta classe média que quer se "encastelar" é a mesma que se arvora contra políticas públicas como "bolsa família" e "cotas raciais".

Esta classe média,pouco ou mal escolarizada,que ascendeu socialmente sem o apreço à cultura, alheio ao valor da alteridade é presa fácil aos profissionais da política oportunistas e sem caráter moral.

Por menos "cancelas" e muros,por mais pontes que religuem a rua como espaço público de encontro e solidariedade e consciência de que a política é ferramenta do bem comum e não canal de viabilização da vontade de proprietários.

03 junho 2017

PÓS MODERNIDADE

Fique atento!As velhas formas de dominação se travestem como novas.

O mundo fragmentado,efêmero apresenta o presente sem História,sem passado e sem futuro,apresenta o "agora" como única maneira de viver.

As lutas sociais perderam sentindo de transformação global e  o novo só pode permitir a "inclusão" a um mundo onde a perspectiva permitida é o consumo.

O pós moderno,que abandona a História e a mudança é a velha proposta conservadora.Com cara de novo,eu luto pela inclusão,eu afirmo a beleza da diversidade e esqueço que o diverso e o plural,ainda que belos,estão excluídos da festa da pujança e da abundância capitalista.

A pós modernidade petrifica e congela o momento,eterniza a pobreza e a exploração do Homem pelo Homem.

Mas que beleza,posso em ato libertário defender os direitos da mulher,do povo originário e do negro,desde que estes continuem a existir em sua condição de classe,subordinada economicamente.

Finalmente livre para levantar minha bandeira fragmentada !
Se a História não existe,se o futuro e o passado já não me servem,me "emancipo" culturalmente sem me emancipar economicamente.

E aí o pós moderno é somente armadilha,onde incautos levantam-se contra as opressões sem origens econômicas,pois é tudo uma questão cultural,moral ,e nada poderá conter meu desejo de liberdade,desde que não conteste a propriedade e o capital e suas expressões subjetivas e mesquinhas.

O presente que encerra o ensinamento do passado e a perspectiva de um futuro realmente livre das tutelas  de dominação de classe.

"Deixe a vida me levar,vida leva eu",do "pagodinho",expressão pós moderna do samba,que supera a essência de denúncia da cultura excludente desta forma de cultura popular,é um símbolo desta velha forma de dominação e controle.

"Não sou eu quem me navega,quem me navega é o mar".
O "tradicionalismo" se impõe como ideologia e apaga traços das tradições que subvertem a ordem.
"Espíritos do passado que oprimem o presente", apresentando o velho com suas sofisticadas formas de garantia da ordem social."Pós verdade","pós industrial",pós modernidade.. e todos os "pós" apagam as lutas de superação da sociedade de classes.

Se a modernidade está superada,todas a formas de questionamento a Ela também devem ser enterradas "em pé, para não ocupar espaço".

A "sociedade do conhecimento" outorga o poder e não mais a posse do capital.Basta que passemos o tempo estudando para que sejamos "empoderados".A academia encastelada agradece,os intelectuais estavam cansados de seu papel de agente transformador, e agora a universidade glorifica o piedoso mercado que os reconhece e os financia."E o amor,será eterno novamente".

As causas do racismo não se apresentam mais como ideologia de controle social,não mais como forma superestrutural  ,expressão das relações materiais injustas.

Aceito o apassivamento na luta cultural e política e esqueço suas origens,a luta de classes passa a ser algo do passado,do "velho",do esgotado esforço da humanidade de se livrar daqueles que detém o controle das antigas formas de produção.

É o velho como novo.A subversão civilizada,padronizada,o consenso entre oprimidos e opressores de que o que está dado é definitivo e que apenas precisamos corrigir desacertos desta forma civilizatória ,que pelo discurso pós moderno,apresenta a democracia liberal como fim em si mesma.Nada a fazer se não aceitar e se regozijar  com cada direito não perdido,louvar a dominação econômica por esta permissão de "liberdade" .

O conservador,a manutenção da ordem econômica vale como moeda de troca por essa liberdade consentida.As novelas televisivas já mostram o negro como patrão,e com direito a patrocínio de empresas que se locupletam com trabalho escravo.Mas que avanço!A publicidade é a nova arte soterrando a imaginação utópica e criadora.

As velhas formas e suas (pós)modernas roupagens vestirão novas gerações e controlarão os ímpetos juvenis revolucionários que devem ficar no passado.

O "empreendedorismo" é a palavra de ordem,que significa,"se vire como puder", porque o Estado não mais lhe proverá “paternalmente”.

A globalização econômica,ou "globalitarismo" é o fim da História,aceite de bom grado e lute por ascender de classe.É a única forma emancipatória.Esta é a mensagem definitiva aos que insistem com "classes operárias" revolucionárias,que homenageio com minha camisa do "Guevara",símbolo do passado,"promovido" à folclore,forma cultural de um passado estático que não mais influencia.

Nos domingos em família visitaremos os "museus de grandes novidades" e  olharemos o passado de lutas com olhos de piedade, aqueles ingênuos comunistas.

14 maio 2017

Por uma nova abolição!


O Direito é ideologia.É representação da vontade da classe dominante,sempre foi.
Se a justiça de hoje deixa abismada a sociedade brasileira,por causa da perseguição à Lula, é preciso que lembremos da História do Brasil,onde o cárcere é dado como espaço "privilegiado"para negros e pobres.
Se a justiça é fundamental para a democracia,como dizem inúmeros lutadores pela garantia da dignidade dos mais pobres,há que se lembrar que a perseguição ao PT(que não voto desde 1989!) é somente um detalhe de uma história que identifica os espaços dos negros e brancos no país.
Ao olharmos para a diferença fenotípica entre congresso e "Bangu 1", veremos o racismo estrutural,cruel e mesquinho de uma classe dominante que nunca se tornou ao menos iluminista.
Essa justiça garante a manutenção de pobres na pobreza,quando historicamente vê a educação pública ser destruída todos os dias,num crescente assustador.A pobreza que tem cor neste país,deve denunciar que é falsa a neutralidade do poder judiciário que garante uma suposta democracia que nunca permitiu igualdade econômica.
A igualdade jurídica esconde a desigualdade de fato.
Defendamos a democracia como conquista das lutas do povo brasileiro,mas nunca nos enganemos que ela é construída sob os princípios da exclusão.A última ditadura de nossa história se aplicou quando o princípio de justiça social avançou,e se mostrou um grande perigo para o conforto e o lucro das classes dominantes.
Se a justiça brasileira virou veículo dos projetos neoliberais,se a justiça brasileira apazigua os corações dos brancos e da classe média,ela movimenta seu martelo sem pena em direção aos excluídos da cidadania e da educação de qualidade.
A justiça no Brasil está no gatilho das polícias militares,que julga e executa a sentença imediatamente,de acordo com a cor da pele e o CEP em que age o Estado.
Em tempos onde a "reforma" trabalhista pode fazer com que o brasileiro do campo possa trabalhar por comida e moradia,estarão estes novos Senhores da Casa Grande viabilizando a escravidão.
Precisamos de uma nova Abolição!!

01 abril 2017

Não roubem minha razão.

O PT é parte do golpe que praticaram contra ele.Levou ao poder o que há de mais podre.Tudo bem(é,mais ou menos.Estamos mal.).
Fazendo a autocrítica de que o modelo de conciliação de classes pode,como fez, levar a um desastre ainda maior,poderia produzir de novo a politização das ruas.
No entanto,a crença em um 2018 redivivo ,com um programa igual ao anterior,é tampa para o caixão.
Se o "Lula roubou seu coração",admito,ele já fez isto comigo isto em 1989.Mas não fez isso nas décadas seguintes.O que ele não pode, é roubar sua razão.

Desmilitarizar consciências.

Diga que você não acha normal que uma menina  seja assassinada dentro da escola por agentes do Estado.

Diga pra mim,que a inútil política de enfrentamento com o tráfico mata e criminaliza a população pobre e negra e também mata policiais,que no dito popular não passam de "buchas" para o Estado assassino ,onde seus dirigentes se locupletam com o tráfico através da corrupção, que executa  pobres por não querer acabar com a pobreza.

Diga pra mim que a farda é mero pretexto de uma milícia oficial que cumpre o papel de manutenção da ordem excludente.

Diga pra mim,que a violência contra a classe média serve pra alimentar discursos de ódio contra pobres e fortalecer a eleição de oportunistas e fascistas,mas a violência contra a favela e periferias é somente número de estatísticas.

Diga pra mim que você que frequenta templos e igrejas, reza para que o gatilho do Estado e da PM não se mova tanto contra tantos.

Diga pra mim,que você concorda que a violência começa no simbolismo de uma educação pública destruída pelo Estado todos os dias.

Diga pra mim,que a classe média que apoia golpes e desregulação de direitos está arrependida pela merda que fez e pela merda que é.

Diga pra mim que você não acha mesmo que desmilitarizar as PMs é acabar com a polícia,e que o militar só vê inimigos e não cidadãos que lhes dão o sustento.

Diga pra mim,eu preciso de um alento para o meu cansaço.

19 março 2017

Neutralidade

A neutralidade é o cobertor que protege a mediocridade e o "status quo".Em todas as áreas,em toda a superestrutura cultural,o apelo à neutralidade é impossível.

Mais do que todas as razões que apelam ao discurso imparcial,a neutralidade é ideologia,falsificando as raízes dos problemas,ratificando a ordem social injusta e excludente.

Qualquer ser social possui suas origens de classe,suas formações culturais,pois está inserido em sociedade.

Os espaços de fala são registros das opções e formações ,e mais importante,são expressões de seu posicionamento político.

O ato político é o ato de poder,entendendo poder como a capacidade  de influenciar  vontades e desejos,de garantir a proximidade do que não é perecível,de exercício de suas capacidades para angariar vantagens ou garantir seu status,suas posições hegemônicas e a continuidade ou transformação de seus papéis sociais.

O "neutro" só pode existir onde não esteja inserido em meio social ou cultural.
O campo da cultura e das relações sociais é o campo da inexistência do imparcial.
Qualquer discurso refere-se à interesses e nenhum interesse é neutro,a ponto de não interferir no outro ou no meio em vivemos.

O cobertor que cobre o "neutro" apazigua o conflito e mantém tudo da forma que está.

O cobertor da neutralidade autentica as vontades hegemônicas,garantido e conservando as verdades que prevalecem.

Um dos conceitos de cultura se define pela ação do homem pela transformação de bens naturais em bens culturais,materiais e imateriais,construindo tradições que cimentam a continuidade social.Mas também produzem tradicionalismos,que são ideologias de manutenção dos postos de poder.

Não há nada no mundo da cultura que não possua relação direta com interesses.

A neutralidade é a maior força de manutenção da ordem social,garante ares de naturalização das injustiças e preconceitos,banaliza e encobre o que há de errado sob o ponto de vista ético,ou ao acúmulo de valores que se apresentam pelas culturas como referências.

A média do pensamento do senso comum,conformado e domesticado, acredita na neutralidade por ter incorporado as normas que introjetou  pelas ações ideológicas que conformam as instituições sociais,que não lhe beneficiam,que inclusive lhe prejudicam.A média do pensamento do senso comum é a mediocridade ,e esta não produz mudanças sociais e legitima os espúrios valores que sustentam a injustiça e a exploração social.

20 janeiro 2017

Sobre grades e liberdades.

Em cada cárcere está presa a essência da humanidade.

Ocupados com suas falseadas visões de mundo,ordenada pela tirania do mercado,praguejam pela morte e pela tortura,como quem pede um sonho na padaria.

Em cada cárcere estão nossas formas de vida,nossas normas e culturas e todas as frustrações que o sistema produz.

Cada currículo escolar ou escola em destruição, é matéria prima para futuras grades.

E cada um com seus desejos de consumo e necessidades não alcançadas pregamos que todo sofrimento deva ser pouco para aqueles fracassados que violaram as regras.Depois me recolho às orações,pedindo pelo bem e pelo direito de continuar livre em frente ao telejornal.Isso não é da "minha conta"!

Nos Shopping Centers finjo exercer a minha liberdade entre vitrines e sonhos de consumo.

E comemoro a liberdade em frente à TV e publicando lindas fotos nas redes sociais.

E cada um que se acredita livre,pode por algum tempo,se sentir vitorioso por não estar no cárcere e comemorar a cada corpo caído sua "liberdade" consentida, por ser um obediente em sua vida de eterna infância.

Mas o cárcere não é para brancos,poderosos e corruptos.Cada grilhão que procure seu negro ou favelado.

Em cada encarcerado há uma tumba de uma sociedade que se alimenta da punição,por não haver disponível outro nutriente para eliminar suas dores produzidas pelo sistema.

Cada encarcerado é produto da alienação de todos,é produto da conivência com o mal feito e mal vivido,é resultado da tolerância com a atual Idade Média,vestida com cores de século XXI.

Em cada cárcere, jaz cada um de nós.